sábado, 24 de novembro de 2012

PRIMEIRA OFICIAL GENERAL


Marinha terá primeira oficial general da história das Forças Armadas. Dalva Maria Carvalho Mendes faz parte do grupo de oficiais promovidos após reunião da presidente Dilma com o ministro Celso Amorim



Rafael Moraes Moura, de O Estado de S. Paulo, 23 de novembro de 2012 | 18h 08


BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff assinou nesta sexta-feira, 23, em reunião com o ministro da Defesa, Celso Amorim, a promoção de oficiais das Forças Armadas. Uma das decisões envolve Dalva Maria Carvalho Mendes, que foi promovida a contra-almirante médica da Marinha. Com isso, ela será a primeira mulher oficial general da história das Forças Armadas, segundo informou a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.



Divulgação/Marinha
Dalva Maria Carvalho Mendes é a primeira oficial general da história das Forças Armadas

Dalva Maria, de 56 anos, é viúva, tem dois filhos e ingressou na Marinha do Brasil em 1981. Dedicou a maior parte da sua carreira a atividades no Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio, ocupando funções técnicas e administrativas.

Graduada em Medicina pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e especializada em anestesiologia, Dalva Maria ocupa atualmente o cargo de diretora da Policlínica Naval Nossa Senhora da Glória.

Ela possui três condecorações - Ordem do Mérito Naval, Medalha Mérito Tamandaré e Medalha Militar com Passador de Ouro.

Segundo informações da Marinha, as mulheres representam 33,3% do quadro de oficiais e 6,8% dos praças.

A Marinha foi a primeira das três Forças Armadas a aceitar mulheres. Hoje, as mulheres da Marinha fazem parte do Corpo de Engenheiros, do Quadro dos Corpos de Saúde, do Corpo de Intendentes, dos Quadros Técnico e auxiliar do Corpo Auxiliar.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

LIVRO BRANCO DA DEFESA


13 de novembro de 2012 | 2h 06

Rubens Barbosa

O Poder Executivo, por meio do Ministério da Defesa, apresentou ao Congresso Nacional a primeira versão do Livro Branco de Defesa Nacional, que, somado à Estratégia Nacional de Defesa e à Política Nacional de Defesa, integra o conjunto de documentos sobre as atividades de defesa do Brasil.

Entre outros aspectos, o documento apresenta os princípios básicos da defesa nacional e analisa os sistemas internacionais, regional e o do Atlântico Sul; examina os tratados e regimes internacionais com reflexos para a defesa (desarmamento, não proliferação de armas nucleares, mar, Antártida e espaço exterior e meio ambiente); indica a aproximação da política externa e de defesa; explica o funcionamento do Ministério da Defesa e seus órgãos; elabora sobre os setores estratégicos para a Defesa (nuclear, cibernética e espacial); apresenta os sistemas de monitoramento e controle, de gerenciamento da Amazônia Azul, de fronteiras, de controle do espaço aéreo, de mobilização nacional, do serviço militar, de inteligência de defesa, a participação do Brasil em missões de paz, a atuação das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem, os programas sociais da Defesa, ações subsidiárias e complementares.

O Livro Branco ressalta que os temas relacionados com a defesa nacional devem envolver o conjunto da sociedade brasileira. Desde o advento da Estratégia Nacional de Defesa, as políticas públicas que lhe dizem respeito devem ser definidas de forma concertada, ao incorporar, em sua essência, a ideia de que as decisões de paz e guerra não estão destacadas da soberania popular. A Política de Defesa responde aos interesses da sociedade e do Estado e os documentos legais no campo da defesa nacional, inclusive do Livro Branco de Defesa, devem contribuir para estreitar ainda mais esse vínculo.

O documento aponta corretamente que as políticas externa e de defesa são complementares e indissociáveis. "A manutenção da estabilidade regional e a construção de um ambiente internacional mais cooperativo, de grande interesse para o Brasil, serão favorecidas pela ação conjunta dos dois ministérios. A promoção do interesse nacional, em particular nos temas afetos a desenvolvimento e segurança do País, evidencia a necessidade de fortalecimento dos mecanismos de diálogo entre a Defesa e o Itamaraty no sentido de aproximação de suas inteligências e de um planejamento conjunto".

No plano global, o livro reconhece que o trabalho e a participação articulada de militares e diplomatas em fóruns multilaterais (Conselho de Defesa Sul-Americano e diálogos político-militares) favorecem a capacidade de as políticas externa e de defesa do País se anteciparem, de maneira coerente e estratégica, às transformações do sistema internacional e de suas estruturas de governança, além de facilitarem a tarefa de defender, no exterior, os interesses brasileiros. No plano regional, especialmente no sul-americano, sublinha o trabalho, a relação entre as políticas externa e de defesa deve ocorrer no sentido de fomentar e expandir a integração, de maneira a fortalecer a ação sul-americana no cenário internacional. Deve ser, ainda, fator agregador na capacidade de articulação com os governos vizinhos para afastar ameaças à paz e à segurança na região.

O Atlântico Sul - acentua o Livro Branco - aproxima o Brasil da África. A especial atenção dedicada à África é refletida no crescente comércio e na elevação de financiamentos e investimentos, bem como na cooperação para produção de alimentos e outros bens agrícolas. A proteção das linhas de comunicação e rotas de comércio com a África tem significado estratégico para o País e é mais um fator no sentido de consolidar laços de cooperação no Atlântico Sul.

Esse entrosamento ainda não é bem entendido nem pelo Ministério da Defesa nem pelo Itamaraty, como demonstrado pelas poucas referências à questões de defesa na retórica da política externa.

Segundo o documento, com uma capacidade adequada de defesa o Brasil terá condições de dissuadir agressões ao seu território, à sua população e a seus interesses, contribuindo para a manutenção de um ambiente pacífico em seu entorno. Ao mesmo tempo, e de modo coerente com a política cooperativa do País, a crescente coordenação dos Estados sul-americanos em temas de defesa concorrerá para evitar possíveis ações hostis contra o patrimônio de cada uma das nações da região. Assinala ainda o Livro Branco que pela dissuasão e pela cooperação o Brasil fortalecerá a estreita vinculação entre a sua política de defesa e a sua política externa, esta historicamente voltada para a causa da paz, da integração e do desenvolvimento.

Levando em conta esses conceitos, parecem excessivamente defensivas as afirmações do documento segundo as quais, "por as Forças Armadas possuírem capacidade de projetar poder militar além das fronteiras, essa possibilidade, por si só, é passível de gerar insegurança em nações vizinhas; ao expor as percepções e os interesses nacionais no campo da defesa, o Brasil busca assegurar a compreensão das motivações e finalidades do instrumento militar; para além desse esforço, buscamos demonstrar aos países de fora da região que a nossa defesa possui caráter essencialmente dissuasório e está organizada para evitar que o Brasil sofra ameaças".

Somos informados de que defesa não é delegável e que devemos estar preparados para combater qualquer agressão. Se é assim, parece-me que para defender o interesse nacional não temos de pedir desculpas ou dar explicações a ninguém, mesmo por motivações ideológicas, nem aos vizinhos da região nem aos países de fora do Continente Sul-Americano. O que cabe fazer é buscar parcerias e fortalecer a indústria nacional de defesa.


* PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP

sábado, 3 de novembro de 2012

ATAQUE A CORONEL


ZERO HORA 03 de novembro de 2012 | N° 17242

Mistério na morte do ex-chefe do DOI-Codi

Polícia tenta esclarecer o assassinato de coronel reformado do Exército, assassinado a tiros em suposto assalto no bairro Chácara das Pedras, na Capital


JOSÉ LUÍS COSTA

Em tempos de mobilização nacional em busca da verdade durante o longo período da ditadura no Brasil (1964-1985), a Polícia Civil gaúcha está diante de um crime que relembra um dos episódios mais sombrios do regime militar.

O desafio dos investigadores é esclarecer a morte do coronel reformado do Exército Julio Miguel Molinas Dias, 78 anos, personagem que entrou para história dos anos de chumbo como chefe dos militares responsáveis pelo atentado ao Riocentro, três décadas atrás, no Rio de Janeiro.

O coronel foi assassinado quando chegava em casa às 21h de quinta-feira, na Rua Professor Ulisses Cabral, bairro Chácara das Pedras, em Porto Alegre, por razões ainda tão misteriosas como as atividades dele à frente do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), na capital fluminense.

Viúvo, morando sozinho em um confortável sobrado na Rua Professor Ulisses Cabral, Molinas Dias foi alvejado a tiros ao retornar de uma visita a uma das filhas em um bairro vizinho. Investigações iniciais da Polícia Civil indicam que o militar, armado com uma pistola, reagiu à investida criminosa.

Mas os investigadores tentam descobrir por que um dos assassinos estava no banco do carona do C4 do militar e por qual razão foram disparados tantos tiros, cerca de 15 – três deles acertaram o coronel no tórax, no braço esquerdo e no rosto, o tiro fatal.

Nada teria sido levado a não ser uma pistola que o militar portava. Uma bolsa de couro – com celular, óculos, relógios, carteira e R$ 231 – ficou dentro do veículo da vítima.

Teria sido o coronel vítima de:

1) Uma armadilha de quem desejava se vingar dele?

2) Um roubo de carro malsucedido?

3) Uma tentativa de assalto à residência do militar?

– Não se descarta nenhuma dessas hipóteses – afirma o delegado Luís Fernando Martins Oliveira, da 14ª Delegacia da Polícia Civil de Porto Alegre, responsável pelo caso.

Militar não teria inimigos

Pelo menos em duas oportunidades, o coronel reformado do Exército comentou com a vizinhança que andava sempre armado para defesa pessoal – tinha pelos menos duas pistolas, um revólver e uma arma longa. Ao saber de uma tentativa de roubo de carro nas imediações, garantiu que, com ele, isso não aconteceria, pois iria “mandar balas nos ladrões”.

Mas o cotidiano do militar indicava que ele não tinha inimigos. Vivendo as últimas duas décadas em Porto Alegre, o coronel fez apenas uma visita a uma delegacia da Polícia Civil, em junho, para o registro de uma ocorrência do recebimento de uma multa indevida – um carro com as mesmas placas do dele foi multado em Camaquã, cidade onde o militar nunca esteve.

Embora fosse homem de poucas palavras, Molinas Dias era querido pelos vizinhos com os quais conversava, quando caminhava até a praça em frente à casa dele ou ao se exercitar em uma academia.

– Ainda ontem (quinta-feira) pela manhã abanou para mim quando ia para a ginástica – lamentou, chorando, uma moradora do bairro Chácara das Pedras.

O coronel foi sepultado ontem à tarde no Cemitério Jardim da Paz, em Porto Alegre. Na busca de pistas dos criminosos, a polícia conta com a ajuda da população. Informações podem ser repassadas pelo telefone de plantão da 14ª DP – (51) 3340.2299 – a qualquer hora do dia.

A VÍTIMA

Nome: Julio Miguel Molinas Dias
Idade: 78 anos
Quem foi: coronel do Exército
Onde nasceu: São Borja

AS LINHAS DE INVESTIGAÇÃO

Assassinato - O coronel teria sido vítima de uma execução, atraído para uma cilada ao dar carona para um conhecido interessado na morte do militar.

Roubo de carro - O militar teria sido rendido ao entrar no carro quando deixava a moradia de uma filha. Seria levado como refém, possivelmente, para fazer saques em bancos e reagiu ao chegar na frente de casa.

Assalto à residência - Após render o militar, os criminosos invadiriam a casa da vítima. A dúvida é saber o que fariam lá dentro: roubar objetos da casa ou documentos de atividades do coronel no tempo da ditadura.


Envolvimento do militar em atentado é desconhecido - NILSON MARIANO

A trajetória do coronel do Exército reformado Júlio Miguel Molinas Dias, 78 anos, assassinado a tiros em Porto Alegre, está ligada ao aparelho repressivo da ditadura militar. Quando houve o atentado no Riocentro, em 30 de abril de 1981, ele comandava o DOI-Codi.

Não haveria informações se Molinas Dias planejou, autorizou ou ignorava o atentado – atribuído a militares linha-dura descontentes com a abertura política encaminhada na etapa final do regime militar. Naquela noite de 31 anos atrás, enquanto ocorria um show no Riocentro pelo Dia do Trabalhador, o capitão Wilson Dias Machado e o sargento Guilherme do Rosário estariam planejando explodir uma bomba no pavilhão. Só que o artefato estourou antes, dentro de um automóvel Puma, matando o sargento e deixando o capitão gravemente ferido.

O assassinato de Molinas Dias consternou clubes militares do país, que repercutiram o crime em seus sites. Ontem, o editor do Jornal Inconfidência (Minas Gerais), coronel reformado Carlos Claudio Miguez, recolheu inúmeras manifestações de pesar vindas de outros Estados. Uma das sugestões foi de que o Comando Militar do Sul (CMS) também investigasse a morte.

Em contato com militares que atuaram com a vítima no DOI-Codi do Rio, Miguez apurou que Molinas Dias primava pela discrição. Atualmente, não participava de associações classistas que reúnem os oficiais reformados.

– Era uma pessoa calma, que nunca se meteu em confusões – disse Miguez para ZH, a partir dos relatos que ouviu.

Ativistas de esquerda, que foram perseguidos durante a ditadura militar, desconhecem o coronel assassinado. Representantes do Grupo Tortura Nunca Mais do país, consultados por ZH, não o situam na vanguarda da repressão. O presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), Jair Krischke, consultou o arquivo de mais de três década da entidade. Molinas Dias não consta na lista de repressores – aqueles que torturaram ou mandaram supliciar presos políticos.

Discreto na profissão, também era reservado na vida privada. Nascido em São Borja, Molinas Dias residia há cerca de duas décadas no bairro Chácara das Pedras, em Porto Alegre. Desde que ficou viúvo, há quatro anos, morava só. Costumava almoçar ou jantar na casa de uma das duas filhas, em um bairro vizinho.

Moradores lembram que o coronel era educado, a todos cumprimentava, mas sem alongar conversas. Certo vez, um vizinho perguntou-lhe por que era tão reservado, ouvindo uma resposta enigmática:

– Tenho um monte de presuntos (na gíria policial, significa cadáveres) – teria dito Molinas Dias.

Talvez devido ao tempo de caserna, exercitava-se três vezes por semana numa academia e andava armado com uma pistola. Não gostava de tirar fotografias e, nos momentos de lazer, apreciava ver TV.

BOMBAS DA INTOLERÂNCIA

O atentado ao Riocentro ocorreu por volta das 21h de 30 de abril de 1981, durante show comemorativo ao Dia do Trabalhador. Um explosivo acabou detonando dentro de um Puma, onde estavam o sargento Guilherme do Rosário, que morreu, e o capitão Wilson Machado, que sobreviveu com graves ferimentos.

Militares de extrema direita, descontentes com a abertura política iniciada pelo general João Figueiredo (1979-1985), cometeram o malogrado atentado no Riocentro. Queriam culpar grupos de esquerda, para causar um retrocesso no regime. No entanto, houve uma trapalhada, a bomba explodiu no colo do sargento Rosário.

Ataques terroristas se multiplicavam pelo país, com bombas destruindo bancas de revistas e sedes de jornais de esquerda, os chamados “nanicos”.

Em agosto de 1980, uma carta bomba atingiu a secretária da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio, Lyda Monteiro da Silva, que teve o braço decepado e morreu no hospital. No mesmo dia, uma bomba foi detonada na Câmara de Vereadores do Rio, ferindo seis pessoas.



Capa para a história - RICARDO CHAVES | EDITOR DO ALMANAQUE GAÚCHO

Eu era fotógrafo da Veja e, um mês antes, a revista me transferira para a sucursal do Rio. Na noite de quinta-feira, 30 de abril de 1981, uma edição extra na TV me alertou sobre a explosão de uma bomba no Riocentro, onde se realizava um show comemorativo ao 1º de maio, Dia do Trabalhador.

Liguei para a redação e pedi, urgentemente, um carro. Conhecia pouco a cidade, mas morava no caminho para o local. Lá chegando vi o Puma estourado no estacionamento quase deserto. Achei que estava atrasado, mas era um dos primeiros a chegar.

O show rolava, e todos estavam lá dentro. Não permitiram que me aproximasse muito. Fotografava de onde podia. Bem depois, após a perícia e a retirada do corpo do sargento, liberaram o carro para fotos. Tirei o filme preto e branco e coloquei um colorido. Corretamente intuí que o assunto ia crescer e seria capa da revista. Foi o assunto das semanas seguintes. É, ainda hoje, 31 anos depois.





sexta-feira, 2 de novembro de 2012

PROPOSTA INDECENTE


02 de novembro de 2012 | 2h 01


OPINIÃO O Estado de S.Paulo


O governo federal pretende propor ao governo de São Paulo a ocupação militar da Favela de Paraisópolis, onde atuam chefes do PCC, principal organização criminosa do Estado. Conforme afirmou a titular da Secretaria Nacional de Segurança Pública, Regina Miki, a ação seria semelhante à que resultou na "pacificação" do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em novembro de 2010. Trata-se de uma ideia de quem não conhece São Paulo.

O modelo adotado no Rio é o de recuperação de território perdido para o narcotráfico. Para isso, as favelas (chamadas ali de "comunidades") estão sendo ocupadas pela tropa de elite da polícia fluminense, com o apoio das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança Pública, obrigando os bandidos a abandonar o local. Em seguida, instalam-se as já famosas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Não é uma ação que vise prioritariamente a prender traficantes, mas sim restabelecer a presença do Estado em áreas nas quais sua atuação era inviabilizada pelo crime organizado.

Em São Paulo o Estado está presente nas favelas, que não são territórios controlados pelas organizações criminosas. Os chefes do narcotráfico utilizam as favelas como esconderijo e base para sua atuação, mas não se impõem como substitutos do Estado, como acontece nos morros do Rio. Uma vez denunciados pelos moradores, o que ocorre com frequência, esses criminosos são presos.

Nada disso impede a secretária Regina de fazer a "oferta" a São Paulo. "É uma crise. A gente estanca a crise e sai de lá (da favela), porque entende a autonomia e a competência do Estado", afirmou ela ao Estado. "A gente fez isso no Rio. Você faz a dosimetria das forças, analisando cada caso." Regina reconheceu a "expertise em segurança" de São Paulo, mas disse que os policiais estão com "medo por eles e pela família deles", referindo-se aos ataques contra Policiais militares (PMs) na região metropolitana.

A reação do governo paulista foi imediata e dura. Para o secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, somente quem não conhece Paraisópolis ou mesmo São Paulo poderia ter feito semelhante proposta. "É uma comunidade de 70 mil habitantes. Temos base da PM funcionando lá dentro, guardas-civis metropolitanos, escolas, postos de saúde e diversos equipamentos", disse Ferreira Pinto. O secretário acusou o governo federal de querer "desconstruir a segurança pública" em São Paulo.

Há um evidente odor político na "oferta" do governo federal a São Paulo. As UPPs, convém lembrar, são uma patente do governador Sérgio Cabral (PMDB), grande aliado do governo petista, e sua suposta eficiência foi festejada a tal ponto que se tornou a principal promessa da campanha presidencial de Dilma Rousseff para a área de segurança. Logo no início do mandato, a presidente incluiu o projeto na segunda fase do PAC, mas, 15 meses depois, a instalação nacional de UPPs foi abandonada, por sua óbvia inviabilidade. Mais do que isso: os cortes no Orçamento federal atingiram o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), e os Estados que decidiram abraçar a ideia das UPPs tiveram de fazê-las com recursos próprios. Na Bahia, o governador Jaques Wagner (PT) precisou passar o chapéu entre empresários para construir as unidades.

Como se nota, a atual situação de confronto com o crime organizado em São Paulo, com o acentuado aumento do número de homicídios, animou o governo Dilma a oferecer a "ajuda" que o próprio Planalto sabe não ser viável. Logo, trata-se de "oportunismo barato", como salientou, corretamente, o secretário Ferreira Pinto.

A crise enfrentada pelos paulistas na segurança pública não pode ser transformada em peça de jogo político, ainda mais quando agentes do Estado são executados sistematicamente por bandidos. Na quinta-feira, mais dois policiais militares à paisana foram mortos em São Paulo, na Favela de Heliópolis, elevando para 88 o número de PMs assassinados apenas neste ano. A exploração dessa onda de terrorismo contra policiais, com inconfessável objetivo político, é simplesmente indecente.
O ESTADO DE SÃO PAULO, 02 de novembro de 2012 | 11h 51

No Rio, ataques do CV levaram blindados à favela

O caso mais claro de ações federais em questões de segurança ocorreu no Rio, com apoio da Marinha e Exército


Clarissa Thomé / RIO

O caso mais claro de ações federais em questões de segurança, constitucionalmente um atributo dos Estados, ocorreu no Rio. Justamente após uma onda de ataques na cidade, ordenada por traficantes presos na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), em novembro de 2010, definiu-se a necessidade de ocupação policial dos Complexos do Alemão e da Penha, principal reduto do Comando Vermelho - ao lado do PCC, as mais conhecidas facções criminosas do País.

Mas a ação necessitava de tropas. Por isso, em 25 de novembro, blindados da Marinha entraram nas favelas transportando PMs. Coube ao Exército controlar a área, enquanto eram formados policiais de 8 UPPs. Os federais só deixaram as favelas em julho, após 1 ano e 7 meses.

Procurados pelo Estado, especialistas em segurança pública consideram válida uma ocupação de favelas paulistanas, como Paraisópolis, nesses moldes "Em vez de a polícia ficar nas ruas esperando os ataques, opta-se acertadamente por ocupar o espaço de onde partem as ordens", afirma Paulo Storani, antropólogo, pesquisador da Universidade Cândido Mendes.

Coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade da UFMG, Cláudio Beato Filho defende ocupação permanente de Paraisópolis. "O que está se fazendo agora deveria ser feito no dia a dia." Para o comandante da PM do Rio na época da ocupação, o coronel Mário Sérgio Duarte, "aí sim, com a área sob controle da polícia, que se inicia a retirada de armas do PCC e a quebra de seus braços econômicos".


 / COLABOROU MARCELO GOMES

O EXÉRCITO DEVE ATUAR EM SÃO PAULO?


O Exército e Força Nacional devem atuar em São Paulo? 

Especialistas apresentam argumentos para visões diferentes sobre ocupação de favelas

O Estado de S.Paulo, 02 de novembro de 2012 | 2h 00


SIM - FERNANDO PINHEIRO PEDRO É ADVOGADO, ATUOU NA JUSTIÇA MILITAR
O emprego do Exército e da Força Nacional ajudaria a preservar a imagem da Polícia Militar, que já está bastante desgastada. Homens vindos de fora poderiam ser mais facilmente vistos como representantes de forças neutras, uma vez que os embates dos PMs paulistas com a população acabaram criando uma imagem de desconfiança e de suspeição junto aos policiais. Seria até uma maneira de preservar a corporação.

O crime não se combate apenas com policiamento ostensivo, mas também com autoridades que sirvam como referência no território. Esse papel pode ser cumprido pelo Exército, que aprendeu no Rio a conviver nas comunidades sem o uso de armas e mediando conflitos.

Uma segunda necessidade para complementar essa política seria associar as medidas de segurança com as de saúde, sociais, o trabalho das organizações não governamentais, para assim criar uma rede sólida de proteção. Também ajudaria se promotores e juízes arregaçassem as mangas e fossem trabalhar nesses lugares, lidando com os conflitos.


NÃO - MARISA FEFFERMANN É DOUTORA EM PSICOLOGIA SOCIAL

A ocupação pela Força Nacional e pelo Exército de uma comunidade como Paraisópolis, há décadas estabelecida na cidade, vai servir apenas para quebrar a rotina harmônica vivida pelos habitantes de lá e criminalizar uma população já alheia a diversas oportunidades e direitos que são acessíveis apenas a pessoas que vivem nos bairros centrais. Paraisópolis, que eu conheci como pesquisadora, é uma comunidade efervescente. No fim da tarde e começo da noite, as ruas ficam lotadas de gente: crianças, idosos, carrinhos de bebês, homens e mulheres vestindo uniformes de trabalho. Cheiro de churrasquinho e de fritura, trânsito intenso na rua, dois bancos, escolas, postos de saúde e uma forte sensação de segurança entre pessoas que se conhecem e até dormem com a janela aberta.

A rede de solidariedade é bastante sólida e a chegada de forças de segurança acaba fragilizando esses laços e aumentando o medo. Nas operações anteriores, jovens apanharam, casas foram invadidas, marmitas remexidas, criando-se um forte sentimento de revolta.