quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

ASSALTO E ROUBO DE ARMA DA SEGURANÇA DE RESIDÊNCIA PRESIDENCIAL

Do G1 DF 11/12/2014 06h24 - Atualizado em 11/12/2014 10h28

Exército apura sumiço de arma de posto da Granja do Torto. Militar diz que três homens o abordaram e levaram espingarda calibre 12. Ele voltou a pé; local é uma das residências da Presidência da República.






O Exército investiga o sumiço de uma arma de um soldado do posto de sentinela de uma das residências oficiais da Presidência da República, na Granja do Torto. Em depoimento, o militar disse à polícia que foi surpreendido por três homens encapuzados e, então, levado e abandonado em uma área do Lago Oeste na madrugada de quarta-feira (10). Ele portava uma espingarda calibre 12.



Granja do Torto, uma das residências oficiais da
Presidência da República
(Foto: Glauco Araújo/G1)

A abordagem teria ocorrido às 3h30. O homem diz que ouviu um barulho em um mato e, quando foi verificar a situação, foi rendido por um dos ladrões. Os outros dois teriam aparecido em seguida, nas costas dele.

Ainda de acordo com o depoimento, o militar disse que foi liberado às 5h perto de duas torres de telecomunicação conseguiu voltar a pé para o posto de guarda. Lá, comunicou os superiores a respeito do crime. Ele afirma que não foi agredido. O caso é investigado pela Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos.

De acordo com a Presidência da República, a Granja do Torto tem 37 hectares. O nome está relacionado à localização, na Fazenda do Riacho Torto. Quando ocupou a Presidência da República, de 1979 a 1985, o general João Figueiredo residiu na Granja, onde criava cavalos.

Durante a transição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva para o da presidente Dilma Rousseff, entre 2010 e 2011, o local foi utilizado como um dos gabinetes de transição, onde havia reuniões entre representantes do então governo e da atual gestão.

Em julho deste ano, o presidente de Cuba, Raúl Castro, se hospedou a pedido na Granja do Torto. A assessoria da Presidência disse na época que é "praxe” nas relações diplomáticas em todo o mundo disponibilizar hospedagem aos chefes de Estado em visita ao país.

Palácio da Alvorada

A presidente Dilma Rousseff mora, na companhia da mãe e de uma tia, na outra residência oficial que fica em Brasília, o Palácio da Alvorada. Ela ficou na Granja do Torto até assumir o cargo. O G1 procurou a Presidência da República para comentar o assunto, mas não obteve retorno até a última publicação desta reportagem.

O Palácio da Alvorada foi projetado por Oscar Niemeyer e inaugurado em 1958. O primeiro andar constitui a parte residencial do do prédio, com quatro suítes e salas íntimas. A parte térrea é usada para reuniões da Presidência. No subsolo fica toda a parte da administração do Palácio, além da sala de jogos e de um auditório para 30 pessoas.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

SE QUISER MATO UM SOLDADO POR DIA

REVISTA VEJA, Edição 2403 de 10dez2014.


“Se quiser, mato um soldado por dia”, diz traficante da Maré. Um cabo do Exército, veterano da missão no Haiti, foi morto a tiros na favela carioca

Leslie Leitão





A TROPA ACUADA - Sepultamento do cabo Mikami: os militares estão em desvantagem nos domínios do tráfico no Complexo da Maré (Rafa Von Zuben/Código 19/Estadão Conteúdo)

Faltavam cinco dias para o cabo do Exército Brasileiro Michel Augusto Mikami, 21 anos, encerrar a terceira campanha real de sua curta carreira militar. A primeira foi a missão de paz da Organização das Nações Unidas no Haiti. E depois a Copa do Mundo. O plano de Mikami era voltar para casa, em Vinhedo, cidade vizinha a Campinas, no interior de São Paulo. Como parte da Força de Pacificação formada por 3 000 militares da Marinha e do Exército, Mikami patrulhava as vielas do Complexo da Maré, aglomerado de favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro. A missão da tropa federal é apoiar a polícia do Rio no que se chamou apressada e exageradamente de “retomada do território do tráfico”. Na tarde da sexta-feira 28, em meio a um tiroteio com os bandidos donos do “território retomado”, o cabo Mikami foi atingido por uma bala de fuzil na cabeça, que o matou instantaneamente. Desde a ação para debelar a guerrilha comunista no Araguaia, em 1972, as Forças Armadas do Brasil não tinham um soldado morto em combate em território brasileiro. O cabo, enterrado com honras militares, é, porém, apenas mais um número da macabra estatística do combate ao crime no Rio de Janeiro. O ano de 2014 ainda não acabou e o número de policiais mortos a tiros por bandidos no Rio de Janeiro chegou a 106 na semana passada. Uma cifra assustadora quando comparada à de outros países. Sim, porque não há base de comparação com cidades. Em Nova York, neste ano, nem um único policial morreu assassinado a tiros por bandidos. Zero. Em todos os Estados Unidos, com quase uma vez e meia a população brasileira, tombaram baleados por bandidos 46 policiais. Menos da metade do que os bandidos mataram em 2014 só no Rio de Janeiro. Todos os estados americanos têm legislação que pune com mais severidade o cop killer, ou assassino de policial. Em Nova York, o cop killer, não importa a circunstância do crime, é enquadrado automaticamente na categoria mais severa do código penal, o assassinato em primeiro grau. O condenado nessa categoria não tem acesso a benefícios jurídicos, como a diminuição de pena por bom comportamento.

VEJA foi ao Complexo da Maré na quarta-feira passada, cinco dias depois da morte do cabo Mikami. O “território retomado”, a “comunidade pacificada”, da propaganda oficial, vivia sua rotina esquizofrênica. As ruas eram patrulhadas por jovens armados com pistolas e radiocomunicadores. A menos de 100 metros de um posto do Exército guarnecido com seis soldados, o carro da equipe de VEJA foi parado pelos traficantes e vistoriado. O gerente do grupo concordou em falar, sem se identificar, dentro de um bar. Ali, tranquilo, deu uma espantosa explicação para a coabitação de militares com bandidos em um mesmo território: os criminosos têm a vantagem por estarem bem armados e conhecerem melhor a região. A morte do cabo Mikami foi descrita por ele como um evento normal, incapaz de perturbar a “paz” do lugar: “Se a gente quisesse, matava um soldado por dia”.



O plano de pacificação que começou em 2008 no Rio de Janeiro teve sucessos iniciais estrondosos com favelas tomadas sem o disparo de um único tiro. No ponto mais alto dos morros, os policiais de elite hasteavam bandeiras do Brasil, do Rio de Janeiro e de suas corporações. Mas, sem que se desse a efetiva ocupação do território pelo estado, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) instaladas nas favelas foram sendo isoladas até chegar à situação atual de monumentos ao fracasso de um plano que parecia vitorioso. Não é raro a guarnição de uma UPP pedir a intervenção de unidades de elite para conseguir sair de sua base. Só no conjunto de favelas do Alemão foram registradas quase duas centenas de tiroteios, escaramuças inconsequentes entre policiais e bandidos, sem que nenhum lado se declarasse vencedor.

Na famosa Favela da Rocinha, a presença constante de 700 policiais não consegue impor a ordem, tampouco impedir o tráfico de drogas e os crimes violentos associados a ele. Rajadas de fuzis automáticos cortam o céu noturno do morro que foi durante algum tempo a vitrine da política de pacificação na cidade. Entre os 267 policiais baleados neste ano, 79 foram feridos em combates em áreas de UPPs, onde oito morreram.

É melancólico constatar que sob o rótulo de “pacificação” esteja ocorrendo mesmo uma guerra. Além dos policiais mortos, perderam a vida no Rio de Janeiro até outubro 481 pessoas em circunstâncias oficialmente registradas em “autos de resistência”. Esse termo deveria descrever apenas situação em que, esgotadas todas as outras opções, a polícia recorre às armas para deter um criminoso. Infelizmente, no Rio de Janeiro, o “auto de resistência” pode ser mesmo a clássica “resistência seguida de morte”, mas serve também para encobrir ações de criminosos de farda. A boa notícia desse lado da trincheira é que as mortes de civis em operações policiais na cidade têm diminuído ano a ano: em 2007, antes do início das UPPs, foram 1 330. A má é que mais policiais estão sendo assassinados. “A verdade é que a polícia está matando menos, mas seus homens continuam morrendo como moscas”, diz Richard Ybars, antropólogo e policial civil.

A lógica mais simples levanta a seguinte questão quando alguém se detém diante da resistência do tráfico no Rio de Janeiro: se os morros não produzem drogas nem têm fábricas de armas pesadas, não seria o caso de, em vez de correr em vão atrás do varejo, impedir no atacado o fornecimento de cocaína e fuzis AK-47 aos bandidos? Raramente se consegue uma resposta satisfatória a essa pergunta. Uma fresta de luz, porém, entra no debate quando se analisam as favelas do Complexo da Maré. Com seus 130 000 habitantes, a Maré tem localização geográfica estratégica. Fica próxima do Aeroporto Internacional Tom Jobim e tem saída para o mar. A área é contígua às duas principais vias de trânsito da cidade, a Linha Vermelha e a Avenida Brasil. “A Maré é muito importante na geopolítica do tráfico, porque quase tudo passa por ela. Para os criminosos, é essencial comandá-la”, diz o sociólogo Cláudio Beato, especialista em segurança pública. Com sua óbvia importância tanto para o atacado quanto para o varejo do comércio ilegal de drogas, o Complexo da Maré deveria merecer atenção especial das autoridades. A região é policiada por soldados jovens vindos de diversas partes do Brasil e treinados — quando são — para outro tipo de batalha. “Essa guerra não é nossa”, disse um deles a VEJA. Não é mesmo. O militar das Forças Armadas é treinado para matar o inimigo. Suas armas são canhões, bazucas, carros de combate, jatos e navios de guerra. Reduzidas à função policial, as Forças Armadas correm o risco de ser desmoralizadas por ter sido colocadas em uma guerra que não podem vencer.


Brendan McDermid/Reuters
AÇÃO E REAÇÃO - Patrulhamento em Nova York, onde os assassinos de policiais recebem pena máxima

​ O despreparo é uma queixa comum também em relação às forças que operam nas 38 UPPs do Rio — um contingente incrementado ao ritmo de até 500 homens por mês, formados a toque de caixa para cumprir a meta de pôr a segurança nas favelas nas mãos de uma tropa nova, livre de vícios. “A ânsia política de colocar novas turmas nos morros prejudica a formação”, afirma Paulo Storani, ex-capitão do Bope. A tropa das UPPs é de fato majoritariamente nova, mas nem por isso vícios como corrupção, desvios e apatia foram extirpados. “A intenção era ‘uppeizar’ a PM, mas o que se vê é a ‘peemização’ das UPPs”, diz Beato.

Entre setembro e outubro, duas operações do Ministério Público contra a corrupção na polícia puseram na cadeia mais de quarenta homens. Os promotores investigam ainda uma fraude milionária em unidades de saúde da corporação que deve levar à prisão de mais oficiais. Em consequência dessas denúncias, o comando da PM foi trocado. É um movimento positivo, mas será preciso bem mais do que operações episódicas para reverter a derrocada da segurança no Rio e impedir que as UPPs sejam lembradas apenas como mais uma das tantas utopias massacradas pela realidade.





domingo, 29 de junho de 2014

EXÉRCITO AJUDA DESALOJADOS PELO RIO URUGUAI


Em São Borja, já passa de 1,2 mil o número de desabrigados

por Humberto Trezzi, ZERO HORA 29/06/2014 | 09h55


Defesa Civil, Brigada Militar e exército trabalham para convencer famílias a deixar suas casasFoto: Adriana Franciosi / Agencia RBS


Difícil mesmo é convencer quem mora à beira do rio Uruguai que chegou a hora de sair de casa. Alguns sempre esperam mais um pouco, na tentativa de evitar o inevitável: o avanço das águas São Borja adentro.

Mande fotos e vídeos pelo Whatsapp da ZH: (51) 9667-4125

Desde sexta-feira a rotina dos integrantes da Defesa Civil Municipal de São Borja, formada por funcionários da prefeitura, tem sido essa. Agora reforçada por ajuda da dois pelotões da Brigada Militar de seis equipes do 2º Regimento de Cavalaria Mecanizada do Exército. Nesse município da Fronteira Oeste já passa de 1,2 mil o número de pessoas desabrigadas (que tiveram de ir a abrigos) ou desalojadas (que foram para casa de familiares). A enchente atinge três bairros.

Os 38 militares do Exército patrulham as áreas ribeirinhas em quatro caminhões e, quando encontram famílias relutantes em sair de casa, fazem um trabalho de convencimento. Na rua Pablo Neruda, que costeia o Uruguai e por isso uma das mais inundadas,Taís Galvão de Bastos, 15 anos, e Paula Rodrigues Ribas, 14, não queriam deixar para trás seus bichinhos de estimação: o gato Tigre (de Taís) e a coelha Bioncé (de Paula). Foram junto para o abrigo improvisado numa associação comunitária do bairro Porto do Angico.

Os militares enchem os caminhões (os 5 Ton, referência à capacidade de carga) com mobília e eletrodoméstico dos flagelados. Depois recomendam chavear a casa e levam as famílias aos quatro abrigos montados pela prefeitura.

Os bombeiros do município também percorrem o caudaloso Uruguai em canoas motorizadas. Vão de ponto em ponto, em busca de possíveis ilhados - gente que não saiu a tempo e foi isolada pelo rio. Até agora não encontraram isolados, apenas pessoas que relutavam em sair, mas tinham condições e foram convencidas.

O rio Uruguai está hoje com 14 metros acima do nível e, como a chuva não para, a convicção geral é que vai superar a marca da última grande cheia, ocorrida em 1998, que foi de 16 metros acima do nível.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

EXÉRCITO OCUPA PONTOS EM PORTO ALEGRE

ZERO HORA, 11/06/2014 | 14h34

Exército ocupa 11 pontos em Porto Alegre. Presença é para desestimular qualquer tentativa de agressão


Como parte da estratégia de segurança montada pelo centro de controle de defesa de área do Exército, 11 locais em Porto Alegre estão sendo ocupados por medida preventiva.

Ao todo, conforme o chefe de comunicação do Exército para a Copa, coronel Cunha, 22 estruturas estratégicas foram levantadas. Metade será ocupada e metade, monitorada. Na Capital, já podem ser vistos soldados no bairro Moinhos, entre o Parcão e o hotel Sheraton.

— As estruturas estão sendo ocupadas preventivamente para garantir o pleno funcionamento no período da Copa — disse.

De acordo com o militar, a presença de homens armados e fardados serve para desestimular qualquer tentativa de agressão contra a área.



terça-feira, 10 de junho de 2014

VÍRUS DO HAITI PARA SP

O ESTADO DE S. PAULO 09 Junho 2014 | 20h 09


FABIANA CAMBRICOLI

Seis soldados do Exército trazem vírus do Haiti para SP. Casos foram confirmados pela Secretaria Estadual de Saúde; semelhante à dengue, chikungunya causa dores no corpo



SÃO PAULO - Um vírus similar ao da dengue e também transmitido pelo mosquito Aedes aegypti foi identificado pela Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo em seis soldados do Exército brasileiro recém-chegados do Haiti, onde participavam de missão de paz. Eles foram infectados pelo chikungunya, comum no Sudeste Asiático e que há alguns meses tem se disseminado por ilhas do Caribe.

O Brasil nunca registrou casos autóctones da doença, ou seja, transmitidos em território nacional, mas é a segunda vez que o País tem casos importados de outras nações. Em 2010, três brasileiros foram infectados pela doença no Sudeste Asiático, dois deles de São Paulo e um do Rio, segundo o Ministério da Saúde

De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, os seis brasileiros infectados no Haiti chegaram ao País no dia 5 e passaram por exames no Instituto Adolfo Lutz que confirmaram a contaminação.

Após o diagnóstico, agentes da Superintendência de Controle de Endemias fizeram ações para matar larvas e mosquitos adultos nas instalações do Exército por onde os soldados passaram: o Hospital Militar de Área de São Paulo e o Batalhão de Logística do Exército, em Campinas, cidade que tem a maior epidemia de dengue do Estado.

De acordo com a secretaria, os soldados estão em observação e o estado de saúde deles é considerado bom e estável.

Sintomas. O vírus chikungunya tem sintomas parecidas aos da dengue, como febre, dores no corpo, nos olhos e nas articulações e manchas vermelhas no corpo. Não há forma hemorrágica da doença, mas ela pode deixar sequelas permanentes, como um quadro de artrite.

A doença também pode ser transmitida pelo mosquito Aedes albopictus, outro inseto transmissor da dengue presente no Brasil.

Assim como no caso da dengue, não há tratamento específico para a chikungunya, apenas medicamentos para minimizar os sintomas.

A assessoria de comunicação do Ministério da Defesa informou que, além dos seis casos já confirmados, outros quatro estão em investigação. Todos os soldados estão isolados.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

OPERAÇÃO MILITAR NO HAITI CUSTA 1,3 BILHÕES DE REAIS EM 10 ANOS



Militar brasileiro durante tomada de Cite Soleil, Porto Príncipe, em maio de 2006


BBC BRASIL, 01/06/2014


Luis Kawaguti Da BBC Brasil em São Paulo



A participação de tropas brasileiras na missão de paz do Haiti completa 10 anos neste domingo. A operação militar aumentou a importância do Brasil no cenário internacional e ajudou o Haiti em um período de inúmeras crises políticas e catástrofes naturais. Isso tudo a um custo aproximado de R$1,3 bilhão aos cofres nacionais.

Contudo, após uma década no terreno e alguns revezes – sendo o principal deles um terremoto de proporções catastróficas que deixou 300 mil mortos em 2010 – o Brasil e a comunidade internacional enfrentam no país uma fase de fadiga de esforços.

Esse desgaste não é causado por ações de insurgentes, como no início do processo, mas em grande parte por questões burocráticas, políticas e culturais relacionadas ao próprio Haiti, de acordo com analistas.

Ao mesmo tempo em que fornece apoio para a solução de uma crise política de grandes proporções – há cerca de dois anos o Haiti tenta sem sucesso eleger um novo Parlamento – e lida com uma epidemia de cólera, a ONU estuda maneiras de começar a se retirar do país em 2016.

Até o fim de 2013, a operação militar brasileira no país custou R$ 2,1 bilhões. Segundo o Ministério da Defesa, 35% desse valor foi reembolsado pela ONU. Ao todo 30 mil militares passaram pela missão e 22 morreram - a maioria durante o terremoto de 2010.

Mas apesar das dificuldades, autoridades e especialistas avaliam que a missão tem sido positiva tanto para o Brasil quanto para o Haiti.
Haiti

Em linhas gerais, o cenário de segurança no Haiti foi estabilizado. Confrontos significativos entre rebeldes e capacetes azuis não ocorrem há sete anos e as estatísticas dos crimes comuns começaram a baixar no ano passado.

A estabilidade possibilitou ao Haiti realizar duas eleições presidenciais – conturbadas, porém livres – e trabalhar na reestruturação de sua força policial e também do sistema judiciário. Além disso, a presença militar abriu caminho para que ONGs internacionais oferecessem socorro a populações antes isoladas pela atuação de forças rebeldes.

"Em 2004 não se entrava em bairros como Cite Soleil e Bel Air. A parte de segurança melhorou bastante, hoje você anda a pé em lugares em que só se entrava dentro de blindados", disse o embaixador brasileiro Igor Kipman, que acompanhou toda a missão no país como responsável pela divisão de Caribe no Itamaraty e também chefiando a embaixada brasileira no país por três anos.

Mas essa melhora não significa que o país esteja totalmente calmo. A crise política e a ausência do Estado em determinados setores vêm deflagrando desde setembro do ano passado uma série de manifestações populares que por vezes se tornam violentas. Em muitas delas, os participantes pedem a queda do atual presidente Michel Martelly.

Após sofrer muitas baixas no terremoto, a polícia já está sendo reestruturada, mas apenas em 2016 deve ter condições de assumir a segurança no país sem a ajuda de tropas da ONU.

Na parte econômica, a existência da missão de paz como um todo tem injetado bilhões de dólares no Haiti. Somente após o terremoto de 2010 quase US$ 10 bilhões foram prometidos por países doadores para reconstruir a nação caribenha. Críticos disseram porém que uma parte considerável desse dinheiro não foi investida diretamente no país, mas na manutenção das estruturas de milhares de ONGs internacionais que operam no território.

Contudo, segundo Kipman, apenas a presença de militares e civis da Minustah (missão de paz no Haiti) no país - que compram produtos, alimentos, pagam aluguel e consomem serviços e entretenimento - injetou na economia cerca de US$ 8 bilhões na última década.


Além de tentar solucionar uma crise política de grandes proporções, a ONU lida também com uma epidemia de cólera

Na área de infra-estrutura, as três unidades de engenharia militar da Minustah - uma delas brasileira - asfaltaram grande quantidades de ruas, construíram inúmeros poços artesianos, desobstruíram canais e lançaram uma série de pontes sobre rios. Batalhões brasileiros e internacionais também realizaram ações sociais sistemáticas, que incluíram atendimento médico e odontológico, distribuição de suprimentos e de água.
Frustrações

Segundo o embaixador Kipman, a comunidade internacional lida hoje com um problema de "fadiga" na missão no Haiti. Parte disso está relacionado a uma herança cultural haitiana que faria certos segmentos da sociedade tenderem a rechaçar ações internacionais no país. "Essa foi uma marca que ficou na cultura do país desde a escravatura", afirmou o embaixador.

Com uma revolução escrava de grandes proporções, o Haiti foi a primeira nação americana a conquistar a independência do colonizador em 1804.

Os fatores político e burocrático também têm sido entraves - que dificultaram até iniciativas diplomáticas brasileiras. Em 2010, por exemplo, o presidente Lula prometeu a construção no país de quatro unidades médicas no modelo brasileiro UPA (Unidade de Pronto Atendimento). A primeira delas deveria ter ficado pronta no mesmo ano, mas só saiu do papel em 2014.

O governo brasileiro disse que uma verba de US$ 70 milhões (R$ 157 milhões) está disponível. Mas o governo haitiano teria tido dificuldade para encontrar locais para a construção das unidades, o que atrasou o processo.

Outro grande projeto que tramita sem data para conclusão é a construção de uma usina hidrelétrica na região central do país, que ajudaria a suprir o déficit de energia do Haiti e impulsionaria o desenvolvimento de indústrias.

O projeto da usina foi elaborado pelo Exército brasileiro a um custo de R$ 4 milhões. Mas nunca se tornou realidade devido entre outros fatores à falta de financiamento por parte de outras nações doadoras e devido a uma polêmica envolvendo uma comunidade nativa que teria que ser removida do local.
Brasil

A participação brasileira na Minustah não trouxe mudanças apenas para o Haiti, mas também para o Brasil. As mais significativas sem dúvida foram o surgimento de uma onda de imigrantes haitianos que passaram a entrar em território nacional desde 2010, o aumento do prestígio internacional do país e as melhorias relacionadas à capacitação das tropas brasileiras que passaram por Porto Príncipe nos últimos dez anos.

As remessas internacionais de dinheiro feitas ao Haiti por imigrantes vivendo no exterior sempre foram parte importante da economia haitiana. Historicamente os principais destinos da diáspora haitiana eram os Estados Unidos e a vizinha República Dominicana. Mas desde o grande terremoto de 2010 as condições no país se degradaram e o Brasil passou a figurar como país de destino.


Haitianos aguardam por trabalho em São Paulo. Desde 2010 o número de imigrantes haitianos vem crescendo no país

Naquele ano, apenas 39 haitianos entraram legalmente no Brasil. Mas desde então o número começou a subir rapidamente: 988 em 2011; 2.235 em 2012; 10.156 em 2013 e 4.294 até abril deste ano. Segundo a Polícia Federal, o número de legalizados passa hoje de 17.700.

De acordo com analistas, o contato com as tropas brasileiras e um discurso amigável de Brasília após o terremoto foram alguns dos principais fatores de atração.

Segundo o Capitão de Mar e Guerra Fernando José Afonso Ferreira de Sousa, do Ministério da Defesa, além do ganho de influência no cenário internacional, em termos militares e de proteção da soberania a participação em uma operação internacional de paz tem um efeito de dissuasão contra outras nações em cenário regional.

Além disso, segundo ele, a Minustah colaborou para uma melhoria na capacitação das Forças Armadas brasileiras, especialmente para participação em missões de paz.

De acordo com ele, a qualidade do militar brasileiro nesse tipo específico de missão já pode ser comparada à de combatentes americanos ou europeus. "O Brasil alcançou um patamar de desenvolvimento muito grande e se aproximou sobremaneira de países da Otan na questão de missões de paz".

Segundo Sousa, para atender as exigências da ONU em termos de qualidade de equipamentos militares, o país também promoveu uma melhoria nos equipamentos usados por suas forças armadas, especialmente nas unidades que passaram pelo Haiti.

E de acordo com ele, a missão em situação real ajuda os militares brasileiros não só em operações de paz. A missão forneceu experiência para o uso adequado (e moderado) da força em cenário urbano e ensinou o militar a respeitar a cultura do país estrangeiro - "o que se refletiu também em respeito à nossa própria cultura", disse o comandante.

O embaixador Kipman afirmou ainda que as táticas desenvolvidas para pacificar Porto Príncipe colaboraram para o desenvolvimento do modelo de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), usadas para reduzir a violência nas favelas do Rio de Janeiro.

"Para o Brasil foi uma aprendizagem extraordinária, não só profissional mas do ponto de vista humano. Do soldado ao general houve uma abertura de horizontes e eles voltaram com outra visão de Brasil, voltaram reconciliados com o país", disse Kipman.

De acordo com ele, esse ganho de experiência também aconteceu na área civil, com diplomatas, ONGs e órgãos como a Embrapa ganhando experiência excepcional que pode ser usada no Brasil.
"Considero que a missão tem sido um grande sucesso", disse Kipman.

*Luis Kawaguti é autor do livro "A República Negra" (Ed. Globo/2006) sobre a missão de paz brasileira no Haiti

EXÉRCITO POLICIARÁ RUAS DE SÃO PAULO NA COPA DO MUNDO

R7 - 2/6/2014 às 09h15


Pelo menos 4.000 homens já estão à disposição do Estado






O Exército vai ajudar no policiamento das ruas de São Paulo durante a Copa do Mundo. Na sexta-feira passada (30), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) aceitou a oferta da presidente Dilma Rousseff, que se estendeu aos demais 14 governadores cujos Estados receberão seleções durante o evento. Os homens do Exército ficarão nas ruas e em locais que demandarem reforço na segurança.

Uma reunião entre o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e as autoridades locais está prevista para ser realizada hoje, na Secretaria da Segurança paulista, para definir como e onde os pelo menos 4.000 homens do Exército, que já estão à disposição de Alckmin, serão empregados.

O ministro José Eduardo Cardozo conversou pessoalmente com o governador paulista e ressaltou a importância do reforço de patrulhamento nas ruas.

O Exército se somará aos quase 90 mil homens da Polícia Militar no Estado. Cardozo lembrou que todo o trabalho durante o Mundial será feito "com integração" e que todos os atores "já têm seus papéis claramente definidos".

São Paulo receberá 15 delegações estrangeiras, que ficarão espalhadas por 12 cidades. Algumas delas precisam de atenção especial e segurança reforçada, caso dos Estados Unidos e do Irã, que ficarão na capital e em Guarulhos, respectivamente, e da Rússia, que estará em Itu, onde também ficará o Japão.

Preocupada com ações agressivas de manifestantes contra seleções, como aconteceu no Rio, na semana passada, com os jogadores brasileiros, a presidente Dilma Rousseff quer que o Exército permaneça nas ruas, à mostra.

Como nas demais cidades em que as seleções de futebol também ficarão hospedadas, a determinação em São Paulo é de que os homens do Exército fiquem visíveis a todos, de forma ostensiva, nos trajetos por onde passarão as seleções e as autoridades.

Haverá reforço nos aeroportos, bases aéreas, hotéis e centros de treinamento das 12 cidades paulistas que receberão seleções. Estão previstas pelo menos 500 escoltas.

Estratégia

No dia de abertura da Copa, na Arena Corinthians, na zona leste da cidade, além de homens do Exército ficarem de prontidão nos quartéis e nos diferentes pontos das cidades por onde passarão as seleções e as autoridades, a tropa federal ajudará também na escolta de torcedores VIPs, com motocicletas e helicópteros. As forças de operações especiais do Exército também foram chamadas para ajudar no reforço à segurança.

Os reforços das Forças Armadas serão enviados também para Santos, onde ficarão México e Costa Rica, para Porto Feliz, onde se hospedará Honduras, para Ribeirão Preto, que receberá a França, para Campinas, que vai abrigar Portugal e Nigéria, para o Guarujá, com a Bósnia-Herzegóvina, para Águas de Lindoia, com a Costa do Marfim, para Mogi das Cruzes, que receberá a Bélgica, para Cotia, com Colômbia, e para Sorocaba, que vai abrigar a Argélia.

Além de São Paulo, já aceitaram apoio das tropas federais o Estado do Rio e o Rio Grande do Norte.

Papa

Em julho do ano passado, o Exército reforçou o patrulhamento das ruas durante a visita do papa Francisco a Aparecida. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

sábado, 31 de maio de 2014

MILITAR USA TAPAS PARA INTERROGAR DETIDO

JORNAL EXTRA 30/05/14 12:47

Militar usa tapas para interrogar detido no Complexo da Maré


Marcos Nunes


Um adolescente foi agredido com tapas no rosto, depois de ser detido por militares da Brigada de Infantaria Paraquedista, no Complexo da Maré, no início de maio. A agressão durou pelo menos 57 segundos e foi registrada em um vídeo. A denúncia foi enviada ao EXTRA por um leitor, através do WhatsApp do jornal (21996441263 e 21998099952).

Nesta quinta-feira, a assessoria da Força de Pacificação anunciou ter aberto um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o caso e revelou já ter identificado um sargento como um dos autores da agressão.

No vídeo, o rapaz, que é acusado de estar usando drogas, aparece sentado num local onde há capim, próximo a uma calçada, e ao lado de uma garrafa. O militar inicia o interrogatório perguntando se o jovem é maior de idade, e, em seguida, desfere o primeiro tapa no rosto da vítima.

“Você é maior de idade? Fica usando estas m.”, grita o sargento.



O detido começa a chorar, mas o castigo imposto pelos militares passa a ser mais violento. Um deles volta a agredir o rapaz com tapas. O gesto se repete ainda mais três vezes. “Para de chorar, rapaz! Tá de sacanagem? Vai ficar chorando agora? “ pergunta o militar.

Ao ser agredido pela última vez no vídeo, o adolescente que estava sentado cai no chão e coloca as mãos na cabeça, provavelmente para tentar evitar novas agressões.

Procurado pelo EXTRA, nesta quinta-feira, o major Olavo Kruchak, assessor de imprensa da Força de Pacificação, disse que o Exército não compactua com desvios de conduta e que repudia este tipo de ação. Em nota , ele revelou que o sargento foi afastado do patrulhamento da Maré e está atuando em atividades administrativas. Após o fim das investigações, ele ficará à disposição da Justiça Militar, que julgará o caso.

Ainda segundo a nota, o IPM está sendo presidido por um major, que tem 60 dias de prazo para concluir as investigações.



A Força de Pacificação disse que ainda apura o dia e o local exato da Maré, onde ocorreu a agressão. Os nomes do sargento e da vítima não foram revelados . Abaixo, segue a nota completa da Força de Pacificação.

“ A respeito do vídeo veiculado pela imprensa, o Comando da Força de Pacificação Maré esclarece o seguinte:

Após tomar conhecimento dos atos mostrados no vídeo em questão, prontamente, o Comando da Força de Pacificação Maré determinou que fosse iniciada a apuração desses fatos.

O militar foi identificado rapidamente e um Inquérito Policial Militar foi instaurado para apurar as circunstâncias em que se deram os fatos. Por se tratar, possivelmente, de um crime militar, o Comando da Força de Pacificação Maré determinou que a situação fosse totalmente esclarecida, com o máximo de rigor possível. Um Oficial Superior foi designado como encarregado deste IPM, que tem um prazo de até 60 dias para o seu término.

Importante ressaltar que a Força de Pacificação repudia veementemente este tipo de ação, assim como qualquer desvio de conduta, por estar totalmente em desacordo com o Estado Democrático de Direito, com as leis vigentes e com as regras de engajamento estabelecidas para a operação, segundo as quais a força até poderá ser empregada ao se efetuar uma prisão ou apreensão, porém a mínima necessária, dentro dos princípios da proporcionalidade e progressividade.

O militar foi afastado de suas funções e após o término do inquérito, poderá ficar à disposição da Justiça Militar para os trâmites legais.”

quarta-feira, 21 de maio de 2014

MILITARES DE SANTA MARIA VÃO PARA O RIO REFORÇAR A SEGURANÇA NA COPA

Militares de Santa Maria vão para o Rio reforçar a segurança na Copa Jean Pimentel/Agencia RBS

ZERO HORA 21 de maio de 2014 | N° 17803


GABRIELA PERUFO | DIÁRIO DE SANTA MARIA

Setecentos militares irão reforçar a operação para a pacificação do complexo da Maré


Para reforçar a missão de pacificar o complexo de favelas da Maré, 700 militares embarcaram ao meio-dia dessa terça-feira de Santa Maria, em 19 ônibus, com destino ao Rio de Janeiro.

Da tropa de 2,5 mil militares e fuzileiros navais que compõe a Força de Pacificação, cerca de 800 integram a 3ª Divisão do Exército, com sede em Santa Maria. Os outros que participam da operação São Francisco 2 já estão no Rio.

– Foram sete semanas e meia de treinamento para a missão de pacificação. Essa intervenção na segurança pública é um trabalho totalmente diferente, é uma necessidade para manter a ordem. Eles só devem responder ao fogo na iminência de sofrer baixa – explica o comandante militar do Sul, general Antônio Martins Mourão.

Os militares devem dispor de equipamentos de alta tecnologia durante a missão: além dos blindados Guaranis, terão mísseis mais ágeis e fuzis com miras holográficas. A missão no complexo da Maré – que reúne 15 favelas e onde moram quase 130 mil pessoas – será até 31 de julho (veja no quadro).

DESPEDIDA E EMOÇÃO NO ADEUS A FAMILIARES

Uma solenidade marcou a despedida do grupo na terça-feira, no 29º Batalhão de Infantaria Blindado. Na ocasião, os familiares puderam se despedir dos militares.

A pequena Maria Luiza, quatro anos, não economizou nos beijos e abraços ao pai, o segundo sargento Adriano Soares da Silva. Acompanhada da mãe, Daiana Portella, 32 anos, a menina tirou várias fotos antes da viagem.

Aline Pacheco, 18 anos, também aproveitou o momento para fazer fotos ao lado do marido, Lairson de Moraes Charão, 22 anos. Ela está grávida de um mês do primeiro filho do casal.

– A gente ainda não sabe direito como vai ser para se falar, mas vou ficar esperando contato dele por telefone e pela internet para matar a saudade – afirma.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

FORÇAS ARMADAS PREPARAM PLANO DE SEGURANÇA


Do G1 RS M16/05/2014 12h22

Forças Armadas preparam plano de segurança com 3,6 mil homens no RS. Do número total de homens, 2,9 mil são do Exército e atuarão na Copa. Ações estão sendo articuladas há dois anos, diz general durante coletiva.

Rafaella Fraga



Operação das Forças Armadas atuará durante a Copa do Mundo em Porto Alegre (Foto: Rafaella Fraga/G1)

Pelo menos 3,6 mil homens das Forças Armadas atuarão no Rio Grande do Sul durante a Copa do Mundo. A cidade recebe cinco partidas do Mundial entre junho e julho deste ano. A informação foi divulgada durante uma coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira (16) em Porto Alegre. Do número total, 2,9 mil militares são do Exército.

As Forças Armadas elaboraram um plano de segurança que prevê atuação em 10 setores estratégicos, divididos entre Marinha, Exército e Aeronáutica. "Nossas ações serão completas. Por terra, ar e mar", resumiu ao G1 o general de divisão Manoel Luiz Narvaz Pafiadache, coordenador de Defesa de Área de Porto Alegre.

As ações englobam desde o controle do espaço aéreo, que inclui a restrição de voos uma hora antes e ate três horas deois dos jogos, até patrulhamento contra ameaças químicas, biológicas e nuclear, monitoramento das fronteiras e segurança cibernética. Além disso, toda a extensão do Guaíba, ao lado do estádio Beira-Rio, palco das partidas na capital gaúcha, será patrulhada por navios e embarcações da Marinha.

O plano está sendo articulado para o evento há dois anos, ao lado de outras autoridades do estado. "O que me dá muita tranquilidade em Porto Alegre é que aqui tivemos uma integração entre as autoridades de segurança e a administração, governo municipal e governo estadual. Tivemos reuniões mensais para garantir que esse trabalho conjunto ocorra da melhor maneira possível", apontou o general.

Outra área que terá atenção especial das Forças Armadas são as chamadas estruturas estratégicas. Tratam-se de instalações e serviços fundamentais para a realização da Copa como telecomunicações e abastecimento de água e luz. "Imagina se cai a luz em meio a um dos jogos. O trânsito a redor fica impraticável, já que não haverá sinaleiras em funcionamento, por exemplo. E no inverno em Porto Alegre, fim de tarde já é escuro", comentou o general de Brigada Fernando José Soares da Cunha Mattos, chefe do Estado-Maior Cnjunto e Porta-Voz do Centro de Coordenação de Defesa de Área.

Militares do interior do estado foram convocados a integrar a equipe de operação no Mundial. Os soldados de São Gabriel, Cachoeira do Sul, Pelotas, Rio Grande, São Leopoldo e Sapucaia do Sul se apresentam na base de Porto Alegre no próximo domingo (18). Por uma semana, eles participarão de uma série de treinamentos, que fazem parte do último estágio de preparação para o evento esportivo.

O Ministério da Defesa recomenda que as tropas estejam à disposição 48 horas antes da chegada da primeira seleção à cidade-sede. Ou seja, no dia 6 de junho, os 3,6 mil homens das Forças Armadas estarão em Porto Alegre aptos a atuar. A previsão é que a delegação do Equador, que ficará hospedada no Hotel Vila Ventura em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre durante todo o período do Mundial, chegue ao estado no dia 8 de junho. A operação militar da Copa do Mundo vai até 30 de junho, podendo ser prorrogada.

Eventual participação em protestos

Preocupação recorrente das autoridades de segurança, as tropas do Exército, apesar de não estarem permanentemente nas ruas, ficarão de prontidão para atender situações de emergência e crise. Esses militares podem ser acionados pelo governador do estado e pela Presidência da República para assegurar a ordem pública e o funcionamento de serviços essenciais.

No caso da operação da Copa do Mundo, dois eixos, a Força de Contingência e setor de Prevenção e Combate ao Terrorismo, só atuarão caso o governador Tarso Genro solicite apoio à presidente Dilma Rousseff. Por exemplo, se for necessário interferir em eventuais protestos mais violentos. "A Brigada Militar cuidará das manifestações e nós vamos agir caso seja pedido. A preocupação é natural da segurança pública. E nós também temos a nossa preocupação", completou. "Naturalmente que nós nos preocupamos para uma eventualidade. Não queremos atuar [nas manifestações]. E até achamos que, em princípio, nós não seremos empregados", ponderou

PARA A COPA, 57 MIL HOMENS TREINADOS



ZERO HORA 16 de maio de 2014 | N° 17798



GUILHERME MAZUI | BRASÍLIA


ENTREVISTA


JOSÉ CARLOS DE NARDI
Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas


"Temos 57 mil homens treinados"


Durante cada jogo da Copa do Mundo no Beira-Rio, pelo menos dois caças e um avião-radar cruzarão os céus de Porto Alegre. A artilharia antiaérea estará pronta, embarcações guarnecerão o Guaíba, em uma operação que poderá mobilizar 3,6 mil militares.

A complexa estratégia de defesa, que se repetirá em todas as sedes do Mundial, tem a coordenação do general José Carlos De Nardi, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Gaúcho de Farroupilha, conselheiro colorado, ele comanda 57 mil militares – entre Exército, Marinha e Aeronáutica –, distribuído pelo país para garantir uma Copa segura.

Desde 2011 debruçado sobre o Mundial, De Nardi é um dos mentores das ações que envolvem Forças Armadas, Polícia Federal, policiais estaduais e Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Cinco estrelas reluzentes no peito e dezenas de condecorações no currículo, o general recebeu Zero Hora com o chimarrão servido para uma entrevista em seu gabinete, no Ministério da Defesa, em Brasília. Confira os principais trechos.

O Brasil tem condições de realizar a Copa com segurança?

Com a experiência adquirida na Rio+20, na Copa das Confederações e na visita do Papa (Jornada Mundial da Juventude), creio que teremos uma Copa tranquila. A segurança pública e a defesa estão em boas condições. A preparação começou em 2011, em um triunvirato que inclui Casa Civil, Ministério da Defesa e Ministério da Justiça. Temos 57 mil homens treinados e mobilizados para Copa.

O país não tem histórico de atos terroristas. Algo tira o sono do senhor?

Acho difícil uma ação terrorista, o Brasil é um país amigo, um país de paz, não tem grandes dificuldades com outras nações. O que me preocupa é o lobo solitário, esse ninguém pode detectar.

O que seria um lobo solitário?

É o caso da Maratona de Boston, algum maluco. Não tem serviço secreto que possa detectar. Essa é a preocupação maior. A Abin tem feito relatórios muito positivos, no sentido de que é difícil que ocorra algo de grande porte. Agora, as Forças Armadas tem de estar preparadas.

A defesa preparou ações especiais contra o terrorismo?


No estádio, a segurança é privada, é da Fifa. Ninguém vai ver árbitro deixando o campo escoltado por escudos da polícia militar. Teremos no estádio um pelotão especial e homens treinados em ações contra terrorismo e ameaças químicas, todos escondidos. Fora do estádio, as polícias militares farão a segurança, com média de 2 mil militares das forças de contingência próximos, prontos para entrar em ação se for necessário.

Qual será o aparato no Beira-Rio?

Além das forças de contingência, haverá militares guarnecendo estruturas estratégicas, como redes de telefonia, energia e água. Estarão espalhados por Porto Alegre. Durante cada jogo no Gigante, pelo menos dois caças vão voar sobre o estádio e um avião-radar vai estar acima deles para captar ameaças. Ainda teremos helicópteros no solo, prontos para decolar. A Marinha também vai guarnecer o Guaíba.

As manifestações preocupam?

As manifestações ficam sob responsabilidade da segurança pública, com as polícias militares nos Estados. As Forças Armadas estão treinadas, haverá forças de contingência, mas o emprego de militares só acontecerá se o governador solicitar à presidente e ela autorizar.

As polícias militares têm condições de garantir a segurança?

As polícias militares estão tão especializadas que, na Copa das Confederações, não tivemos nenhuma tropa federal atuando contra distúrbios, e acredito que não teremos agora. De qualquer maneira, as Forças Armadas estão prontas.

Na Copa das Confederações ocorreram confrontos fora dos estádios.

Assisti a quase todos os jogos, entrar no estádio foi a maior tranquilidade. O pessoal vai para ver jogo. A baderna era fora. Nossa preocupação é com 15 Estados, porque, além das 12 sedes, há centros de treinamento no Espírito Santo, Alagoas e Sergipe.

Os governadores terão auxílio para definir o pedido de reforços?

Sim, e a resposta precisa ser rápida. Criamos centros de coordenação de defesa nas 12 cidades-sede, comandados por nove generais, dois almirantes e um brigadeiro. Juntos com os secretários de segurança e a Polícia Federal, eles tomarão decisões e darão auxílio aos governadores.

Os responsáveis nas sedes ficarão nos estádios?

Na Copa das Confederações, estava pegando fogo lá fora e teve secretário de segurança dentro de estádio dizendo que estava tudo bem. Agora, é uma determinação: os responsáveis pela segurança e defesa nas sedes vão ver os jogos reunidos em centros de operações. Já disse para o Michels (Airton, secretário de segurança gaúcho) comprar uma boa televisão, porque ele não vai assistir aos jogos no estádio.

Em quais áreas os militares atuarão?

Há uma divisão de tarefas. As Forças Armadas vão cuidar de diversos eixos, como defesa do espaço aéreo, segurança cibernética e defesa de estruturas estratégicas. Se for preciso atuar em outra área, como portos e aeroportos, estaremos prontos.

Haverá operações nas fronteiras?

Já está em andamento a Operação Ágata, que patrulha toda faixa de fronteira do Brasil para inibir a entrada de drogas e armamentos. No Rio Grande do Sul, em vésperas de jogos, a ideia é que a Brigada Militar faças barreiras para ônibus nas cidades de fronteira. Intensificamos inspeções em minas de explosivos, para aumentar o controle dos depósitos. O Rio Grande do Sul é um Estado com histórico de ataques a banco no Interior.

Alguns jogos demandam cuidados extras na segurança?

Com base em trabalho de inteligência, montamos um mapa de jogos de risco, mas não posso revelar a lista. Jogos de países como Estados Unidos sempre geram cuidados especiais.

Jogadores badalados, como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, terão segurança especial?

Aparato VIP só para o presidente e o secretário da Fifa (Joseph Blatter e Jérôme Valcke) e chefes de Estado. As delegações terão segurança total. Se algum jogador quiser ir para a noite, vai ter de tratar com o chefe da sua delegação.

Para Messi haverá reforço na segurança em Porto Alegre?

Pela determinação da Fifa, cada seleção chega à cidade do jogo 48 horas antes da partida e sai em até 24 (horas). Cada hotel de delegação terá um centro pequeno de operações, com um delegado. O tamanho do aparato depende da decisão do chefe da delegação argentina e do centro em Porto Alegre.



quinta-feira, 15 de maio de 2014

EXÉRCITO NO LUGAR DOS POLICIAIS MILITARES EM GREVE

FOLHA.COM 15/05/2014 11h37


'Vou manter a segurança, custe o que custar', diz governador de PE

CRISTINA CAMARGO



Em meio à paralisação dos policiais militares e de saques em diferentes pontos da Grande Recife, o governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSB), afirmou nesta quinta-feira (15) que vai manter a ordem no Estado "custe o que custar". A afirmação foi feita durante entrevista de 15 minutos à Rádio Jornal, do Recife.

A menos de um mês da Copa, Lyra enfrenta uma greve da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Homens da Força Nacional de Segurança já estão na capital, e tropas do Exército devem desembarcar a qualquer momento.

Lyra disse que as negociações com os PMs foram feitas e não houve recusa ao diálogo por parte do governo. Para ele, alguns dos líderes grevistas quebraram acordo que havia sido feito com o governo durante a negociação.

Ainda durante a entrevista, o governador disse que, enquanto a paralisação persistir, o Exército e a Força Nacional vão comandar a segurança no Estado. "Lamento profundamente que pseudos líderes façam com que Pernambuco passe por essa situação", disse Lyra.

Na quarta-feira (14), Lyra Neto manteve a decisão de reajustar os salários dos PMs e bombeiros militares em 14,55% a partir de junho. Ele diz ser impossível conceder os reajustes de 50% para praças e 30% para oficiais, como querem os grevistas. O governador argumenta que a legislação eleitoral não permite a concessão de benefícios no período de 180 dias antes da eleição.

Pelo mesmo motivo, ele disse também que não pode conceder o reajuste no vale-refeição. A categoria exige aumento de de R$ 154 para R$ 500 no benefício. Segundo o governo de Pernambuco, as administrações de São Paulo e Bahia também concederam os reajustes antes do prazo estabelecido pela lei.

O governo pernambucano se comprometeu a atender outros pontos reivindicados como melhorias no hospital da PM, incorporação da gratificação por "atividade de risco operacional" ao salário, quando militar for para reserva, e ajustes dos critérios de promoção por meio de uma comissão formada por membros indicados pelos militares, representantes do Legislativo e do Executivo até 30 de julho.

Editoria de Arte/Folhapress



"PEDIDO DE AJUDA"

O governador de Pernambuco telefonou na quarta-feira (14) para seus colegas de São Paulo e da Bahia para entender como eles fizeram para por fim a paralisações de PMs em seus Estados. Lyra consultou Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Jaques Wagner (PT-BA). O governador paulista enfrentou ameaça de greve em outubro do ano passado e ofereceu reajuste de 7% para a categoria.

Já o governador baiano enfrentou três dias de greve em abril deste ano. A paralisação só terminou depois que o governo concedeu aumento da Gratificação por Condições Especiais de Trabalho (CET) dos praças na proporção de 25% para as funções administrativas, 45% para as operacionais, 65% para os motoristas e Regime de Tempo Integral (RTI) para os oficiais, com atualização da lei.

Na região metropolitana do Recife, ao menos sete homicídios ocorreram entre a noite de ontem e a madrugada desta quinta-feira (15) em um intervalo de sete horas. De acordo com a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa da capital pernambucana, os assassinatos ocorreram entre 18h de quarta e 1h de hoje, em locais diversos.

No mesmo período, uma onda de saques realizada na região resultou na detenção de ao menos oito adultos e três adolescentes. Um dia após a onda de arrastões e saques a lojas e caminhões em Abreu e Lima, na Grande Recife, as agências bancárias do município decidiram não abrir as portas nesta quinta. Estão fechadas agências de Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú e Bradesco.

As agências bancárias ficam na BR-101 Norte, que cruza Abreu e Lima, a cerca de 500 metros do local onde ocorreu a maioria dos saques. A informação sobre o fechamento das agências foi dada à Folha pelos gerentes das agências. Nenhum deles, porém, quis dar entrevista.

Greve da PM em Pernambuco

Após saques na cidade, agências bancárias de Abreu e Lima (Grande Recife) fecharam as portas nesta quinta-feira (15), em meio à greve dos policiais militares do Estado

GREVE ILEGAL

A Justiça de Pernambuco já declarou ilegal a greve e estabeleceu multa diária de R$ 100 mil para associações e movimentos militares.

"O governo continua aberto ao diálogo. Agora, antes de tudo, tenho a decisão e vou manter, custe o que custar, a segurança do povo pernambucano. Essa é a minha obrigação e o desejo do povo de Pernambuco", afirmou Lyra.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

UM BRASILEIRO NO CORAÇÃO DAS TREVAS

REVISTA ISTO É N° Edição: 2320 | 09.Mai.14


A dura missão do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, comandante da mais importante operação da ONU no mundo. Ele tem a tarefa de dar fim ao maior conflito armado desde a Segunda Guerra Mundial, com quase seis milhões de mortos

Por Yan Boechat (yan@istoe.com.br) (textos e fotos), enviado especial ao Congo



As primeiras horas da manhã da quinta-feira 17 de abril estavam especialmente quentes na densa floresta que serve de fronteira natural entre a República Democrática do Congo e Uganda. Antes de se embrenhar pela vereda de terra entre as árvores, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz retirou o colete à prova de balas e o capacete. ?Se algo acontecer, é preciso ser ágil?, explicou. ?O caminho é perigoso, as emboscadas são comuns.? O general tinha usado esse equipamento de mais de 15 quilos, capaz de segurar balas de fuzil AK-47, durante todo o trajeto de 40 quilômetros entre o batalhão da ONU na cidade de Beni e a trilha que o levaria a uma base rebelde conquistada pelo Exército congolês uma semana antes.



Santos Cruz vestia a farda camuflada das Forças Armadas brasileiras. No ombro esquerdo, a bandeira do Brasil. No direito, a palavra ?comandos?, que em todo o mundo militar carrega o mesmo significado: ali está um soldado das tropas de elite, um cara durão, preparado para sobreviver na adversidade. Três pequenas estrelas costuradas nas pontas do colarinho o distinguem como um general de divisão. Além do FAL, o fuzil usado pelo Exército brasileiro há quase três décadas, Santos Cruz levava uma pistola Glock 9mm no coldre colado à coxa direita.

À medida que avançava, o acesso no terreno úmido da floresta tropical a poucos quilômetros ao sul da linha do Equador ia se estreitando. O sol logo desapareceu sob a copa das árvores. Santos Cruz teve a sensação de que estava na Amazônia. ?É igual ao Brasil, não muda nada?, disse. Na longa marcha até a principal base conquistada do grupo inimigo, a paisagem dava ideia de como havia sido o combate: troncos perfurados por tiros, árvores derrubadas pelo impacto das RPGs, o chão coberto por um tapete metálico de cápsulas deflagradas. Cartazes escritos à mão indicavam a localização de minas e explosivos. Um pouco mais adiante, covas rasas ao lado da trilha ainda exalavam o cheiro forte dos corpos recém-enterrados pelos vencedores. ?Muitos foram queimados, outros enterramos aqui mesmo, é menos trabalho?, explicou um soldado congolês ao lado do amontoado de terra fofa onde as moscas tentavam encontrar caminho para chegar aos restos putrefatos dos inimigos.



Foram três horas de uma caminhada tensa. Com os rebeldes ainda a poucos quilômetros dali, o risco de uma emboscada não recomendava pausas para descanso. A tropa só parou ao chegar a Medina, um vilarejo improvisado no meio da floresta que o grupo radical islâmico ADF usava como uma de suas maiores bases no Congo. Logo começaram a surgir da floresta centenas de soldados. Sujos e cansados, carregando colares de munição e armamento pesado, eles saudavam Santos Cruz. Pela primeira vez, viam naquele front de batalha um militar tão graduado da ONU. O general brasileiro apertou a mão dos oficiais que combateram os rebeldes islâmicos. Aos soldados, distribuiu cigarros congoleses baratos, comprados a US$ 1 o maço.

?Force Commander?

No Congo, a patente de Santos Cruz importa menos que seu cargo na hierarquia militar da ONU. Ele é o comandante-geral da Monusco, a maior e mais importante missão das Nações Unidas no mundo, com um contingente de mais de 22 mil homens de 20 diferentes países e orçamento anual de quase US$ 1,5 bilhão. É uma missão histórica, em que o conceito de manutenção da paz foi alterado para imposição da paz. Não se trata apenas de semântica. Os capacetes azuis, pela primeira vez desde 1948, têm autorização para caçar, prender e matar aqueles que o Conselho de Segurança considerar inimigos. Na prática, isso significa que os soldados das Nações Unidas podem dar o primeiro tiro, tornando-se, assim, uma força de agressão ? a primeira desde a criação da organização.

O militar brasileiro foi indicado e responde ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e ao Conselho de Segurança. No Congo, ele divide o comando da missão com um representante civil, o alemão Martin Kobler. São os dois que têm, ao menos oficialmente, a última palavra em qualquer decisão, militar e civil. A guerra no Congo dura quase 20 anos e já deixou cerca de 5,5 milhões de pessoas mortas. Nenhum outro conflito armado matou tantos seres humanos desde a Segunda Guerra Mundial.

Apesar de ser o primeiro brasileiro a comandar forças militares de agressão desde a campanha da FEB na Itália, um ano e pouco atrás, em Brasília, onde mora, Santos Cruz estava mais preocupado com caminhões-pipa no Nordeste brasileiro do que com guerrilheiros africanos. O general foi compulsoriamente para a reserva em 2012, ao ser preterido para ascender à patente de general de exército. Com a carreira militar encerrada, trabalhava na divisão militar da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, em Brasília, cuidando de assuntos como a participação do Exército na distribuição de água potável em regiões afetadas pela seca. ?Eu havia abandonado a farda, estava lá, engravatado, num gabinete da Esplanada, quando recebi, em março de 2013, uma ligação de Nova York?, contou ele à ISTOÉ no mês passado, enquanto comia com as mãos uma coxa de galinha frita na cantina do quartel-general da ONU em Goma, a capital da província do Kivu do Norte, onde estão concentrados 95% dos capacetes azuis no país. ?Foi uma surpresa , mas não demorei três segundos para aceitar aquele convite inesperado.?


ATIVO
Santos Cruz viaja pelo menos três vezes por semana a regiões
isoladas do leste do Congo; em casa, gosta de assistir
aos telejornais da rede de tevê Al Jazeera

Santos Cruz é um homem que ri pouco. Natural da cidade de Rio Grande, no litoral gaúcho, o general aparenta ter bem menos que os 62 anos que vai completar no dia 1º de junho. Mantém seus 74 quilos com uma rotina de atleta. Corre dez quilômetros, dia sim, dia não, e segue um programa rígido de exercícios físicos. O sotaque forte dos gaúchos se foi faz tempo, assim como o hábito de tomar chimarrão. O militar deixou o Rio Grande do Sul aos 15 anos, quando foi aceito na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas, em 1968. ?O que ficou foi a paixão pelo Internacional de Porto Alegre?, diz ele. Toda vez que seu time vence o Grêmio, Santos Cruz liga para um irmão torcedor do rival.

Em Goma, o general brasileiro vive em uma confortável casa de dois quartos, próxima do quartel-general da ONU, que divide com um alto funcionário civil das Nações Unidas. Dois brasileiros fazem a escolta pessoal do general e um grupo de seis soldados das forças especiais uruguaias, equipados com fuzis FAL e uma caminhonete com uma metralhadora Mag instalada na carroceria, completam o time da segurança. Se ele está em casa, os uruguaios fazem patrulha em frente ao seu portão. Se ele se desloca, lá estão os mesmos soldados cercando seu veículo. O general não dá um passo sem que ao menos oito homens estejam acompanhando seus movimentos.

Carlos Alberto dos Santos Cruz, casado, três filhos e avô de um menino, fez uma carreira típica no Exército brasileiro. Poucos anos depois de graduar-se na Academia Militar das Agulhas Negras, em 1974, seguiu para o que parece ser a obsessão dos militares nacionais: a Amazônia. Lá se tornou um especialista em guerra na selva. Nas duas décadas seguintes, sempre esteve, de uma forma ou de outra, próximo da floresta. Comandou pelotões de fronteira na região Norte e um batalhão de infantaria em Mato Grosso. Não à toa, dos seis brasileiros que lhe prestam assistência direta no Congo, quatro são especialistas em guerra na selva ou têm experiência na Amazônia.



Agressividade

A grande virada na carreira do general veio em 2006, quando foi apontado como o chefe militar da missão da ONU no Haiti. Foi por conta de sua ação enérgica na tomada da favela Cité Soleil, um enclave de criminosos em Porto Príncipe, a capital do país, que o general brasileiro chamou a atenção dos burocratas das Nações Unidas. Quase 40 dias de batalha ? com baixas civis duramente criticadas por organizações humanitárias ? garantiram a tomada do local pelas tropas da Minustah, majoritariamente brasileiras. Ao final do período em que liderou a missão, a ONU pediu ao Brasil que mantivesse Santos Cruz no comando da operação por pelo menos mais um ano. O Exército, no entanto, recusou o pedido e o general gaúcho retornou ao País. ?A atitude agressiva e a determinação em agir e correr riscos foram determinantes para que seu nome fosse lembrado em Nova York. Ele está aqui no Congo por causa do Haiti e não pela influência política do Brasil no Conselho de Segurança?, diz um experiente analista de inteligência das Nações Unidas.

No amplo complexo militar e civil que a ONU montou em Goma para ser o quartel-general de sua missão no Congo, Santos Cruz é um dos poucos oficiais a andar armado o tempo todo. A pistola 9mm sempre está ao alcance da mão e, por onde se desloca, carrega o fuzil FAL de fabricação argentina que pegou emprestado do batalhão uruguaio instalado na cidade. Mesmo em seu escritório ? uma sala simples, de cerca de seis metros quadrados, instalada em um contêiner ?, invariavelmente o fuzil está encostado na parede, ao lado de sua cadeira. ?Ele gosta de manter essa imagem, mostrando aos soldados que, mais que um general, é um soldado como todos eles?, diz o major Pethias Mdoka, do Exército Malaui, que atuou diretamente com o brasileiro no último ano.



Santos Cruz chegou ao Congo em julho de 2013, num momento de fragilidade da missão. Após quase 15 anos atuando no país, a ONU tinha sofrido sua maior derrota e humilhação havia poucos meses. Em novembro de 2012 um grupo rebelde supostamente financiado por Uganda, o M23, derrotou o Exército congolês, invadiu Goma e forçou os capacetes azuis a se refugiarem nos quartéis, deixando a população civil à mercê dos invasores. Foi a partir dessa derrota que as Nações Unidas decidiram criar uma força especial de ataque, a Force Intervention Brigade (FIB), e dar carta branca para o ataque. Santos Cruz recebeu a missão de expulsar o M23 de Goma, retomar a cidade e reconquistar a confiança da população e da comunidade internacional na ONU.

A grande batalha

Na longa planície que liga Goma ao vilarejo de Kibati, o primeiro foguete disparado por um lançador Katiuscha de fabricação russa caiu cerca de 400 metros abaixo da trincheira escavada no topo do pequeno morro em que Santos Cruz observava a movimentação das tropas. O segundo, 400 metros atrás. ?Foi uma ação típica de ajuste de tiro da artilharia. Eles sabiam que estávamos lá e tentavam nos acertar?, contou o general. A terceira explosão aconteceu a menos de 30 metros. Deitados na trincheira, os militares puderam ouvir os estilhaços voando sobre suas cabeças. Em seguida, o M23 passou a atingir a periferia de Goma, logo atrás da elevação onde estava Santos Cruz. ?Foi naquele momento que decidi atacar e ordenei que nossos helicópteros e nossa artilharia abrissem fogo contra eles.?

Naquela tarde do dia 21 de agosto de 2013, pela primeira vez na história, a ONU abandonou sua política de isenção e neutralidade e partiu para o ataque, apoiando o Exército congolês tanto com artilharia e fogo aéreo quanto com homens no solo. ?Foi uma batalha intensa, com centenas de mortos e com características muito semelhantes àquelas da Segunda Guerra Mundial?, disse o general. Da trincheira, observando o avanço das tropas e os disparos de artilharia, vieram-lhe à cabeça velhos filmes da Segunda Guerra. ?E de repente eu estava lá, como um dos personagens, participando daquele filme?, contou ele.



Logo no primeiro dia de combate, com foguetes e morteiros explodindo a poucos metros da base de comando, Santos Cruz começou a forjar a imagem do general que gosta de estar no campo de batalha. ?Ele mostrou que não é um político, que não aceita ficar no escritório e trata os soldados de igual para igual?, disse à ISTOÉ o general tanzaniano James Mwakibolwa, que atuou na defesa de Goma. Ao longo de toda a campanha contra o M23, o general brasileiro esteve no front. Hoje, ao menos três vezes por semana, vai de helicóptero às áreas mais remotas do leste do Congo para ver de perto como estão sendo conduzidas as operações contra as dezenas de grupos armados que permanecem ativos na região. Para muitos na ONU, Santos Cruz se expõe em excesso. ?Esse não é o papel de um general, de um ?force comander?. Ele é um alvo muito valioso e parece fazer isso apenas para criar uma imagem de durão?, critica um oficial indiano. Já Santos Cruz tem uma explicação mais singela. ?Eu poderia dizer que vou ao front por questões estratégicas, para incentivar meus homens ou mesmo para dar a impressão à população local de que a ONU se importa com ela?, disse o general pouco antes de embarcar em um helicóptero Orix a caminho de uma vila atacada em meados de abril por um grupo rebelde. ?Tudo isso é verdade, mas o que me leva mesmo ao front é o fato de que eu gosto muito de estar lá, de estar perto dos soldados. Eles me dão coragem e me rejuvenescem.?

A batalha de Goma durou sete dias e forçou o M23 a recuar. A cidade estava liberada e em dois meses o grupo rebelde financiado por Uganda, um dos mais bem armados da região, foi derrotado. ?Santos Cruz chegou ao Congo com uma atitude absolutamente distinta da de todos os outros comandantes que estiveram por lá na última década, uma atitude muito proativa. É claro que essa não é a solução para todos os problemas, mas, sem dúvida, trouxe mudanças?, diz Jason Stearns, autor do aclamado ?Dancing in the Glory of Monsters: The Collapse of the Congo and the Great War of Africa? (Dançando pelos Monstros: o Colapso do Congo e a Grande Guerra da África), ainda não publicado no Brasil.



A guerra do Congo é um conflito complexo, com muitos atores e interesses econômicos e geopolíticos variados. Seu início tem raízes no genocídio perpetrado pela etnia hutu contra os tutsis, em Ruanda, há 20 anos. A matança desestabilizou toda a região dos Grandes Lagos Africanos, no centro do continente, e dragou para a guerra seis países ? Ruanda e Uganda, de um lado, e Congo, Tanzânia, Zimbábue e Angola, do outro. O Congo foi o palco de todas as batalhas do que ficou conhecido como a Grande Guerra Africana.

Oficialmente, o conflito terminou com um acordo de paz em 2002. Com o país destruído, com a absoluta ausência do Estado e uma diversidade de riquezas em uma vasta área sem controle e lei, dezenas de grupos armados passaram a dominar regiões inteiras do país. Desde então, o leste do Congo vive uma guerra sem-fim, com milícias lutando entre si, contra o próprio Exército congolês e contra exércitos estrangeiros, como as Forças Armadas de Ruanda, que ainda caçam os hutus responsáveis pelo genocídio de 20 anos atrás. Os civis são as maiores vítimas. Estima-se que até hoje entre 5,5 milhões e seis milhões de pessoas tenham morrido. Outros três milhões vivem em campos de refugiados. Dezenas de milhares de mulheres foram vítimas de estupros coletivos, que se tornaram uma arma de guerra.

Diante de um cenário tão complexo, Santos Cruz sabe que não será por meio de armas, tanques e helicópteros que a situação será resolvida. ?A saída sempre é política e passa pelo fortalecimento do Estado?, disse ele. ?Minha missão aqui é proteger os civis e desarmar os grupos rebeldes, que, na verdade, são apenas criminosos que se aproveitam da ausência do Estado. O problema não é étnico ou ideológico, como pode ter sido no início, há duas décadas. Hoje a razão desse conflito é econômica, porque esse é um dos países mais ricos do mundo.?

O Congo possui vastas reservas minerais. Estima-se que em seu subsolo esteja guardado algo como US$ 24 trilhões em ouro, cobalto, cobre, diamante e coltan, um mineral amplamente utilizado na produção de notebooks e celulares e do qual o país é o dono da maior reserva do mundo. Quase todos os grupos rebeldes que atuam no leste do país exploram essas riquezas e usam nações vizinhas para exportá-las para os Estados Unidos, Europa e Ásia. ?Não resta muito a Santos Cruz além de ser o homem corajoso desse show?, observou Fidel Bafilemba, um dos coordenadores da organização Enought Project, que acompanha de perto a crise congolesa há vários anos. ?Não há muito o que ele possa fazer sem que a comunidade internacional tome a decisão de parar de importar as riquezas minerais do Congo a preços baixíssimos, como ocorre hoje.?



A posição de Fidel não é muito diferente da de outros integrantes de entidades que atuam no país. A organização Médicos Sem Fronteiras, que mantém no Congo sua maior operação no mundo, também é bastante crítica ao novo papel que a ONU vem tendo no conflito. ?A decisão de abandonar o papel de neutralidade está comprometendo todo o serviço humanitário que tem sido desenvolvido aqui nos últimos anos?, diz Bertrand Perrochet, chefe da missão belga da Médicos Sem Fronteiras no Congo. ?A população não sabe mais se um helicóptero branco da ONU vai distribuir medicamentos ou balas.?

No início da tarde do sábado 19 de abril, o general Santos Cruz embarcou na caminhonete Land Cruiser blindada que tem à sua disposição para saborear um típico churrasco gaúcho no batalhão do Uruguai, o Urubatt. O quartel-general do contingente de mais de 700 soldados uruguaios fica nas proximidades do aeroporto de Goma e é uma espécie de segunda casa para o general e para os seis brasileiros que atuam diretamente como seus motoristas, auxiliares administrativos e seguranças. Nos 15 dias em que a reportagem de ISTOÉ acompanhou a rotina do militar brasileiro, Santos Cruz só foi capaz de soltar uma gargalhada nas duas vezes em que esteve no Urubatt. Ali parece ser o único lugar em que ele consegue relaxar. ?Eu respeito muito as ONGs, mas acho que muito mais poderia ser feito. Milhões e milhões são gastos aqui, mas não há coordenação, não se vê esse dinheiro sendo aplicado diretamente na melhoria do país.? Ele trata as críticas que recebe como meras especulações. ?Ainda não houve um caso concreto de problemas pela cor dos veículos ou helicópteros.?



Santos Cruz é presença constante nas festas mensais promovidas pelo batalhão do Uruguai e que atraem tanto militares quanto civis a serviço da ONU. Batizadas de Tango Bar, as noitadas são agitadas e a pista de dança, quase sempre animada com música latina, é incrementada pela sirene vermelha de um caminhão estacionado ao lado do bar montado para atender a clientela sedenta por momentos de descontração. Na última festa, organizada no dia 12 de abril, Santos Cruz vestia calça jeans, uma camisa social branca e um colete de lã vermelho. Aproveitou a pista de dança para descontrair.

Nas próximas semanas, Santos Cruz será oficializado pelo Conselho de Segurança da ONU como o escolhido para liderar a missão no Congo por mais um ano. Apesar de não confirmar, ele já foi consultado por Nova York se aceitaria ficar mais 12 meses à frente da Monusco ? e aceitou. ?Quando voltar para o Brasil, vou andar a cavalo?, conta ele, um praticante do Concurso Completo de Equitação, espécie de triatlo hípico responsável por matar quase uma dezena de cavaleiros no mundo todos os anos. ?O concurso completo é o esporte que mais se aproxima de uma batalha militar, você corre riscos o tempo todo e eu preciso disso para viver.?




segunda-feira, 28 de abril de 2014

A MARCHA PARA A FRONTEIRA



ZERO HORA 27 de abril de 2014 | N° 17776


SUA SEGURANÇA | Humberto Trezzi




Impressionante a lucidez com que o general Villas Bôas aborda o papel das Forças Armadas na região de fronteira. Essa nova face militar, mais aberta e entrosada com o mundo civil, é a tônica nos quartéis felizmente. Em 2011, mais de 500 militares e estrategistas civis brasileiros se reuniram várias vezes para traçar o Livro Branco da Defesa Nacional, um compêndio destinado a radiografar as forças brasileiras e explicitar quais são os seus planos. Dos encontros, realizados em diversas capitais, saíram algumas diretrizes para o século 21. A decisão estava tomada: rumo ao oeste, guarnecer fronteiras. Veja as que dizem respeito à Amazônia:

1 - Incorporação de 59 mil militares, que se somariam aos 210 mil existentes. Os primeiros 8,3 mil soldados seriam incorporados em até quatro anos. A prioridade em contingente seria a Amazônia.

2 - Criação de 28 novos postos de fronteira na região amazônica, cada um deles com 50 integrantes, para se somar aos 21 pelotões existentes. Isso já está em andamento. Criação de uma brigada do Exército em Manaus (AM). Aumento do efetivo na Amazônia, passando de 25 mil para 49 mil militares.

Pois tudo está em andamento, inclusive na Amazônia. O general Villas Bôas diz que já estão lá 30 mil militares e acredita que chegarão a 40 mil, em 15 anos. A Marinha criou flotilhas de patrulhamento de rios. A FAB transferiu helicópteros para a região e montou o Batalhão Pantera. Manaus ganhou base de caças e de helicópteros, incluindo os modernos Blackhawk.

Quando jovem, me apresentei para o serviço militar em Cruz Alta. Lá ficava o 17º Batalhão de Infantaria. Pois hoje essa prestigiada unidade fica em Tefé (AM). É a marcha para o oeste, desde os anos 80.


EXÉRCITO, DA SELVA PARA A COPA

Como comandante na Amazônia, Villas Bôas (segundo à esquerda e no detalhe abaixo) fez contato com forças armadas dos EUA



ZERO HORA 27 de abril de 2014 | N° 17776


TAÍS SEIBT


Gaúcho de Cruz Alta, o general Villas Bôas troca, na próxima terça, Manaus por Brasília, onde assume o Comando de Operações Terrestres e tem como primeiro desafio a segurança do Mundial


São 11 mil quilômetros de fronteira com oito paí- ses, três dos quais os maiores produtores de cocaína do mundo. Perto de 5 milhões de quilômetros quadrados abrigam recursos naturais e biodiversidade. Áreas acessíveis apenas por água, outras somente por ar e algumas impossíveis de acessar. Tensões permanentes envolvendo indígenas, fazendeiros, madeireiros, garimpeiros e ambientalistas.

Some-se a esse cenário a fraca presença do Estado, enormes vazios populacionais e uma estrutura de segurança dependente do fator humano e se tem uma ideia do tamanho da responsabilidade de estar à frente do Comando Militar da Amazônia (CMA).

Quem desenha o quadro acima é o general de Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, 62 anos, há dois anos e oito meses no cargo. Gaúcho de Cruz Alta e torcedor do colorado, o militar lembra com afeto a infância no noroeste do Estado, onde viveu até os 14 anos entre fazendas e plantações de soja da família. Mas se inflama feito um nativo ao falar do território onde atuou nove anos como militar, entre idas e vindas em diferentes postos. Com esse histórico, considera-se “meio amazônico”, embora mencione mais de uma vez que toma chimarrão em seu gabinete, em Manaus, enquanto conversa, por telefone, com Zero Hora.

Os pertences pessoais já haviam sido despachados por alguma balsa a caminho de Brasília – a deterioração da BR-319 deixou a capital do Amazonas sem ligação por terra com o restante do país a partir de 1988 –, quando Villas Bôas fez um balanço crítico do que viu na Amazônia antes de assumir o novo desafio, no Comando de Operações Terrestres, tendo como primeira missão a segurança da Copa do Mundo. A cerimônia de posse foi realizada no começo de abril, mas o desligamento do CMA ocorre só na próxima terça-feira. A comparação da Amazônia com uma colônia é a mais forte de suas declarações, fato que ele atribui não a um ou outro governo, mas ao que chama de “processo histórico”.

Papel de mediador em momentos de tensão

O vazio institucional é outro ponto marcante no discurso do general, que se vale da dura que levou de um caboclo quando comandava o 1º Batalhão de Infantaria de Selva para ilustrar seu relato: “muito bonito, coronel, o Exército vem aqui com o Ibama para ver se eu faço pesca predatória e apreende a minha rede, vem aqui a Receita ver se eu vendo peixe sem nota e me multa. Agora, para colocar posto de saúde, ninguém aparece, alguém para colocar uma escolinha não aparece, alguém para transportar minha produção não aparece”.

– Eu fiquei extremamente envergonhado, porque me dei conta de que estava sendo a mão do Estado que chega para reprimir, sem que chegue antes a mão do Estado para apoiar, fomentar, desenvolver – reconhece o general.

Em pouco mais de uma hora de conversa, Villas Bôas contou como passou da vergonha à ação, assumindo o papel de mediador em situações de tensão. Falou, também, da necessidade de investir em tecnologia para melhorar a atuação do Exército na região e da preocupação com o narcotráfico. Da nova missão, limita-se a dizer que a experiência amazônica deverá ajudar.



ENTREVISTA

“O narcotráfico está se agravando no Norte”

Com Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, 
General de Exército do Comando Militar da Amazônia


Entre um e outro gole de chimarrão em sua sala no Comando Militar da Amazônia, em Manaus, o general de Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas descreve o que viu e aprendeu na região. Agora, o militar vai aplicar os conhecimentos obtidos nos tempos da selva e nas quatro décadas de Exército para assumir o Comando de Operações Terrestres. Com sede em Brasília, o comando tem a missão de auxiliar forças de segurança pública no caso de necessidade, como ocorreu na recente greve da Polícia Militar na Bahia. Fica em regime de prontidão para entrar em ação, se for preciso, durante a Copa do Mundo e as eleições, em outubro. A seguir, confira os principais trechos da entrevista concedida por telefone.

Zero Hora – O senhor tem dito que o Brasil trata a Amazônia como uma colônia. Por que o senhor diz isso?
Eduardo Dias da Costa Villas Bôas – Essa imagem da colônia surgiu conversando com um coronel do Exército, o Jarbas Passarinho, e ele me contou que, quando era governador do Pará, ele havia recebido a visita do embaixador da França, que havia percorrido a Amazônia e depois foi visitá-lo. O embaixador disse: “Governador, conhecendo a Amazônia, eu me dei conta que os países europeus têm colônias extraterritoriais ou extracontinentais, e o Brasil tem uma colônia no seu território”. O que chega aí no Sul relativo à Amazônia é incompleto, é estereotipado. Acaba a Amazônia ficando como área periférica. A Amazônia tem três importantes papéis a cumprir. O primeiro são os recursos naturais. São bastante divergentes os estudos nesse sentido, mas os mais abrangentes indicam que a Amazônia abrigaria US$ 23 trilhões em recursos naturais. O segundo papel, um pouco além, quase uma questão de geopolítica, é que existe uma pan-Amazônia. São 7 milhões de quilômetros quadrados, dos quais nós detemos mais ou menos 70%. São nove países-condôminos da Amazônia e todos têm características muito semelhantes no processo histórico. O terceiro papel decorre do fato de que a Amazônia abriga a solução para algumas das principais questões que afligem a humanidade. Estamos falando de produção de energia renovável, água, produção de alimentos, biodiversidade, mudança climática e outras questões. Quero destacar que isso não é culpa de ninguém, é decorrente de um processo histórico, mas as coisas que são feitas na Amazônia não têm como foco o benefício na Amazônia.

ZH – Situação tensas, como o recente caso da reserva de Tenharim, onde o senhor fez uma mediação, são frequentes?

Villas Bôas – Há uma tensão sempre presente, decorrente da fraca presença do Estado. As pessoas não têm atendimento de saúde, educação, transporte ou energia. Elas não têm acesso à cidadania, não têm como fazer identidade. Quase tudo que se faz na Amazônia tem caráter repressivo. Você delimita a terra, e o índio fica abandonado. É o pressuposto de que, colocando uma redoma na comunidade indígena, você vai preservar a cultura. Como você não atende às necessidades básicas, o índio é levado ao ilícito, deixa que façam extração de madeira, garimpo ilegal. Em Tenharim, foram estimulados a colocar um pedágio na Transamazônica. Mas isso gerou revolta entre fazendeiros, até que um índio sofreu um acidente de moto e morreu. Alguém estimulou os índios a pensarem que ele havia sido assassinado. Em retaliação, três pessoas que passavam pela rodovia foram mortas. Houve um princípio do que poderia ser uma catástrofe. Não havia ninguém com capacidade de conduzir a situação, então fomos lá cumprir esse papel. Esperamos que tenha gerado um novo modelo de tratamento do problema indígena.

ZH – O narcotráfico é uma das grandes preocupações?

Villas Bôas – É um problema muito sério. Nós fazemos fronteira com três países produtores de cocaína: Colômbia, Peru e Bolívia. O narcotráfico está se agravando no Norte. Uma parte da coca do Peru vai para a Colômbia e uma grande parte entra no nosso território ou para abastecer o mercado interno ou para ser mandada para o Exterior. O Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína no mundo. Não somos produtores, mas foi desenvolvida uma variedade de coca adaptada ao clima da Amazônia baixa, que está vindo para a nossa faixa de fronteira, principalmente do lado peruano. Às vezes, índios peruanos da mesma etnia de brasileiros plantam a coca, então eles vão lá visitar e trazem para o nosso território. É o tráfico formiga. A preocupação tem sido evitar que a plantação passe para o nosso lado. Porque, a partir do momento em que a gente se tornar produtor de cocaína, vai haver um adensamento das estruturas do narcotráfico, vamos ter a presença de cartéis internacionais, uma participação maior das organizações criminosas nas grandes cidades do Brasil.

ZH – O contingente e a tecnologia de que o Exército dispõe não são suficientes para essa área?

Villas Bôas – Desde a década de 1980, o Exército vem transferindo unidades para a Amazônia. Naquela época tinha 6 mil militares, hoje são quase 30 mil e continuamos em processo de transferência. Talvez a gente vá chegar a 2030 com 40 mil. Precisamos ter sistemas modernos de comando e controle, satélites de comunicação, aumentar a mobilidade. O Exército desenvolveu um grande projeto chamado Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras). Está sendo implantado em Mato Grosso, e, no próximo ano, vamos começar em Rondônia e no Acre. É uma linha de sensores de radares de vigilância aérea, terrestre e com veículos não tripulados na faixa de fronteira. Esse sistema vai estar interligado ao sistema operacional, porque precisamos dessa capacidade de resposta. É um sistema de vulto, de R$ 10 milhões, e vai ser implantado num período de 10 anos.

ZH – O senhor deixa o Comando Militar da Amazônia para assumir o Comando de Operações Terrestres, tendo de início um grande desafio, que é a Copa do Mundo. Como o senhor encara isso?

Villas Bôas – Eu levo daqui uma experiência que vai me ajudar muito. Este ano temos as eleições também e toda a atividade operacional do Exército fica a cargo desse comando de operações. No caso da greve dos PMs na Bahia, por exemplo, a presidente decretou estado de garantia da ordem, as tropas percorreram a cidade garantindo a segurança. Estamos garantindo a segurança de áreas indígenas no sul da Bahia e Maranhão, além das enchentes em Rondônia e no Acre. São todas atividades que estão a cargo deste órgão.

ZH – Na Copa, o Exército pode usar tropas em eventuais protestos?

Villas Bôas – Usamos como exemplo a Copa das Confederações, em que os órgãos de segurança pública, com maior ou menor dificuldade, cumpriram suas funções. Mas só atuamos quando esses órgãos esgotarem sua capacidade. Então, na Copa do Mundo, nós só seremos empregados nesse tipo de ação caso haja necessidade.

ZH – Qual será o foco da atuação do Exército durante a Copa?

Villas Bôas – Temos forças de contingência para atuar em casos de emergência e forças de segurança para pontos estratégicos. Chamamos de pontos sensíveis onde estaremos fazendo a segurança. Estamos em condições de atuar também em situações antiterrorismo, já estamos atuando na parte de inteligência, e na parte de alguma emergência química ou bacteriológica.



segunda-feira, 21 de abril de 2014

A FORÇA DA DISSUASÃO

PORTAL DO SENADO, DEBATE


Defesas sólidas tornariam muito custoso ao agressor um ataque ao nosso país. Para repelir invasões, é preciso estar preparado para combater com competência


Piloto na cabine de um avião C-105, durante a Operação Coruja Verde,
em Manaus, treina com equipamentos especiais para visão noturna
(Foto: Johnson Barros/FAB)


Dissuadir — convencer (alguém ou a si mesmo) a mudar de ideia, a abdicar de uma decisão. O Brasil, ainda desde o fim do Império, forjou as suas relações com os demais países com base nesse conceito. O verbo está no cerne da Estratégia Nacional de Defesa (END), cujo primeiro objetivo é “dissuadir a concentração de forças hostis nas fronteiras terrestres, nos limites das águas jurisdicionais brasileiras, e impedir-lhes o uso do espaço aéreo nacional”. Para dissuadir, porém, é preciso estar preparado para combater, enfatiza mais adiante o mesmo documento.

O chanceler Celso Amorim avaliou, na audiência pública com os senadores, que os mais de 65 anos sem nenhum conflito de natureza global e a natureza pacífica do Brasil podem, eventualmente, transmitir a falsa ideia de que o país não precisa de defesa, de que ninguém vai nos atacar ou investir contra os nossos interesses.

“Isso não pode ser uma certeza. Temos que transformar isso numa impossibilidade, tanto quanto possível. A Estratégia Nacional de Defesa muito claramente aponta para essa necessidade de dissuasão, em termos de sermos capazes de causar dano mínimo a qualquer aventura, seja em função do nosso petróleo, da Amazônia, da nossa base de produção de alimentos, enfim”, justifica o ministro.

Como explicitou o doutor em Ciência Política Eliézer Rizzo de Oliveira no artigo “As diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa”, o Brasil tem interesses a defender por intermédio do seu poderio militar, ainda que não tenha inimigos estratégicos definidos e declarados.

A opção pela dissuasão é tema pacificado na comunidade de defesa nacional. Não se ouvem vozes apregoando uma mudança nessa postura histórica, ou reivindicando a transformação do país em uma potência belicosa e beligerante, mas muitos experimentados militares e estudiosos advertem que, para chegar a uma capacidade satisfatória de dissuasão, é preciso concentrar investimentos e implementar as diretrizes da END plenamente.

Estratégia adequada


O professor Darc Costa explicou que a estratégia tem três grandes formas de atuar:

a) na ação direta, um país tem força suficiente para esmagar o oponente (é uma forma praticada pelos países mais desenvolvidos, mais fortes);

b) na ação indireta: o país não tem força suficiente para esmagar o inimigo, mas consegue progressivamente enfraquecê-lo;

c) a dissuasão: quando o país tem defesas suficientes para tornar muito custosa para um agressor a iniciativa de um ataque.

“O Brasil não é o mais forte, nem é o mais fraco, mas deve praticar a chamada estratégia da dissuasão; ou seja, deve dizer a quem estiver disposto a nos agredir que faremos algo de tal forma que ele não sairá incólume desse processo. É isso que devemos pensar em fazer. Mas é preciso que exista uma convincente força militar combinada: terrestre, naval e aérea.”

Para isso, complementa o especialista, em uma guerra convencional, o Brasil precisa dispor de efetivos treinados e bem armados, capazes de durar no combate, mesmo enfrentando adversários muito mais poderosos (veja mais na seção Realidade Brasileira, a partir da pág. 50). E dispor de autonomia estratégica, ou seja, o armamento e o equipamento destinados a essa força dissuasória deverão ser fabricados no Brasil tanto quanto possível, dentro de um planejamento de logística, a fim de evitar embargos internacionais no cumprimento da missão de defesa.

Para o almirante e ex-ministro Mario Cesar Flores, “o peso relativo do Brasil no funcionamento tranquilo desse mundo imperfeito será inferior ao potencial sugerido por suas circunstâncias geográfica, econômica e demográfica, se não contar com o respaldo de poder militar compatível — a já citada compatibilização das políticas externa e de defesa”, escreveu ele na edição de julho passado da revistaInteresse Nacional.

Ele construiu um cenário ideal em que o Brasil disporia de poder militar:

1) ágil/móvel, com capacidade para abortar rapidamente agressões ao Brasil ou no mínimo deixar claro que, se praticadas por potências de grande nível estratégico, não teriam custo baixo. Ou seja, um poder militar útil para dissuadir agressões e estimular soluções negociadas;

2) coerente com o Brasil na sua região — América do Sul e Atlântico Sul, ao menos o ocidental —, capaz de apoiar nela a conciliação pacífica de contenciosos e contribuir para a tranquilidade e ordem regional;

3) capaz de prover a ação militar necessária à tranquilidade, segurança e respeito à lei brasileira e à internacional adotada pelo Brasil, no seu território terrestre e marítimo. Embora se refira ao Brasil lato sensu, a meta exige particular atenção à Amazônia e suas fronteiras permeáveis, à costa marítima (com as instalações de petróleo e gás, de peso crescente na segurança nacional) e ao espaço aéreo.



Raposas e lobos

Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo, o professor da UnB e diplomata Adriano Benayon é direto em sua avaliação: “Para ficarmos tranquilos no pré-sal, precisaremos de reforço nas nossas Forças Armadas. Quem quiser continuar sendo galinha cercada de raposas e lobos está destinado à sorte das mais tristes”, prevê Benayon.

“Se o circo começar, e isso pode ocorrer de repente, ninguém vai querer saber da nossa índole pacífica. Vai importar, sim, para nossa juventude na linha de frente, o poder de dissuasão de que dispõe, não para lutar, mas, sobretudo, para fazer o inimigo desistir da luta”, complementa o coronel de infantaria e Estado-Maior Paulo Ricardo da Rocha Paiva, em seu artigo "As forças mambembes da 6ª potência econômica", publicado em 13 de janeiro no site www.defesanet.com.br.

O assessor especial do Ministério da Defesa, ex-deputado federal José Genoíno, defendeu, em palestra durante os debates para elaboração do Livro Branco da Defesa Nacional, que o maior papel a ser desempenhado pelo Brasil, no futuro, é diminuir suas vulnerabilidades. “Defesa é o elo entre a nação e as Forças Armadas e, no que diz respeito ao Brasil, a preservação da Amazônia é um componente fundamental desse elo”, disse.


José Genoíno, do Ministério da Defesa:
maior papel do país, no futuro, é diminuir
as suas vulnerabilidades (Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr)

O então comandante militar da Amazônia, general Luis Carlos Gomes Mattos, ressaltou a necessidade de o Brasil desenvolver formas mais eficazes de coibir ilícitos nas fronteiras e manter diálogo permanente com os governos das demais nações que compõem a Amazônia sul-americana para a defesa da região.


Dissuasão só será eficaz se país dispuser de efetivos treinados e bem armados, capazes de durar no combate (Foto: Glauco Brandão)