sábado, 24 de janeiro de 2015

SOTAQUE GAÚCHO NOS COMANDOS MILITARES




ZERO HORA  24/01/2015 | 04h01



por Guilherme Mazui


Dilma Rousseff dá sotaque gaúcho para a elite militar. Três dos quatro comandantes da área da defesa do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff nasceram no Rio Grande do Sul




A partir de fevereiro, ver os comandantes do Exército, Aeronáutica e Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA) reunidos com semblantes tensos não indicará obrigatoriamente uma crise militar. Poderá ser apenas um jogo do Internacional.

Ao anunciar a troca da cúpula das três forças após oito anos, a presidente Dilma Rousseff deu sotaque gaúcho para a elite militar. Com a permanência no EMCFA do general José Carlos De Nardi, natural de Farroupilha, dos quatro principais postos das Forças Armadas três serão ocupados por oficiais do Rio Grande do Sul.


De Nardi ganha a companhia do brigadeiro Nivaldo Rossato, nascido em São Gabriel, e do general Eduardo Villas Bôas, de Cruz Alta. Nas próximas semanas, Rossato assume o comando da Aeronáutica e Villas Bôas, do Exército. Em comum, além da Estado natal, os três têm experiência de comando, passagens por embaixadas e bom trânsito no meio político.

— E são todos colorados, temos um consulado — brinca De Nardi.

A paixão do general pelo Inter é conhecida em Brasília. Quando seu celular toca, ecoa o hino do time em versão tradicionalista. Entre medalhas e presentes, tem na parede do gabinete no sétimo andar do Ministério da Defesa o diploma de conselheiro colorado.

Nascido na Serra, De Nardi cresceu no quarto distrito de Porto Alegre. Doutor em Ciências Militares, assumiu em 2010 o recém-criado EMCFA, responsável por assessorar o ministro da Defesa e por operações integradas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Após coordenar a estratégia de defesa na Copa, repetirá o trabalho na Olimpíada 2016, no Rio.

Atleta de natação e polo aquático na juventude, Villas Bôas (ou VB, como chamam os amigos), destacou-se na selva e nos gabinetes. Liderou a assessoria parlamentar do Exército e o Comando Militar da Amazônia. Sua escolha foi uma surpresa, já que era o mais jovem na carreira dos postulantes ao cargo. Pesou seu perfil. Villas Bôas é considerado conciliador e afável.

Rossato é um experiente piloto, com curso de comando e controle na Força Aérea francesa e mais de 3,5 mil horas de voo em diferentes aeronaves militares. Ele segue o trabalho do brigadeiro Juniti Saito no comando da Aeronáutica, de quem era o chefe do Estado-Maior.

Na Marinha, assumirá o almirante de esquadra Eduardo Barcellar Leal Ferreira, 62 anos, nascido no Rio de Janeiro.




"Ajudamos a mudar uma cultura, que aprimora as Forças Armadas"
General de Exército José Carlos De Nardi permanecerá no Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA) no segundo governo da presidente Dilma


General de Exército, José Carlos De Nardi permanece à frente do EMCFA Foto: Jorge Cardoso / Especial


Desde 2010 comandante do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), o general de Exército José Carlos De Nardi permanecerá na função no segundo governo da presidente Dilma. No Exército desde 1961, foi adido no Chile e esteve à frente do Comando Militar do Oeste e do Comando Militar do Sul. O EMCFA coordena as atividades que envolvem as três forças e assessora diretamente o ministro da Defesa. De Nardi foi responsável pela estratégia de defesa na Copa, função que repetirá na Olimpíada 2016, no Rio de Janeiro.



O EMCFA completará cinco anos. O que foi possível fazer nesse período?

A minha principal missão chama-se interoperabilidade. Já acabou aquela ideia de que Exército é só terra, Força Aérea apenas ar e Marinha, mar. Hoje, não existe guerra ou guerrilha onde só se aplique uma força. O EMCFA ajuda a mudar uma cultura, que aprimora as Forças Armadas.

Dos comandantes, apenas o senhor segue na função no novo mandato de Dilma. Mudou o perfil de comando das forças?

O Rossato (tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Rossato) já trabalhava com o (comandante) Juniti Saito (na FAB), é uma continuidade. O (general) Enzo Peri (comandante do Exército) era mais reservado, o (general) Villas Bôas é mais aberto. E todo mundo segue o chefe do EMCFA, todos são colorados (risos). No lado militar, todos têm experiência como os antigos. Cada um vai colocar um pouco de si, mas, em linhas gerais, não vejo grandes mudanças.

A defesa funcionou bem na Copa. Muda muito para a Olimpíada 2016?

Na Copa, tínhamos 12 cidades com jogos de dois em dois dias. No Rio, são jogos na mesma cidade e sem folga, ou seja, vai exigir uma segurança dobrada. Estamos nos preparando há um ano. Inicialmente, penso em destacar só das Forças Armadas entre 20 mil e 30 mil homens.




"Desafio é ampliar ainda mais o processo da modernização da FAB"


Futuro comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) será o tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato


Tenente-brigadeiro do ar, Nivaldo Luiz Rossato será comandante da FAB Foto: Bruno Batista / Divulgação


O futuro comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) será o tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato. Entrou em 1969 na FAB. Ao longo da carreira, tornou-se líder de Grupo de Aviação de Caça. Acumula mais de 3,5 mil horas de voo, além de cursos para caça aérea, líder de esquadrilha, líder de esquadrão, piloto de transporte de tropa e inspetor de aviação civil. Foi adido na Venezuela e chefe do Estado-Maior da Aeronáutica.

Quais os desafios para a Aeronáutica nos próximos anos?

Um dos desafios é ampliar ainda mais o processo de modernização da FAB (Força Aérea Brasileira). Nos últimos anos, as conquistas foram inegáveis. O meu compromisso é manter uma Força Aérea com capacidade de pronta resposta, ágil, proativa e que seja orgulho de todos os brasileiros.

Um exemplo de modernização é a compra dos caças suecos Gripen?

O contrato prevê a aquisição de 36 caças. A aeronave foi projetada para controle do ar, defesa aérea, reconhecimento aéreo, ataques ar-solo e ar-mar. O Gripen NG permitirá à FAB enfrentar ameaças em qualquer ponto do território nacional com carga plena de armas e combustível. Proporcionará ao país exponencial poder dissuasório, garantindo a soberania do Brasil.

Os cortes no orçamento da União podem influenciar no dia a dia da FAB?

O Comando da Aeronáutica é solidário aos esforços de consolidação fiscal e diminuição do déficit público. A FAB tem buscado cumprir as diversas tarefas a ela atribuídas por meio de uma gestão eficiente e responsável.




"É preciso modernizar o Exército, o que implica incorporar tecnologia"


General Eduardo Villas Bôas será o novo comandante do Exército


O general Eduardo Villas Bôas será o novo comandante do Exército, onde ingressou em 1967 e tornou-se aspirante a oficial em 1973. Destacou-se à frente do Comando Militar da Amazônia. Articulado e conciliador, passou pela assessoria parlamentar do Exército. Também foi adido na China. Respondia pelo Comando de Operações Terrestres, função na qual participou das ações de segurança e defesa na Copa.


Quais os desafios para o Exército nos próximos anos?

Somos a sétima economia do mundo, pleiteamos assento no Conselho de Segurança da ONU, ou seja, temos de ter Forças Armadas modernas, capazes de se projetar em qualquer lugar que o Brasil tenha interesse. Para isso, é preciso modernizar o Exército, o que implica incorporar tecnologia.

Logo que saiu a sua nomeação, o senhor foi descrito como conciliador. Está correto?

Meu perfil não difere do militar moderno. A inteligência emocional é o mais importante, foge do estereótipo do militar carrancudo e autoritário. Os relacionamentos são importantes. Hoje, não se consegue comandar só com base na hierarquia e na disciplina. Tem de haver liderança.

Qual o ensinamento que o senhor tirou da Amazônia?

O Brasil precisa conhecer a Amazônia. Ela abriga as respostas dos principais problemas que atingem a humanidade: energia renovável, água, alimento e mudança climática. Há muita ideia preconcebida. Na questão indígena, os índios são reféns de organizações, e sem possibilidade de expressar suas reais necessidades. O Brasil precisa se debruçar mais sobre a Amazônia.