segunda-feira, 19 de março de 2012

OPERAÇÃO DE GUERRA PARA GARANTIR A PAZ


GAÚCHOS NO RIO. Uma operação de guerra para garantir a paz. Cerca de 800 militares do RS trabalham para manter a tranquilidade de morros pacificados - LUÍS EDUARDO SILVA | RIO DE JANEIRO, zero hora 19/03/2012

Enquanto a maioria das pessoas que vai ao Rio busca sossego e cenários paradisíacos, os 1,6 mil militares – metade deles gaúchos – trabalham para garantir o sossego de moradores em cenários diferentes. A operação em dois dos maiores complexos de favelas da América Latina é de guerra, mas o objetivo é garantir a paz.

Foram milhares de patrulhamentos desde a chegada dos militares, em 2010. Mas cada subida do morro é diferente e, por isso, orientações são repassadas todos os dias. Os militares estão organizados em duas bases, a da Coca-Cola, uma antiga fábrica de refrigerantes no morro do Alemão, e a base da Penha, onde funcionava um parque.

A formação das tropas varia muito, dependendo do trabalho. Por vezes, são quatro motocicletas, dois Marruás – tipo de caminhão usado para carregar militares e com força suficiente para encarar as ruas íngremes dos morros – e mais um carro blindado. Em outras, apenas os Marruás escoltados por motocicletas fazem o trabalho.

A subida do morro é tensa. Sob o olhar desconfiado dos moradores, os militares percorrem ruas estreitas, entre casebres, becos e ruelas. Muitas vezes, é preciso passar pela calçada. A rua não foi feita para receber carros, não há espaço para a viatura.

– Todo o planejamento é feito para garantir a paz para a população. Estamos na rua o tempo todo, fazemos patrulhamento dia e noite para manter a paz. Essa é nossa missão aqui – diz o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, comandante da Força de Ocupação.

Os dois complexos estão pacificados, mas isso não significa que o tráfico tenha sido extinto do morro. Em uma das patrulhas, em um beco, os militares encontram embalagens plásticas com etiquetas coladas. Nelas, a inscrição com o nome da facção criminosa, o preço e o tipo de droga vendida.

– Sabemos que o tráfico permanece, mas não é aquela coisa ostensiva como antes. Você não vê mais o traficante na rua, vendendo. O comércio de drogas é para uso da própria comunidade. Gente de fora dificilmente vem buscar drogas aqui no morro – afirma o major Tiago Kanomata, que e costuma registrar as incursões nos morros com uma câmera acoplada ao capacete.

ENTREVISTA - “Hoje, a comunidade tem livre trânsito”. Adriano Pereira Júnior, general de Exército - DIÁRIO DE SANTA MARIA, ZERO HORA.

O homem que comandou a ocupação dos complexos da Penha e do Alemão – general de Exército, de quatro estrelas, Adriano Pereira Júnior, comandante Militar do Leste – tem orgulho de ser um dos responsáveis pela paz nos morros cariocas. Gaúcho de Rio Grande, ele admite que esse é o maior desafio em 40 anos de Exército:

Diário de Santa Maria – Como foi a ocupação dos dois complexos?

General Adriano Pereira Júnior – A ordem que chegou era de fazer o cerco. Não entraríamos no complexo, simplesmente ocupamos esse perímetro para dar segurança aos policiais que iriam adentrar na área. Foi um dia histórico para a segurança no Rio. A população aplaudiu porque saiu do domínio dos traficantes. É uma operação altamente sensível, porque há homens armados dos dois lados, juntos com a população. Tem de ser uma operação muito bem planejada.

Diário – Como o trabalho pode ser avaliado?

General Adriano – Todas as crianças, no ano passado, foram às aulas nos horários normais e voltaram para casa no final da aula. As escolas eram fechadas, as áreas eram interrompidas pelo tiroteio. Hoje, a comunidade tem livre trânsito. Você vê as crianças na rua brincando, o comércio local está mais forte, grandes cadeias de lojas já estão se deslocando e se instalando de novo naquela área.

Diário – Qual é o desafio a partir de agora?

General Adriano – A nossa saída de lá vai ser gradativa, vamos ser substituídos pela Polícia Militar e vão ser instaladas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Está sendo feito um planejamento para que a tranquilidade da população seja mantida.

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