segunda-feira, 11 de novembro de 2013

VALORES, DEVERES E ÉTICA MILITARES

ex_novo.jpg (23981 bytes)
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
SECRETARIA - GERAL DO EXÉRCITO
COMISSÃO DE CERIMONIAL MILITAR DO EXÉRCITO
Vade-Mécum de Cerimonial Militar do Exército
Valores, Deveres e Ética Militares (VM 10)
1ª Edição 2002
PORTARIA Nº 156, DE 23 DE ABRIL DE 2002

          Aprova o Vade-Mécum de Cerimonial Militar do Exército - Valores, Deveres e Ética Militares (VM 10).
           O COMANDANTE DO EXÉRCITO, no uso da competência que lhe confere o art. 30 da Estrutura Regimental do Ministério da Defesa, aprovada pelo decreto nº 3.466, de 17 de maio de 2000, de acordo com o que propõe a Secretaria-Geral do Exército, ouvida a Comissão de Cerimonial Militar do Exército resolve:
          Art.1º Aprovar o Vade-Mécum de Cerimonial Militar do Exército - Valores, Deveres e Ética Militares (VM 10), que com esta baixa.
          Art.2º Estabelecer que esta Portaria entre em vigor na data de sua publicação.

Gen Ex GLEUBER VIEIRA
Comandante do Exército
ÍNDICE DE ASSUNTOS 
VADE-MÉCUM DE CERIMONIAL MILITAR DO EXÉRCITO
VALORES, DEVERES E ÉTICA MILITARES (VM 10)


                                 -  PATRIOTISMO
                                 -   CIVISMO
                                 -   FÉ NA MISSÃO DO EXÉRCITO
                                 -   AMOR A PROFISSÃO
                                 -   ESPÍRITO DE CORPO
                                 -   APRIMORAMENTO TÉCNICO-PROFISSIONAL 

                                 -   DEDICAÇÃO E FIDELIDADE  À  PÁTRIA
                                 -   RESPEITO AOS SÍMBOLOS NACIONAIS
                                 -   PROBIDADE E LEALDADE
                                 -   DISCIPLINA E RESPEITO À  HIERARQUIA
                                 -   RIGOROSO CUMPRIMENTO DOS DEVERES E ORDENS
                                 -   TRATO DO SUBORDINADO COM DIGNIDADE

                                 -   QUADRO - ÉTICA MILITAR
                                 -   PRECEITOS DA ÉTICA MILITAR

CERIMONIAL MILITAR DO EXÉRCITO 
VADE-MÉCUM Nº 10
CAPÍTULO I

F2.jpg (41183 bytes)

1. FINALIDADE
O presente vade-mécum ressalta, de forma abrangente e simples, as principais "idéias-força" referentes aosVALORES, DEVERES E ÉTICA MILITARES, visando a contribuir para o continuado aprimoramento das virtudes militares.

2. REFERÊNCIAS
- Constituição da República
- Estatuto dos Militares (E1-80)
- Missão do Exército (SIPLEX – 1)
- Regulamento Disciplinar do Exército (R4)
- Liderança Militar (IP 20-10)


3. GENERALIDADES

     a. A profissão militar caracteriza-se por exigir do indivíduo inúmeros sacrifícios, inclusive o da própria vida em benefício da Pátria.
Esta peculiaridade dos militares os conduz a valorizar certos princípios que lhes são imprescindíveis.
Valores, Deveres e Ética Militares são conceitos indissociáveis, convergentes e que se complementam para a obtenção de objetivos individuais e institucionais.
     b. A SGEx, como órgão de assessoramento do Cmt Ex, encarregada, dentre outras missões, da concessão de medalhas e do cerimonial militar do Exército, sentiu a necessidade de elaborar o presente vade-mécum, pois Valores, Deveres e Ética Militares são os fatores mais relevantes na avaliação das propostas de concessão das honrarias e os grandes motivadores das solenidades cívico - militares, em especial do seu cerimonial militar.
     c. Esse documento, por ser didático e de fácil entendimento, deve ser utilizado também como subsídio para os comandantes de OM, em suas alocuções nas solenidades e formaturas diárias, e em outras instruções voltadas para a área afetiva.

A CARREIRA MILITAR

f3.jpg (20682 bytes)     " A carreira militar não é uma atividade inespecífica e descartável, um simples emprego, uma ocupação, mas um ofício absorvente e exclusivista, que nos condiciona e autolimita até o fim. Ela não nos exige as horas de trabalho da lei, mas todas as horas da vida, nos impondo também nossos destinos. A farda não é uma veste, que se despe com facilidade e até com indiferença, mas uma outra pele, que adere à própria alma, irreversivelmente para sempre".

                                                                            
VALORES MILITARES

As Instituições Militares possuem referenciais fixos, fundamentos imutáveis e universais. São os valores militares. As manifestações essenciais dos valores militares são:

Quadro Valjpg.jpg (74350 bytes)
     
Esses valores influenciam, de forma consciente ou inconsciente, o comportamento e, em particular, a conduta pessoal de cada integrante da Instituição. A eficiência, a eficácia e mesmo a sobrevivência das Forças Armadas decorrem de um fervoroso culto a tais valores.

PATRIOTISMO
f1.jpg (33080 bytes)
- Amar a Pátria e defender a sua:
   . soberania;
   . integridade territorial;
   . unidade nacional;
   . paz social.
- Cumprir, com vontade inabalável:
   . o dever militar;
   . o solene juramento de fidelidade à Pátria até com o "sacrifício da própria vida".
- Ter um ideal no coração:
"servir à Pátria".
" Brasil acima de tudo!"
(Lema da Bda Inf Pqdt)

CIVISMO

F11.jpg (22744 bytes)
-  Cultuar:
   . os Símbolos Nacionais;
   . os valores e tradições históricas;
   . a História-Pátria, em especial a militar;
   . os heróis nacionais e os chefes militares do passado.
-  Exteriorizar esse sentimento: participando, com entusiasmo, das solenidades cívico-militares; comemorando as datas históricas; cultuando os nossos patronos e heróis; preservando a memória militar e, sempre que oportuno, fazendo apologia aos valores cívicos.- Os militares devem constituir um importante fator para a disseminação do civismo no seio da sociedade brasileira.
"Recebo o sabre de Caxias como o próprio símbolo da honra militar"
(Compromisso do Cadete da AMAN)

FÉ NA MISSÃO DO EXÉRCITO

F12.jpg (22082 bytes)
-  Amar o Exército.-  Ter fé na sua nobre missão de:
    . defender a Pátria;
    . garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem;
    . cooperar com o desenvolvimento nacional e a defesa civil;
    . participar de operações internacionais.

"O Exército do presente é o mesmo povo em armas do passado:
o braço forte que garante a soberania
a mão amiga que ampara nos momentos difíceis."

AMOR À PROFISSÃO

F13.jpg (30765 bytes)
- "Vibrar" com as "coisas" do Exército Brasileiro.- Exteriorizar esse valor, permanentemente, pelo(a):
   . entusiasmo;
   . motivação profissional;
   . dedicação integral ao serviço;
   . trabalho por prazer;
   . irretocável apresentação individual;
   . consciência profissional;
   . espírito de sacrifício;
   . gosto pelo trabalho bem-feito;
   . prática consciente dos deveres e da ética militares;
   . satisfação do dever cumprido.
"Ser soldado é mais que profissão:
é missão de grandeza!"
(Inscrição no pátio interno da AMAN)

ESPÍRITO DE CORPO

F14.jpg (17611 bytes)
- É orgulhar-se:
   . do Exército Brasileiro;
   . da Organização Militar onde serve;
   . da sua profissão;
   . da sua arma ou especialidade;
   . de seus companheiros.
- Deve ser entendido como um "orgulho coletivo", uma "vontade coletiva."- O espírito de corpo reflete o grau de coesão da tropa e de camaradagem entre seus integrantes.- Exteriorizar esse valor por meio de: canções militares, gritos de guerra e lemas evocativos; uso de distintivos e condecorações regulamentares; irretocável apresentação e, em especial, do culto aos valores e às tradições de sua Organização.
"Não pergunte se somos capazes, dê-nos a missão!"
(Exemplo de lema de um Pelotão)

APRIMORAMENTO TÉCNICO-PROFISSIONAL

F15.jpg (15593 bytes)
- Um exército moderno, operacional e eficiente exige de seus integrantes, cada vez mais, uma elevada capacitação profissional.- O militar, por iniciativa própria ou cumprindo programas institucionais, deve buscar seu continuado aprimoramento técnico-profissional.- Esse aprimoramento é obtido mediante:
   . grande dedicação pessoal nos cursos, estágios e instruções (vontade de aprender);
   . estudos e leituras diárias sobre assuntos diversos de interesse profissional (auto-aperfeiçoamento);
   . manutenção da capacitação física;
   . empenho no exercício diário de sua função (desempenho funcional).

"Por mais que evoluam a arte da guerra, a tecnologia das armas e a sofisticação dos equipamentos, a eficácia de um exército dependerá, cada vez mais, de seus recursos humanos. Soldados adestrados, motivados e bem liderados continuarão sendo o fator decisivo para a vitória."

F16.jpg (17296 bytes)
Há coisas na vida que foram feitas mais para serem sentidas do que explicadas.
Por exemplo: ser soldado.
Pode-se perguntar:
"Que tipo de estímulo o leva a entregar-se aos sacrifícios sem a contrapartida de maior recompensa senão sentir-se realizado com a missão bem comprida?"
Ou então:
"Que o leva a saltar de pára-quedas, escalar montanhas, embrenhar-se na selva e na caatinga, cruzar os pantanais, vadear os rios e atravessar os pampas, indo a toda parte que a Pátria lhe ordenar, sem reclamar de nada?"
Impossível responder. Afinal, ser soldado é um estado de espírito.
"...Vale a pena ser soldado!
Vale a pena ser do Exército Brasileiro!" E ninguém tente entender! Melhor apenas sentir..."


                                                                              
DEVERES MILITARES


Os deveres militares emanam de um conjunto de vínculos morais e jurídicos que ligam o militar à Pátria e à Instituição. São deveres militares:

Quadro Dev.jpg (55090 bytes)
     
Existem os deveres moral e jurídico. Dever moral é o que se caracteriza por ser voluntariamente assumido, havendo ou não imposição legal para o seu cumprimento. Dever jurídico é o imposto por leis, regulamentos, normas, manuais, diretrizes, ordens, etc.

DEDICAÇÃO E FIDELIDADE À PÁTRIA

F18.jpg (20511 bytes)
- Dedicar-se inteiramente ao serviço da Pátria. - Defender a sua honra, integridade e instituições.- Priorizar o interesse da Pátria sobre os interesses pessoais ou de grupos sociais.- Exteriorizar esse sentimento demonstrando, em todas as situações:
   . o orgulho de ser brasileiro;
   . a fé no destino do país;
   . o culto ao patriotismo e ao civismo.
"... heróis a lutar, por um Brasil maior, na paz como na guerra, honrando as tradições de nossa terra."
(canção da Academia Militar das Agulhas Negras)

RESPEITO AOS SÍMBOLOS NACIONAIS
F19.jpg (24122 bytes)
Os Símbolos Nacionais são:
band.gif (531 bytes)
Bandeira Nacional
hino.gif (1394 bytes)
Hino Nacional
brasao.gif (5933 bytes)
Armas Nacionais
selonac.gif (2431 bytes)
Selo Nacional
- O respeito aos Símbolos Nacionais, em especial à Bandeira e ao Hino, é expressão básica de civismo e dever de todos os militares.- O culto à Bandeira Nacional é exteriorizado, normalmente, mediante: honras e sinais de respeito a ela prestados nas solenidades; o tradicional cerimonial de Guarda-Bandeira; a sua posição de destaque nos desfiles; o seu hasteamento diário nas nossas Organizações Militares e, também, o modo de guardá-la quando não estiver em uso.- O respeito ao Hino Nacional é traduzido: pelas honras que lhe são prestadas nas solenidades militares; pelo seu canto, com grande entusiasmo e também pela postura que o militar toma quando ouve os seus acordes.
"Salve símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz".
(Hino à Bandeira)

PROBIDADE E LEALDADE

F20.jpg (14807 bytes)
- Probidade, entendida como:
   . integridade de caráter;
   . honradez;
   . honestidade;
   . senso de justiça.
- Lealdade, traduzida pela:
   . sinceridade;
   . franqueza;
   . culto à verdade;
   . fidelidade aos compromissos;
   . Ou seja: a intenção de não enganar seus superiores, pares ou subordinados.
"Os militares devem manter, seja no serviço ou fora dele, na ativa ou na inatividade, uma conduta ilibada, em todas as situações" 
(Estatuto dos Militares)

DISCIPLINA E RESPEITO À HIERARQUIA

F21.jpg (13236 bytes)
- Constituem a base institucional das Forças Armadas.- Disciplina, entendida como:
   . rigorosa obediência às leis, aos regulamentos, normas e disposições;
   . correção de atitudes na vida pessoal e profissional;
   . pronta obediência às ordens dos superiores;
   . fiel cumprimento do dever.
- A disciplina deve ser consciente e não imposta. 
- Hierarquia, traduzida como a ordenação da autoridade em diferentes níveis . É alicerçada:
   . no culto à lealdade, à confiança e ao respeito entre chefes e subordinados;
   . na compreensão recíproca de seus direitos e deveres;
   . na liderança em todos os níveis.
"Cadete, ides comandar, aprendei a obedecer!"
Inscrição no pátio interno da AMAN)

RIGOROSO CUMPRIMENTO DOS DEVERES E ORDENS

F22.jpg (30856 bytes)
- Tem como fundamentos a disciplina e a hierarquia.- É honrar o solene juramento de cumprir rigorosamente as ordens das autoridades a que estiver subordinado.
Exemplo de rigor no cumprimento de uma ordem:
Diálogo em combate

Capitão para Tenente:
- O inimigo não pode transpor essa ponte à sua frente, caso contrário a missão do nosso Batalhão ficará comprometida.
Resista com seu Pelotão, na defesa desse ponto forte, por duas horas, pois é o tempo da nossa Companhia chegar em reforço.
A missão tem que ser cumprida a qualquer custo. Alguma dúvida ?
Tenente:
- Não senhor. Asseguro-lhe que a missão será cumprida.
Capitão:
- "Brasil!"
Tenente:
- "Acima de tudo!"

TRATO DO SUBORDINADO COM DIGNIDADE
F23.jpg (12792 bytes)
- Trato do subordinado com bondade, dignidade, urbanidade, justiça e educação, sem comprometer a disciplina e a hierarquia .- Incentivo ao exercício da liderança autêntica que privilegie a persuasão em lugar da coação e que seja conquistada não pelo paternalismo, mas pela competência profissional, aliada à firmeza de propósitos e à serenidade nas atitudes .- Importância do exemplo pessoal, do desprendimento e do respeito ao próximo, demonstrados pelos chefes em todos os escalões, como incentivo à prática de atitudes corretas por parte de cada um.- Não confundir rigor com mau trato, nem bondade com "bom-mocismo".
"...tratar com afeição os irmãos de arma e com bondade os subordinados".
(Compromisso militar)

F24.jpg (9811 bytes)
"A vocação é a fonte de todas as virtudes militares".


                                                                            
ÉTICA MILITAR

    
É o conjunto de regras ou padrões que levam o militar a agir de acordo com o sentimento do dever, a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe. Ela impõe, a cada militar, conduta moral irrepreensível.

Quadro Etica.jpg (32875 bytes)

CONCEITUAÇÕES

     Sentimento do dever – refere-se ao exercício, com autoridade e eficiência, das funções que lhe couberem em decorrência do cargo, ao cumprimento das leis, regulamentos e ordens e à dedicação integral ao serviço. 

     Honra Pessoal – refere-se à conduta como pessoa, à sua boa reputação e ao respeito de que é merecedor no seio da comunidade.

     É o sentimento de dignidade própria, como o apreço e o respeito que o militar se torna merecedor perante seus superiores, pares e subordinados. 

     Pundonor Militar – refere-se ao indivíduo como militar e está intimamente relacionado à honra pessoal. É o esforço do militar para pautar sua conduta como a de um profissional correto, em serviço ou fora dele.O militar deve manter alto padrão de comportamento ético, que se refletirá no seu desempenho perante a Instituição a que serve e no grau de respeito que lhe é devido .

     Decoro da Classe – refere-se aos valores moral e social da Instituição (Exército Brasileiro) e à sua imagem ante a sociedade.
Representa o conceito social dos militares.

qqqq.jpg (148627 bytes)



I – Cultuar a verdade, a lealdade, a probidade e a responsabilidade como fundamentos de dignidade pessoal.
II – Exercer, com autoridade e eficiência, as funções que lhe couberem em decorrência do cargo.
III – Respeitar a dignidade da pessoa humana.
IV – Cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as instruções e as ordens das autoridades a que estiver subordinado.
V – Ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação do mérito dos subordinados.
VI – Zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual e físico e, também, pelo dos subordinados, tendo em vista o cumprimento da missão comum.
VII – Dedicar-se integralmente ao cumprimento do dever.
VIII – Praticar a camaradagem e desenvolver, permanentemente, o espírito de cooperação.
IX – Ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua linguagem escrita e falada.
X – Abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria sigilosa de qualquer natureza.
XI – Cumprir seus deveres de cidadão.
XII – Proceder de maneira ilibada em todas as situações.
XIII – Observar as normas da boa educação.
XIV – Garantir assistência moral e material aos seus dependentes legais.
XV – Conduzir-se, mesmo fora do serviço ou quando já na inatividade, de modo que não sejam prejudicados os princípios da disciplina, do respeito e do decoro militar.
XVI – Abster-se de fazer uso do grau hierárquico para obter facilidades pessoais de qualquer natureza ou para encaminhar negócios particulares ou de terceiros.
XVII – Abster-se do uso das designações hierárquicas em atividades que venham a comprometer o bom nome das Forças Armadas; e
XVIII – Zelar pela observância dos preceitos da ética militar.

A violação dos Deveres, Valores e Ética Militares constitui, normalmente, crime ou transgressão disciplinar e é fator impeditivo para a concessão das condecorações da Ordem do Mérito Militar, Medalha Militar, Pacificador, Praça Mais Distinta e outras.
f30.jpg (8203 bytes)
          "Os povos que desdenham as virtudes e não se preparam para uma eficaz defesa do seu território, de seus direitos e de sua honra, expõem-se às investidas dos mais fortes e aos danos e humilhações conseqüentes da derrota".

sábado, 9 de novembro de 2013

EXÉRCITO OCUPA VILA EM PORTO ALEGRE


ZERO HORA 09 de novembro de 2013 | N° 17609

EDUARDO TORRES

OLHO NO MUNDIAL. Exército ocupa vila na Capital

Exercício na Vila dos Sargentos, na Zona Sul, faz parte de treinamento de militares para a Copa de 2014



O blindado Urutu, do 8º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada, do Exército, com sua sirene ensurdecedora acionada, avançava em velocidade pela Avenida Orleans, seguido por jipes e outros veículos apinhados de soldados fortemente armados. Na sequência do comboio, viaturas da Polícia Civil e da Brigada Militar se aproximavam.

Em menos de cinco minutos, a principal entrada da Vila dos Sargentos, no bairro Serraria, zona sul da Capital, estava dominada. A auxiliar de enfermagem Carmen Bitencourt, 58 anos, caminhava desconfiada. Era final da tarde de quinta-feira quando as duas principais saídas da vila foram tomadas. Até a madrugada de ontem, a Vila dos Sargentos viveu clima de ocupação, como nas favelas cariocas.

Oficialmente, era um exercício da unidade do Exército vizinha à vila, como parte da preparação para a Copa do Mundo. E a titular da 6ª Delegacia da Polícia Civil, delegada Áurea Hoppel, tranquilizou a moradora:

– É um exercício de presença da segurança pública na comunidade.

Carmen, mais calma, sorriu:

– A gente fica preocupada, né?

Diante do Urutu, com um soldado controlando um rifle, as crianças se divertiam. Alguns faziam fotos com a situação inusitada. Outros, durante horas, mantiveram o olhar desafiador aos agentes de segurança.

Foram mobilizados 30 homens do Exército, 20 da Polícia Civil e oito da Brigada Militar, com abordagens a veículos e pedestres nas ruas. Era a segunda parte do exercício. Alguns carros foram recolhidos por irregularidades e dois homens, armados com facas, responderam a termos circunstanciados.



Homens investiram contra unidade


Havia um tom simbólico na ação. Como um recado contra a ousadia dos criminosos. Há duas semanas, a sede do 8º Esquadrão foi ameaçada por um plano que já havia virado lenda na Vila dos Sargentos: dois homens tentaram invadir as instalações militares. Foram afastados do local por um tiro de alerta do sentinela, mas a ação serviu para mostrar às autoridades que a ideia dos criminosos de tomar as armas do quartel não é tão irreal assim.

De acordo com o major Flávio Américo, que comandou a ação dos militares, a escolha da vila para o exercício foi aleatória.

– Seguimos o critério da proximidade com o batalhão e do relacionamento com a comunidade – diz.

Segundo o major, ações como essa podem ser necessárias durante a Copa do Mundo. Ele evita falar sobre a ameaça recente:

– São ações de controle rápido. Isso pode ser requisitado durante a Copa e precisamos estar preparados.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

JOVEM GAÚCHA EM WEST POINT


ZERO HORA 8 de novembro de 2013 | N° 17608

HUMBERTO TREZZI

ELITE MILITAR

Credenciada por ótimos resultados na escola e em testes físicos, estudante faz intercâmbio na mais prestigiada academia dos EUA



Desde o início do ano, o lar da gaúcha Kizzy Fernanda Terra Ferreira dos Reis é West Point, a mais prestigiada Academia Militar da América, localizada a 80 quilômetros de Nova York, nos Estados Unidos. Ela estuda como intercambista no centro de formação de cadetes que tem dois séculos e meio de tradição.

Filha de um servidor público e de uma professora, Kizzy não se imaginava vestindo farda. Até a adolescência, era uma garota como as outras, com um incomum pendor para a matemática. Foi então que, em busca de bom preparo para o vestibular, conseguiu uma disputada vaga no Colégio Militar de Porto Alegre. Habituada à mescla de estudo rigoroso e disciplina castrense, teve aprovação simultânea, aos 17 anos, em três rigorosas instituições de ensino militares (da Marinha, da Aeronáutica e do Exército). Optou por este último, ao cursar o Instituto Militar de Engenharia. E não parou aí.

Aos 21 anos, Kizzy é a primeira gaúcha a participar da missão brasileira de intercâmbio de estudos e treinamento militar em West Point, que está em sua terceira edição. Chegou lá a partir de seu desempenho escolar em 2012, quando estava no 3º ano do Ensino Médio. No início deste ano, em seu primeiro período em West Point, participou de uma tradicional competição militar, a Sandhurst, que congrega alunos militares do mundo inteiro.

A gaúcha participou de uma seleção, com testes físicos dignos de um Rambo: incluíam corrida, flexões, abdominais e sustentação na barra. Kizzy obteve o primeiro lugar e se habilitou a ser primeira representante oriunda do Colégio Militar de Porto Alegre a participar desse torneio militar internacional. A competição envolve homens e mulheres, algo incomum no Brasil (a Academia Militar de Agulhas Negras, a mais tradicional brasileira, não permite ingresso feminino, por exemplo).

Desde julho, o mundo de Kizzy virou um quartel gigante. Recebe instruções teóricas e práticas de orientação diurna e noturna. De tiro de fuzil, de morteiro e de artilharia. De comunicações por rádio e fio. Faz patrulhas, corre em pista de obstáculos, treina combate urbano e subida por cordas e, quando já não aguenta mais, vem mais exercício. Ao final da uma das atividades de campo, por exemplo, teve de fazer uma corrida de aproximadamente 12 quilômetros, a tradicional “Run Back”. Agora veio uma fase mais teórica, de estudos de computação.



08 de novembro de 2013 | N° 17608

ELITE MILITAR

“É uma experiência muito desafiadora”

Nesta entrevista por e-mail, Kizzy fala sobre a rotina nos EUA e de suas ambições:


Zero Hora – Como avalias essa experiência nos EUA? Já tinhas viajado para o Exterior antes?

Kizzy Terra – Já havia viajado para a Argentina, mas por um curto período e apenas para passear. Em abril, foi a primeira vez que vim aos EUA. Fiquei cerca de 10 dias, focada nos treinamentos para a competição. Não tivemos muito tempo para conhecer outros lugares. Agora, a experiência está sendo muito enriquecedora e desafiadora. O que mais me causou estranhamento foi a alimentação. Aqui é comum as pessoas fazerem uma grande refeição no café da manhã e, no almoço, fazerem apenas um lanchinho, ao contrário do Brasil.

ZH – Como é o treinamento militar em West Point? Tem aquelas coisas de matar bicho para comer?

Kizzy – Não teve aquelas “coisas de matar bicho”. Foram realizadas instruções teóricas e práticas de tudo um pouco: tiro de fuzil, de morteiro e de artilharia. Dormimos em alojamentos pré-fabricados de metal, não ficamos acampados no meio da mata durante as três semanas. Comíamos as chamadas rações operacionais no almoço, mas o café da manhã e a janta eram em um refeitório. Agora moro na Academia, em alojamentos com quartos para mulheres.

ZH – O que te levou a optar por esse caminho?

Kizzy – Minha mãe foi professora do munícipio de Porto Alegre, agora está aposentada. Meu pai é economista, funcionário público do Estado. Nenhum deles é militar. Fiz o concurso para o Ensino Médio do Colégio Militar porque estava em busca de um ensino de excelência e uma boa preparação para o vestibular. Descobri o Instituto Militar de Engenharia, para onde fui após o Colégio Militar.

ZH – A rotina de West Point é muito diferente e mais rígida que a do Colégio Militar? É como o treino de uma tropa de elite?

Kizzy – Sim, a rotina é bem diferente, mas não chega a ser como treino de uma tropa de elite. Os treinamentos aqui são concentrados no verão. Ao longo do semestre os cadetes têm as suas obrigações militares, mas a ênfase é nos estudos. Os exercícios de adestramento físico acabaram. Estou tendo aulas teóricas.

Nesta entrevista por e-mail, Kizzy fala sobre a rotina nos EUA e de suas ambições:

Zero Hora – Como avalias essa experiência nos EUA? Já tinhas viajado para o Exterior antes?

Kizzy Terra – Já havia viajado para a Argentina, mas por um curto período e apenas para passear. Em abril, foi a primeira vez que vim aos EUA. Fiquei cerca de 10 dias, focada nos treinamentos para a competição. Não tivemos muito tempo para conhecer outros lugares. Agora, a experiência está sendo muito enriquecedora e desafiadora. O que mais me causou estranhamento foi a alimentação. Aqui é comum as pessoas fazerem uma grande refeição no café da manhã e, no almoço, fazerem apenas um lanchinho, ao contrário do Brasil.

ZH – Como é o treinamento militar em West Point? Tem aquelas coisas de matar bicho para comer?

Kizzy – Não teve aquelas “coisas de matar bicho”. Foram realizadas instruções teóricas e práticas de tudo um pouco: tiro de fuzil, de morteiro e de artilharia. Dormimos em alojamentos pré-fabricados de metal, não ficamos acampados no meio da mata durante as três semanas. Comíamos as chamadas rações operacionais no almoço, mas o café da manhã e a janta eram em um refeitório. Agora moro na Academia, em alojamentos com quartos para mulheres.

ZH – O que te levou a optar por esse caminho?

Kizzy – Minha mãe foi professora do munícipio de Porto Alegre, agora está aposentada. Meu pai é economista, funcionário público do Estado. Nenhum deles é militar. Fiz o concurso para o Ensino Médio do Colégio Militar porque estava em busca de um ensino de excelência e uma boa preparação para o vestibular. Descobri o Instituto Militar de Engenharia, para onde fui após o Colégio Militar.

ZH – A rotina de West Point é muito diferente e mais rígida que a do Colégio Militar? É como o treino de uma tropa de elite?

Kizzy – Sim, a rotina é bem diferente, mas não chega a ser como treino de uma tropa de elite. Os treinamentos aqui são concentrados no verão. Ao longo do semestre os cadetes têm as suas obrigações militares, mas a ênfase é nos estudos. Os exercícios de adestramento físico acabaram. Estou tendo aulas teóricas.


REDUTO DE TRADIÇÕES

West Point é a mais antiga guarnição militar em atividade contínua dos EUA. Funciona sobre as ruínas de um forte construído em 1778. Situada à beira do Rio Hudson, virou reduto dos rebeldes ianques na sua luta pela independência, contra os ingleses, no século XVIII. Com o tempo, virou academia para ensino da carreira de oficial. Os estudantes são oficiais-em-treinamento e são chamados de cadetes. Eles servem obrigatoriamente ao Exército, após a graduação.

Ilustres generais que se formaram em West Point



JOHN J. PERSHING - Comandante das tropas dos Estados Unidos na I Guerra Mundial


DOUGLAS MACARTHUR - Comandante americano em batalhas no Pacífico na II Guerra Mundial


DWIGHT EISENHOWER - Comandante supremo dos Aliados na II Guerra Mundial e ex-presidente dos EUA


NORMAN SCHWARZKOPF - Comandante das forças americanas na Guerra do Golfo, contra o Iraque

domingo, 3 de novembro de 2013

SOLDADOS DA BORRACHA, UMA GUERRA SEM FIM

ZERO HORA 03 de novembro de 2013 | N° 17603

MARCELO MONTEIRO | PORTO VELHO (RO)

GUERRA DA BORRACHA


Es quedas de Adolf Hitler e Benito Mussolini e as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki não trouxeram paz para um grande contingente de brasileiros.

Sete décadas após o fim da II Guerra Mundial, os soldados da borracha ainda buscam reconhecimento pelo sacrifício a que foram submetidos em nome da pátria no chamado “front interno”.

Recrutados pelo governo do presidente Getúlio Vargas para atuar na extração de látex, que seria enviado à indústria bélica americana, os remanescentes da Batalha da Borracha lutam pela equiparação salarial com os integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Com idade avançada – muitos deles têm sérios problemas de saúde –, esses heróis esquecidos veem no possível aumento nos ganhos a última esperança por dias melhores no fim da vida.

Em 1988, com a sua inclusão oficial na condição de combatentes da guerra, os soldados da borracha passaram a ter direito a uma pensão vitalícia, de atualmente R$ 1,35 mil, menos de um terço do soldo recebido pelos pracinhas (R$ 4,6 mil).

– Quando o governo precisou, eles (trabalhadores) vieram de boa vontade. Agora é a hora de reconhecer o esforço desses homens – afirma George Menezes, neto de soldado da borracha e atual vice-presidente do Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros de Rondônia (Sindsbor).


UM FRONT NA SELVA

Entre 1942 e 1945, cerca de 60 mil brasileiros – em sua maioria, nordestinos – fugiram da seca no Sertão, migrando para a Amazônia. Acreditando na promessa de prosperidade propagandeada pelo governo, sonhavam com trabalho e fortuna. Porém, nos seringais inóspitos de Amazonas, Pará, Acre e na área do atual Estado de Rondônia (criado oficialmente em 1982), a maior parte deles – em torno de 35 mil – deparou com a morte.

O índice de baixas foi muito maior do que entre os pracinhas da FEB – enquanto cerca de 35 mil arigós morreram na Amazônia, 465 militares sucumbiram no front italiano. Além de doenças como malária, beribéri, tuberculose e febre amarela, muitos pereceram atacados por onças, sucuris e cobras peçonhentas e até por índios nativos, ainda selvagens. Outros ainda terminaram assassinado por pistoleiros a mando de seringalistas, verdadeiros coronéis da borracha, que em suas propriedades adotavam práticas hoje consideradas análogas à escravidão.

Se, na propaganda oficial, o governo prometia aos migrantes toda a estrutura necessária – alimentação, estadia e materiais de trabalho como tigelas, facas, baldes e bacias –, na prática, os seringueiros já chegavam à Amazônia com dívidas junto aos donos dos seringais.

– Não nos foi dado nada. Foi vendido. Compramos tudo. Aliás, compramos esses utensílios duas ou três vezes – conta o baiano Antônio Barbosa da Silva, 90 anos.

Recrutado em abril de 1942, em sua cidade natal, Alagoinhas, dois meses depois Silva já estava na região onde hoje fica Porto Velho (RO). Segundo ele, em razão do alto preço determinado pelos seringalistas, que monopolizavam a venda de itens de alimentação e higiene, com valores entre 200% e 400% acima do mercado, os trabalhadores dificilmente conseguiam produzir o suficiente para quitar as dívidas.

Impedidos de plantar frutas e verduras e de criar animais para consumo próprio – o que reduziria os ganhos dos seringalistas –, os trabalhadores eram obrigados a pagar o valor imposto nos barracões por produtos como farinha, carne seca e fumo. Um pacote de café, por exemplo, chegava a custar quatro vezes o preço pelo qual era vendido nas cidades. Assim, quanto mais os seringueiros trabalhavam, mais endividados ficavam.

– Eles diziam: “ó, arigó, esse rancho você leva e, se não produzir (látex), não tem mais. E, se tentar fugir, eu mando atrás e mato”. E matavam mesmo – lembra Silva.

Só um em cada 10 homens conseguiu voltar para casa

Criados para organizar o recrutamento e a transferência dos trabalhadores para a Amazônia, o Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (Semta) e a Comissão Administrativa de Encaminhamento de Trabalhadores para Amazônia (Caeta) prometiam aos arigós – trabalhadores que aceitavam a missão nas inóspitas terras do Norte – toda a assistência médica e social necessárias. O governo ainda garantia que, após a guerra, quem quisesse poderia retornar para a cidade de origem, sempre com o apoio oficial.

Entretanto, dos 60 mil jovens que migraram para o Norte, estima-se que apenas 6 mil – um em cada 10 trabalhadores – tenham efetivamente voltado para casa. Os outros quase 20 mil – o número é estimado, pois não há dados oficiais exatos – permaneceram na Amazônia, muitos endividados com os seringalistas, outros simplesmente sem dinheiro para retornar para o Nordeste.

Entre os que ficaram na região, a assistência oficial praticamente inexistiu. A imensa maioria nunca contou com atendimento médico ou proteção jurídica do Estado. Abandonados à própria sorte, por vezes a milhares de quilômetros do aglomerado urbano mais próximo, muitos morreram à míngua, isolados do mundo, deixados para trás como um dos tantos – e tristes – espólios da II Guerra Mundial em todos os continentes.





Filho de migrante perde a juventude na floresta


Descendente de soldado da borracha, o cearense Antônio Falcão Ribeiro, 80 anos, chegou ao seringal ainda criança, com apenas sete anos. Depois de um ano na Amazônia, viu-se obrigado a enterrar o pai, vítima de beribéri, e viveu na pele o sofrimento que se tornaria companheiro dos milhares de migrantes vindos do Nordeste.

Depois da morte do pai, inocentemente, Falcão pediu ao seringalista para mandá-lo de volta para Beberibe, no Ceará, para reencontrar a família. Irritado, o dono da fazenda mandou amarrá-lo e colocá-lo para dormir embaixo do piso de madeira do barracão, sobre uma esteira de pelo de burro. E ainda o ameaçou:

– Se você sair daqui, eu lhe mato.

– Mas eu não ia. Porque pra onde eu ia? Para todo lado era só água e mata, né? – lembra, com dificuldades de conter o choro.

Falcão conta que, em razão dos altos preços dos mantimentos vendidos no barracão, não havia como obter um saldo a receber, por maior que fosse a produção de borracha, também chamada na época de goma elástica:

– Você chegava e pedia: “Um quilo de açúcar”. “Não tem”, mas ele colocava no papel. Quando chegava o mês de junho, e a gente ia fazer conta, e o caderno dizia “você tirou tanto, tanto, tanto e uma saca de açúcar.” E eu dizia: “não tinha açúcar.” Ele batia a mão em um rifle e dizia “não tinha, mas vai pagar”.

Sem poder voltar para casa, Falcão cresceu na mata, “pelado como os animais”, trabalhando até 16 horas por dia sem nunca ter visto um centavo. Só foi liberado, homem feito, quando o seringalista avisou que, enfim, poderia seguir o seu rumo:

– Perdi minha mocidade no mato, sem ser rapaz nem adolescente. De criança, eu passei a velho. Não aprendi e ler e escrever, porque macaco não é professor, onça não é professor, anta também não. E era quem podia me ensinar. Mas o mundo me ensinou, foi respeitar os outros – diz, enquanto limpa as lágrimas.




Batalha atual nos corredores de Brasília


Hoje, os soldados da borracha mais jovens são octogenários. No fim da vida, os cerca de 6 mil remanescentes espalhados pelo Norte querem apenas o que lhes foi prometido. A batalha pela equiparação com os pracinhas da FEB se arrasta há décadas. Os últimos capítulos dessa saga foram escritos nos últimos meses. Só neste ano, cinco deputados federais pediram a inclusão na pauta do dia da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 556. Apresentada em junho de 2002 pela deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), a medida concede aos soldados da borracha os mesmos direitos que já valem para os ex-combatentes da FEB, como aposentadoria e pensão especiais, inclusive para os filhos.

Em outubro, o governo federal descartou qualquer possibilidade de equiparação entre as duas categorias. Propôs aos seringueiros aumento salarial de R$ 144 sobre o atual vencimento, com um bônus, a título de indenização, de R$ 50 mil. A proposta deve ser encaminhada à apreciação da Câmara a qualquer momento.

Em nota, o Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros de Rondônia considerou a medida “um tanto vergonhosa e injusta”. Segundo o sindicato, a indenização proposta pelo governo equivale a um pagamento de R$ 62 mensais, levando-se em conta os 68 anos de espera decorridos desde o fim da guerra.

Em março, na luta para tentar chamar a atenção do drama histórico vivido pelos soldados da borracha, uma comitiva esteve na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, nos EUA. Para muitos soldados da borracha, depois de sete décadas, a esperança no reconhecimento é pequena.

– Quando fomos convocados para cá, disseram que teríamos tudo. E nada tivemos. Era para, quando terminasse a guerra, nós sermos reconvocados e mandados para o nosso torrão natal e sermos indenizados. A guerra terminou e nada disso fizeram – resume Antônio Barbosa da Silva, 90 anos.







ZERO HORA 06/11/2013


CONTAS COM O PASSADO. Câmara aprova indenização para soldados da borracha


PEC prevê R$ 25 mil a seringueiros recrutados durante a II Guerra para produzir borracha a fim de abastecer a indústria bélica norte-americana


Por 347 votos a quatro, a Câmara dos Deputados aprovou ontem a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê indenização para os chamados “soldados da borracha”, seringueiros recrutados na II Guerra Mundial para produzir borracha natural na Amazônia e abastecer a indústria bélica dos EUA. Pela PEC, eles receberão indenização de R$ 25 mil. O texto segue agora para o Senado.

Os dependentes de quem já morreu também serão beneficiados com R$ 25 mil, rateados entre os pensionistas conforme a parte que couber a cada um. Além da indenização, que será paga em parcela única, a pensão mensal vitalícia aos ex-seringueiros e familiares será reajustada de R$ R$1.356 a R$ 1,5 mil. Atualmente, há cerca de 12,8 mil beneficiários.

A luta dos seringueiros foi tema de reportagem especial de Zero Hora de domingo passado. Os soldados da borracha foram, em sua maior parte, nordestinos recrutados pelo governo de Getúlio Vargas para trabalhar nos seringais da Amazônia durante a II Guerra Mundial. A produção brasileira supriu a necessidade de borracha natural dos Aliados devido à ocupação, por parte dos japoneses, das principais regiões produtoras na época, na Malásia.

Com isso, Brasil e EUA, que eram aliados na II Guerra, assinaram acordo segundo o qual o governo norte-americano faria investimentos na produção de borracha amazônica e, em contrapartida, o governo brasileiro encaminharia a mão-de-obra necessária. Parte da produção seria exportada aos EUA para produção bélica.

A partir deste acordo, milhares de pessoas de várias regiões do Brasil, sobretudo do Nordeste, foram contratadas para trabalhar nos seringais da Amazônia. Jovens foram, inclusive, recrutados para atividade, sem possibilidade de rejeitar o trabalho. Estudos mostram que cerca de 30 mil seringueiros morreram em decorrência de doenças como a malária.