sábado, 31 de maio de 2014

MILITAR USA TAPAS PARA INTERROGAR DETIDO

JORNAL EXTRA 30/05/14 12:47

Militar usa tapas para interrogar detido no Complexo da Maré


Marcos Nunes


Um adolescente foi agredido com tapas no rosto, depois de ser detido por militares da Brigada de Infantaria Paraquedista, no Complexo da Maré, no início de maio. A agressão durou pelo menos 57 segundos e foi registrada em um vídeo. A denúncia foi enviada ao EXTRA por um leitor, através do WhatsApp do jornal (21996441263 e 21998099952).

Nesta quinta-feira, a assessoria da Força de Pacificação anunciou ter aberto um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o caso e revelou já ter identificado um sargento como um dos autores da agressão.

No vídeo, o rapaz, que é acusado de estar usando drogas, aparece sentado num local onde há capim, próximo a uma calçada, e ao lado de uma garrafa. O militar inicia o interrogatório perguntando se o jovem é maior de idade, e, em seguida, desfere o primeiro tapa no rosto da vítima.

“Você é maior de idade? Fica usando estas m.”, grita o sargento.



O detido começa a chorar, mas o castigo imposto pelos militares passa a ser mais violento. Um deles volta a agredir o rapaz com tapas. O gesto se repete ainda mais três vezes. “Para de chorar, rapaz! Tá de sacanagem? Vai ficar chorando agora? “ pergunta o militar.

Ao ser agredido pela última vez no vídeo, o adolescente que estava sentado cai no chão e coloca as mãos na cabeça, provavelmente para tentar evitar novas agressões.

Procurado pelo EXTRA, nesta quinta-feira, o major Olavo Kruchak, assessor de imprensa da Força de Pacificação, disse que o Exército não compactua com desvios de conduta e que repudia este tipo de ação. Em nota , ele revelou que o sargento foi afastado do patrulhamento da Maré e está atuando em atividades administrativas. Após o fim das investigações, ele ficará à disposição da Justiça Militar, que julgará o caso.

Ainda segundo a nota, o IPM está sendo presidido por um major, que tem 60 dias de prazo para concluir as investigações.



A Força de Pacificação disse que ainda apura o dia e o local exato da Maré, onde ocorreu a agressão. Os nomes do sargento e da vítima não foram revelados . Abaixo, segue a nota completa da Força de Pacificação.

“ A respeito do vídeo veiculado pela imprensa, o Comando da Força de Pacificação Maré esclarece o seguinte:

Após tomar conhecimento dos atos mostrados no vídeo em questão, prontamente, o Comando da Força de Pacificação Maré determinou que fosse iniciada a apuração desses fatos.

O militar foi identificado rapidamente e um Inquérito Policial Militar foi instaurado para apurar as circunstâncias em que se deram os fatos. Por se tratar, possivelmente, de um crime militar, o Comando da Força de Pacificação Maré determinou que a situação fosse totalmente esclarecida, com o máximo de rigor possível. Um Oficial Superior foi designado como encarregado deste IPM, que tem um prazo de até 60 dias para o seu término.

Importante ressaltar que a Força de Pacificação repudia veementemente este tipo de ação, assim como qualquer desvio de conduta, por estar totalmente em desacordo com o Estado Democrático de Direito, com as leis vigentes e com as regras de engajamento estabelecidas para a operação, segundo as quais a força até poderá ser empregada ao se efetuar uma prisão ou apreensão, porém a mínima necessária, dentro dos princípios da proporcionalidade e progressividade.

O militar foi afastado de suas funções e após o término do inquérito, poderá ficar à disposição da Justiça Militar para os trâmites legais.”

quarta-feira, 21 de maio de 2014

MILITARES DE SANTA MARIA VÃO PARA O RIO REFORÇAR A SEGURANÇA NA COPA

Militares de Santa Maria vão para o Rio reforçar a segurança na Copa Jean Pimentel/Agencia RBS

ZERO HORA 21 de maio de 2014 | N° 17803


GABRIELA PERUFO | DIÁRIO DE SANTA MARIA

Setecentos militares irão reforçar a operação para a pacificação do complexo da Maré


Para reforçar a missão de pacificar o complexo de favelas da Maré, 700 militares embarcaram ao meio-dia dessa terça-feira de Santa Maria, em 19 ônibus, com destino ao Rio de Janeiro.

Da tropa de 2,5 mil militares e fuzileiros navais que compõe a Força de Pacificação, cerca de 800 integram a 3ª Divisão do Exército, com sede em Santa Maria. Os outros que participam da operação São Francisco 2 já estão no Rio.

– Foram sete semanas e meia de treinamento para a missão de pacificação. Essa intervenção na segurança pública é um trabalho totalmente diferente, é uma necessidade para manter a ordem. Eles só devem responder ao fogo na iminência de sofrer baixa – explica o comandante militar do Sul, general Antônio Martins Mourão.

Os militares devem dispor de equipamentos de alta tecnologia durante a missão: além dos blindados Guaranis, terão mísseis mais ágeis e fuzis com miras holográficas. A missão no complexo da Maré – que reúne 15 favelas e onde moram quase 130 mil pessoas – será até 31 de julho (veja no quadro).

DESPEDIDA E EMOÇÃO NO ADEUS A FAMILIARES

Uma solenidade marcou a despedida do grupo na terça-feira, no 29º Batalhão de Infantaria Blindado. Na ocasião, os familiares puderam se despedir dos militares.

A pequena Maria Luiza, quatro anos, não economizou nos beijos e abraços ao pai, o segundo sargento Adriano Soares da Silva. Acompanhada da mãe, Daiana Portella, 32 anos, a menina tirou várias fotos antes da viagem.

Aline Pacheco, 18 anos, também aproveitou o momento para fazer fotos ao lado do marido, Lairson de Moraes Charão, 22 anos. Ela está grávida de um mês do primeiro filho do casal.

– A gente ainda não sabe direito como vai ser para se falar, mas vou ficar esperando contato dele por telefone e pela internet para matar a saudade – afirma.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

FORÇAS ARMADAS PREPARAM PLANO DE SEGURANÇA


Do G1 RS M16/05/2014 12h22

Forças Armadas preparam plano de segurança com 3,6 mil homens no RS. Do número total de homens, 2,9 mil são do Exército e atuarão na Copa. Ações estão sendo articuladas há dois anos, diz general durante coletiva.

Rafaella Fraga



Operação das Forças Armadas atuará durante a Copa do Mundo em Porto Alegre (Foto: Rafaella Fraga/G1)

Pelo menos 3,6 mil homens das Forças Armadas atuarão no Rio Grande do Sul durante a Copa do Mundo. A cidade recebe cinco partidas do Mundial entre junho e julho deste ano. A informação foi divulgada durante uma coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira (16) em Porto Alegre. Do número total, 2,9 mil militares são do Exército.

As Forças Armadas elaboraram um plano de segurança que prevê atuação em 10 setores estratégicos, divididos entre Marinha, Exército e Aeronáutica. "Nossas ações serão completas. Por terra, ar e mar", resumiu ao G1 o general de divisão Manoel Luiz Narvaz Pafiadache, coordenador de Defesa de Área de Porto Alegre.

As ações englobam desde o controle do espaço aéreo, que inclui a restrição de voos uma hora antes e ate três horas deois dos jogos, até patrulhamento contra ameaças químicas, biológicas e nuclear, monitoramento das fronteiras e segurança cibernética. Além disso, toda a extensão do Guaíba, ao lado do estádio Beira-Rio, palco das partidas na capital gaúcha, será patrulhada por navios e embarcações da Marinha.

O plano está sendo articulado para o evento há dois anos, ao lado de outras autoridades do estado. "O que me dá muita tranquilidade em Porto Alegre é que aqui tivemos uma integração entre as autoridades de segurança e a administração, governo municipal e governo estadual. Tivemos reuniões mensais para garantir que esse trabalho conjunto ocorra da melhor maneira possível", apontou o general.

Outra área que terá atenção especial das Forças Armadas são as chamadas estruturas estratégicas. Tratam-se de instalações e serviços fundamentais para a realização da Copa como telecomunicações e abastecimento de água e luz. "Imagina se cai a luz em meio a um dos jogos. O trânsito a redor fica impraticável, já que não haverá sinaleiras em funcionamento, por exemplo. E no inverno em Porto Alegre, fim de tarde já é escuro", comentou o general de Brigada Fernando José Soares da Cunha Mattos, chefe do Estado-Maior Cnjunto e Porta-Voz do Centro de Coordenação de Defesa de Área.

Militares do interior do estado foram convocados a integrar a equipe de operação no Mundial. Os soldados de São Gabriel, Cachoeira do Sul, Pelotas, Rio Grande, São Leopoldo e Sapucaia do Sul se apresentam na base de Porto Alegre no próximo domingo (18). Por uma semana, eles participarão de uma série de treinamentos, que fazem parte do último estágio de preparação para o evento esportivo.

O Ministério da Defesa recomenda que as tropas estejam à disposição 48 horas antes da chegada da primeira seleção à cidade-sede. Ou seja, no dia 6 de junho, os 3,6 mil homens das Forças Armadas estarão em Porto Alegre aptos a atuar. A previsão é que a delegação do Equador, que ficará hospedada no Hotel Vila Ventura em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre durante todo o período do Mundial, chegue ao estado no dia 8 de junho. A operação militar da Copa do Mundo vai até 30 de junho, podendo ser prorrogada.

Eventual participação em protestos

Preocupação recorrente das autoridades de segurança, as tropas do Exército, apesar de não estarem permanentemente nas ruas, ficarão de prontidão para atender situações de emergência e crise. Esses militares podem ser acionados pelo governador do estado e pela Presidência da República para assegurar a ordem pública e o funcionamento de serviços essenciais.

No caso da operação da Copa do Mundo, dois eixos, a Força de Contingência e setor de Prevenção e Combate ao Terrorismo, só atuarão caso o governador Tarso Genro solicite apoio à presidente Dilma Rousseff. Por exemplo, se for necessário interferir em eventuais protestos mais violentos. "A Brigada Militar cuidará das manifestações e nós vamos agir caso seja pedido. A preocupação é natural da segurança pública. E nós também temos a nossa preocupação", completou. "Naturalmente que nós nos preocupamos para uma eventualidade. Não queremos atuar [nas manifestações]. E até achamos que, em princípio, nós não seremos empregados", ponderou

PARA A COPA, 57 MIL HOMENS TREINADOS



ZERO HORA 16 de maio de 2014 | N° 17798



GUILHERME MAZUI | BRASÍLIA


ENTREVISTA


JOSÉ CARLOS DE NARDI
Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas


"Temos 57 mil homens treinados"


Durante cada jogo da Copa do Mundo no Beira-Rio, pelo menos dois caças e um avião-radar cruzarão os céus de Porto Alegre. A artilharia antiaérea estará pronta, embarcações guarnecerão o Guaíba, em uma operação que poderá mobilizar 3,6 mil militares.

A complexa estratégia de defesa, que se repetirá em todas as sedes do Mundial, tem a coordenação do general José Carlos De Nardi, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Gaúcho de Farroupilha, conselheiro colorado, ele comanda 57 mil militares – entre Exército, Marinha e Aeronáutica –, distribuído pelo país para garantir uma Copa segura.

Desde 2011 debruçado sobre o Mundial, De Nardi é um dos mentores das ações que envolvem Forças Armadas, Polícia Federal, policiais estaduais e Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Cinco estrelas reluzentes no peito e dezenas de condecorações no currículo, o general recebeu Zero Hora com o chimarrão servido para uma entrevista em seu gabinete, no Ministério da Defesa, em Brasília. Confira os principais trechos.

O Brasil tem condições de realizar a Copa com segurança?

Com a experiência adquirida na Rio+20, na Copa das Confederações e na visita do Papa (Jornada Mundial da Juventude), creio que teremos uma Copa tranquila. A segurança pública e a defesa estão em boas condições. A preparação começou em 2011, em um triunvirato que inclui Casa Civil, Ministério da Defesa e Ministério da Justiça. Temos 57 mil homens treinados e mobilizados para Copa.

O país não tem histórico de atos terroristas. Algo tira o sono do senhor?

Acho difícil uma ação terrorista, o Brasil é um país amigo, um país de paz, não tem grandes dificuldades com outras nações. O que me preocupa é o lobo solitário, esse ninguém pode detectar.

O que seria um lobo solitário?

É o caso da Maratona de Boston, algum maluco. Não tem serviço secreto que possa detectar. Essa é a preocupação maior. A Abin tem feito relatórios muito positivos, no sentido de que é difícil que ocorra algo de grande porte. Agora, as Forças Armadas tem de estar preparadas.

A defesa preparou ações especiais contra o terrorismo?


No estádio, a segurança é privada, é da Fifa. Ninguém vai ver árbitro deixando o campo escoltado por escudos da polícia militar. Teremos no estádio um pelotão especial e homens treinados em ações contra terrorismo e ameaças químicas, todos escondidos. Fora do estádio, as polícias militares farão a segurança, com média de 2 mil militares das forças de contingência próximos, prontos para entrar em ação se for necessário.

Qual será o aparato no Beira-Rio?

Além das forças de contingência, haverá militares guarnecendo estruturas estratégicas, como redes de telefonia, energia e água. Estarão espalhados por Porto Alegre. Durante cada jogo no Gigante, pelo menos dois caças vão voar sobre o estádio e um avião-radar vai estar acima deles para captar ameaças. Ainda teremos helicópteros no solo, prontos para decolar. A Marinha também vai guarnecer o Guaíba.

As manifestações preocupam?

As manifestações ficam sob responsabilidade da segurança pública, com as polícias militares nos Estados. As Forças Armadas estão treinadas, haverá forças de contingência, mas o emprego de militares só acontecerá se o governador solicitar à presidente e ela autorizar.

As polícias militares têm condições de garantir a segurança?

As polícias militares estão tão especializadas que, na Copa das Confederações, não tivemos nenhuma tropa federal atuando contra distúrbios, e acredito que não teremos agora. De qualquer maneira, as Forças Armadas estão prontas.

Na Copa das Confederações ocorreram confrontos fora dos estádios.

Assisti a quase todos os jogos, entrar no estádio foi a maior tranquilidade. O pessoal vai para ver jogo. A baderna era fora. Nossa preocupação é com 15 Estados, porque, além das 12 sedes, há centros de treinamento no Espírito Santo, Alagoas e Sergipe.

Os governadores terão auxílio para definir o pedido de reforços?

Sim, e a resposta precisa ser rápida. Criamos centros de coordenação de defesa nas 12 cidades-sede, comandados por nove generais, dois almirantes e um brigadeiro. Juntos com os secretários de segurança e a Polícia Federal, eles tomarão decisões e darão auxílio aos governadores.

Os responsáveis nas sedes ficarão nos estádios?

Na Copa das Confederações, estava pegando fogo lá fora e teve secretário de segurança dentro de estádio dizendo que estava tudo bem. Agora, é uma determinação: os responsáveis pela segurança e defesa nas sedes vão ver os jogos reunidos em centros de operações. Já disse para o Michels (Airton, secretário de segurança gaúcho) comprar uma boa televisão, porque ele não vai assistir aos jogos no estádio.

Em quais áreas os militares atuarão?

Há uma divisão de tarefas. As Forças Armadas vão cuidar de diversos eixos, como defesa do espaço aéreo, segurança cibernética e defesa de estruturas estratégicas. Se for preciso atuar em outra área, como portos e aeroportos, estaremos prontos.

Haverá operações nas fronteiras?

Já está em andamento a Operação Ágata, que patrulha toda faixa de fronteira do Brasil para inibir a entrada de drogas e armamentos. No Rio Grande do Sul, em vésperas de jogos, a ideia é que a Brigada Militar faças barreiras para ônibus nas cidades de fronteira. Intensificamos inspeções em minas de explosivos, para aumentar o controle dos depósitos. O Rio Grande do Sul é um Estado com histórico de ataques a banco no Interior.

Alguns jogos demandam cuidados extras na segurança?

Com base em trabalho de inteligência, montamos um mapa de jogos de risco, mas não posso revelar a lista. Jogos de países como Estados Unidos sempre geram cuidados especiais.

Jogadores badalados, como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, terão segurança especial?

Aparato VIP só para o presidente e o secretário da Fifa (Joseph Blatter e Jérôme Valcke) e chefes de Estado. As delegações terão segurança total. Se algum jogador quiser ir para a noite, vai ter de tratar com o chefe da sua delegação.

Para Messi haverá reforço na segurança em Porto Alegre?

Pela determinação da Fifa, cada seleção chega à cidade do jogo 48 horas antes da partida e sai em até 24 (horas). Cada hotel de delegação terá um centro pequeno de operações, com um delegado. O tamanho do aparato depende da decisão do chefe da delegação argentina e do centro em Porto Alegre.



quinta-feira, 15 de maio de 2014

EXÉRCITO NO LUGAR DOS POLICIAIS MILITARES EM GREVE

FOLHA.COM 15/05/2014 11h37


'Vou manter a segurança, custe o que custar', diz governador de PE

CRISTINA CAMARGO



Em meio à paralisação dos policiais militares e de saques em diferentes pontos da Grande Recife, o governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSB), afirmou nesta quinta-feira (15) que vai manter a ordem no Estado "custe o que custar". A afirmação foi feita durante entrevista de 15 minutos à Rádio Jornal, do Recife.

A menos de um mês da Copa, Lyra enfrenta uma greve da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Homens da Força Nacional de Segurança já estão na capital, e tropas do Exército devem desembarcar a qualquer momento.

Lyra disse que as negociações com os PMs foram feitas e não houve recusa ao diálogo por parte do governo. Para ele, alguns dos líderes grevistas quebraram acordo que havia sido feito com o governo durante a negociação.

Ainda durante a entrevista, o governador disse que, enquanto a paralisação persistir, o Exército e a Força Nacional vão comandar a segurança no Estado. "Lamento profundamente que pseudos líderes façam com que Pernambuco passe por essa situação", disse Lyra.

Na quarta-feira (14), Lyra Neto manteve a decisão de reajustar os salários dos PMs e bombeiros militares em 14,55% a partir de junho. Ele diz ser impossível conceder os reajustes de 50% para praças e 30% para oficiais, como querem os grevistas. O governador argumenta que a legislação eleitoral não permite a concessão de benefícios no período de 180 dias antes da eleição.

Pelo mesmo motivo, ele disse também que não pode conceder o reajuste no vale-refeição. A categoria exige aumento de de R$ 154 para R$ 500 no benefício. Segundo o governo de Pernambuco, as administrações de São Paulo e Bahia também concederam os reajustes antes do prazo estabelecido pela lei.

O governo pernambucano se comprometeu a atender outros pontos reivindicados como melhorias no hospital da PM, incorporação da gratificação por "atividade de risco operacional" ao salário, quando militar for para reserva, e ajustes dos critérios de promoção por meio de uma comissão formada por membros indicados pelos militares, representantes do Legislativo e do Executivo até 30 de julho.

Editoria de Arte/Folhapress



"PEDIDO DE AJUDA"

O governador de Pernambuco telefonou na quarta-feira (14) para seus colegas de São Paulo e da Bahia para entender como eles fizeram para por fim a paralisações de PMs em seus Estados. Lyra consultou Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Jaques Wagner (PT-BA). O governador paulista enfrentou ameaça de greve em outubro do ano passado e ofereceu reajuste de 7% para a categoria.

Já o governador baiano enfrentou três dias de greve em abril deste ano. A paralisação só terminou depois que o governo concedeu aumento da Gratificação por Condições Especiais de Trabalho (CET) dos praças na proporção de 25% para as funções administrativas, 45% para as operacionais, 65% para os motoristas e Regime de Tempo Integral (RTI) para os oficiais, com atualização da lei.

Na região metropolitana do Recife, ao menos sete homicídios ocorreram entre a noite de ontem e a madrugada desta quinta-feira (15) em um intervalo de sete horas. De acordo com a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa da capital pernambucana, os assassinatos ocorreram entre 18h de quarta e 1h de hoje, em locais diversos.

No mesmo período, uma onda de saques realizada na região resultou na detenção de ao menos oito adultos e três adolescentes. Um dia após a onda de arrastões e saques a lojas e caminhões em Abreu e Lima, na Grande Recife, as agências bancárias do município decidiram não abrir as portas nesta quinta. Estão fechadas agências de Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú e Bradesco.

As agências bancárias ficam na BR-101 Norte, que cruza Abreu e Lima, a cerca de 500 metros do local onde ocorreu a maioria dos saques. A informação sobre o fechamento das agências foi dada à Folha pelos gerentes das agências. Nenhum deles, porém, quis dar entrevista.

Greve da PM em Pernambuco

Após saques na cidade, agências bancárias de Abreu e Lima (Grande Recife) fecharam as portas nesta quinta-feira (15), em meio à greve dos policiais militares do Estado

GREVE ILEGAL

A Justiça de Pernambuco já declarou ilegal a greve e estabeleceu multa diária de R$ 100 mil para associações e movimentos militares.

"O governo continua aberto ao diálogo. Agora, antes de tudo, tenho a decisão e vou manter, custe o que custar, a segurança do povo pernambucano. Essa é a minha obrigação e o desejo do povo de Pernambuco", afirmou Lyra.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

UM BRASILEIRO NO CORAÇÃO DAS TREVAS

REVISTA ISTO É N° Edição: 2320 | 09.Mai.14


A dura missão do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, comandante da mais importante operação da ONU no mundo. Ele tem a tarefa de dar fim ao maior conflito armado desde a Segunda Guerra Mundial, com quase seis milhões de mortos

Por Yan Boechat (yan@istoe.com.br) (textos e fotos), enviado especial ao Congo



As primeiras horas da manhã da quinta-feira 17 de abril estavam especialmente quentes na densa floresta que serve de fronteira natural entre a República Democrática do Congo e Uganda. Antes de se embrenhar pela vereda de terra entre as árvores, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz retirou o colete à prova de balas e o capacete. ?Se algo acontecer, é preciso ser ágil?, explicou. ?O caminho é perigoso, as emboscadas são comuns.? O general tinha usado esse equipamento de mais de 15 quilos, capaz de segurar balas de fuzil AK-47, durante todo o trajeto de 40 quilômetros entre o batalhão da ONU na cidade de Beni e a trilha que o levaria a uma base rebelde conquistada pelo Exército congolês uma semana antes.



Santos Cruz vestia a farda camuflada das Forças Armadas brasileiras. No ombro esquerdo, a bandeira do Brasil. No direito, a palavra ?comandos?, que em todo o mundo militar carrega o mesmo significado: ali está um soldado das tropas de elite, um cara durão, preparado para sobreviver na adversidade. Três pequenas estrelas costuradas nas pontas do colarinho o distinguem como um general de divisão. Além do FAL, o fuzil usado pelo Exército brasileiro há quase três décadas, Santos Cruz levava uma pistola Glock 9mm no coldre colado à coxa direita.

À medida que avançava, o acesso no terreno úmido da floresta tropical a poucos quilômetros ao sul da linha do Equador ia se estreitando. O sol logo desapareceu sob a copa das árvores. Santos Cruz teve a sensação de que estava na Amazônia. ?É igual ao Brasil, não muda nada?, disse. Na longa marcha até a principal base conquistada do grupo inimigo, a paisagem dava ideia de como havia sido o combate: troncos perfurados por tiros, árvores derrubadas pelo impacto das RPGs, o chão coberto por um tapete metálico de cápsulas deflagradas. Cartazes escritos à mão indicavam a localização de minas e explosivos. Um pouco mais adiante, covas rasas ao lado da trilha ainda exalavam o cheiro forte dos corpos recém-enterrados pelos vencedores. ?Muitos foram queimados, outros enterramos aqui mesmo, é menos trabalho?, explicou um soldado congolês ao lado do amontoado de terra fofa onde as moscas tentavam encontrar caminho para chegar aos restos putrefatos dos inimigos.



Foram três horas de uma caminhada tensa. Com os rebeldes ainda a poucos quilômetros dali, o risco de uma emboscada não recomendava pausas para descanso. A tropa só parou ao chegar a Medina, um vilarejo improvisado no meio da floresta que o grupo radical islâmico ADF usava como uma de suas maiores bases no Congo. Logo começaram a surgir da floresta centenas de soldados. Sujos e cansados, carregando colares de munição e armamento pesado, eles saudavam Santos Cruz. Pela primeira vez, viam naquele front de batalha um militar tão graduado da ONU. O general brasileiro apertou a mão dos oficiais que combateram os rebeldes islâmicos. Aos soldados, distribuiu cigarros congoleses baratos, comprados a US$ 1 o maço.

?Force Commander?

No Congo, a patente de Santos Cruz importa menos que seu cargo na hierarquia militar da ONU. Ele é o comandante-geral da Monusco, a maior e mais importante missão das Nações Unidas no mundo, com um contingente de mais de 22 mil homens de 20 diferentes países e orçamento anual de quase US$ 1,5 bilhão. É uma missão histórica, em que o conceito de manutenção da paz foi alterado para imposição da paz. Não se trata apenas de semântica. Os capacetes azuis, pela primeira vez desde 1948, têm autorização para caçar, prender e matar aqueles que o Conselho de Segurança considerar inimigos. Na prática, isso significa que os soldados das Nações Unidas podem dar o primeiro tiro, tornando-se, assim, uma força de agressão ? a primeira desde a criação da organização.

O militar brasileiro foi indicado e responde ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e ao Conselho de Segurança. No Congo, ele divide o comando da missão com um representante civil, o alemão Martin Kobler. São os dois que têm, ao menos oficialmente, a última palavra em qualquer decisão, militar e civil. A guerra no Congo dura quase 20 anos e já deixou cerca de 5,5 milhões de pessoas mortas. Nenhum outro conflito armado matou tantos seres humanos desde a Segunda Guerra Mundial.

Apesar de ser o primeiro brasileiro a comandar forças militares de agressão desde a campanha da FEB na Itália, um ano e pouco atrás, em Brasília, onde mora, Santos Cruz estava mais preocupado com caminhões-pipa no Nordeste brasileiro do que com guerrilheiros africanos. O general foi compulsoriamente para a reserva em 2012, ao ser preterido para ascender à patente de general de exército. Com a carreira militar encerrada, trabalhava na divisão militar da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, em Brasília, cuidando de assuntos como a participação do Exército na distribuição de água potável em regiões afetadas pela seca. ?Eu havia abandonado a farda, estava lá, engravatado, num gabinete da Esplanada, quando recebi, em março de 2013, uma ligação de Nova York?, contou ele à ISTOÉ no mês passado, enquanto comia com as mãos uma coxa de galinha frita na cantina do quartel-general da ONU em Goma, a capital da província do Kivu do Norte, onde estão concentrados 95% dos capacetes azuis no país. ?Foi uma surpresa , mas não demorei três segundos para aceitar aquele convite inesperado.?


ATIVO
Santos Cruz viaja pelo menos três vezes por semana a regiões
isoladas do leste do Congo; em casa, gosta de assistir
aos telejornais da rede de tevê Al Jazeera

Santos Cruz é um homem que ri pouco. Natural da cidade de Rio Grande, no litoral gaúcho, o general aparenta ter bem menos que os 62 anos que vai completar no dia 1º de junho. Mantém seus 74 quilos com uma rotina de atleta. Corre dez quilômetros, dia sim, dia não, e segue um programa rígido de exercícios físicos. O sotaque forte dos gaúchos se foi faz tempo, assim como o hábito de tomar chimarrão. O militar deixou o Rio Grande do Sul aos 15 anos, quando foi aceito na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas, em 1968. ?O que ficou foi a paixão pelo Internacional de Porto Alegre?, diz ele. Toda vez que seu time vence o Grêmio, Santos Cruz liga para um irmão torcedor do rival.

Em Goma, o general brasileiro vive em uma confortável casa de dois quartos, próxima do quartel-general da ONU, que divide com um alto funcionário civil das Nações Unidas. Dois brasileiros fazem a escolta pessoal do general e um grupo de seis soldados das forças especiais uruguaias, equipados com fuzis FAL e uma caminhonete com uma metralhadora Mag instalada na carroceria, completam o time da segurança. Se ele está em casa, os uruguaios fazem patrulha em frente ao seu portão. Se ele se desloca, lá estão os mesmos soldados cercando seu veículo. O general não dá um passo sem que ao menos oito homens estejam acompanhando seus movimentos.

Carlos Alberto dos Santos Cruz, casado, três filhos e avô de um menino, fez uma carreira típica no Exército brasileiro. Poucos anos depois de graduar-se na Academia Militar das Agulhas Negras, em 1974, seguiu para o que parece ser a obsessão dos militares nacionais: a Amazônia. Lá se tornou um especialista em guerra na selva. Nas duas décadas seguintes, sempre esteve, de uma forma ou de outra, próximo da floresta. Comandou pelotões de fronteira na região Norte e um batalhão de infantaria em Mato Grosso. Não à toa, dos seis brasileiros que lhe prestam assistência direta no Congo, quatro são especialistas em guerra na selva ou têm experiência na Amazônia.



Agressividade

A grande virada na carreira do general veio em 2006, quando foi apontado como o chefe militar da missão da ONU no Haiti. Foi por conta de sua ação enérgica na tomada da favela Cité Soleil, um enclave de criminosos em Porto Príncipe, a capital do país, que o general brasileiro chamou a atenção dos burocratas das Nações Unidas. Quase 40 dias de batalha ? com baixas civis duramente criticadas por organizações humanitárias ? garantiram a tomada do local pelas tropas da Minustah, majoritariamente brasileiras. Ao final do período em que liderou a missão, a ONU pediu ao Brasil que mantivesse Santos Cruz no comando da operação por pelo menos mais um ano. O Exército, no entanto, recusou o pedido e o general gaúcho retornou ao País. ?A atitude agressiva e a determinação em agir e correr riscos foram determinantes para que seu nome fosse lembrado em Nova York. Ele está aqui no Congo por causa do Haiti e não pela influência política do Brasil no Conselho de Segurança?, diz um experiente analista de inteligência das Nações Unidas.

No amplo complexo militar e civil que a ONU montou em Goma para ser o quartel-general de sua missão no Congo, Santos Cruz é um dos poucos oficiais a andar armado o tempo todo. A pistola 9mm sempre está ao alcance da mão e, por onde se desloca, carrega o fuzil FAL de fabricação argentina que pegou emprestado do batalhão uruguaio instalado na cidade. Mesmo em seu escritório ? uma sala simples, de cerca de seis metros quadrados, instalada em um contêiner ?, invariavelmente o fuzil está encostado na parede, ao lado de sua cadeira. ?Ele gosta de manter essa imagem, mostrando aos soldados que, mais que um general, é um soldado como todos eles?, diz o major Pethias Mdoka, do Exército Malaui, que atuou diretamente com o brasileiro no último ano.



Santos Cruz chegou ao Congo em julho de 2013, num momento de fragilidade da missão. Após quase 15 anos atuando no país, a ONU tinha sofrido sua maior derrota e humilhação havia poucos meses. Em novembro de 2012 um grupo rebelde supostamente financiado por Uganda, o M23, derrotou o Exército congolês, invadiu Goma e forçou os capacetes azuis a se refugiarem nos quartéis, deixando a população civil à mercê dos invasores. Foi a partir dessa derrota que as Nações Unidas decidiram criar uma força especial de ataque, a Force Intervention Brigade (FIB), e dar carta branca para o ataque. Santos Cruz recebeu a missão de expulsar o M23 de Goma, retomar a cidade e reconquistar a confiança da população e da comunidade internacional na ONU.

A grande batalha

Na longa planície que liga Goma ao vilarejo de Kibati, o primeiro foguete disparado por um lançador Katiuscha de fabricação russa caiu cerca de 400 metros abaixo da trincheira escavada no topo do pequeno morro em que Santos Cruz observava a movimentação das tropas. O segundo, 400 metros atrás. ?Foi uma ação típica de ajuste de tiro da artilharia. Eles sabiam que estávamos lá e tentavam nos acertar?, contou o general. A terceira explosão aconteceu a menos de 30 metros. Deitados na trincheira, os militares puderam ouvir os estilhaços voando sobre suas cabeças. Em seguida, o M23 passou a atingir a periferia de Goma, logo atrás da elevação onde estava Santos Cruz. ?Foi naquele momento que decidi atacar e ordenei que nossos helicópteros e nossa artilharia abrissem fogo contra eles.?

Naquela tarde do dia 21 de agosto de 2013, pela primeira vez na história, a ONU abandonou sua política de isenção e neutralidade e partiu para o ataque, apoiando o Exército congolês tanto com artilharia e fogo aéreo quanto com homens no solo. ?Foi uma batalha intensa, com centenas de mortos e com características muito semelhantes àquelas da Segunda Guerra Mundial?, disse o general. Da trincheira, observando o avanço das tropas e os disparos de artilharia, vieram-lhe à cabeça velhos filmes da Segunda Guerra. ?E de repente eu estava lá, como um dos personagens, participando daquele filme?, contou ele.



Logo no primeiro dia de combate, com foguetes e morteiros explodindo a poucos metros da base de comando, Santos Cruz começou a forjar a imagem do general que gosta de estar no campo de batalha. ?Ele mostrou que não é um político, que não aceita ficar no escritório e trata os soldados de igual para igual?, disse à ISTOÉ o general tanzaniano James Mwakibolwa, que atuou na defesa de Goma. Ao longo de toda a campanha contra o M23, o general brasileiro esteve no front. Hoje, ao menos três vezes por semana, vai de helicóptero às áreas mais remotas do leste do Congo para ver de perto como estão sendo conduzidas as operações contra as dezenas de grupos armados que permanecem ativos na região. Para muitos na ONU, Santos Cruz se expõe em excesso. ?Esse não é o papel de um general, de um ?force comander?. Ele é um alvo muito valioso e parece fazer isso apenas para criar uma imagem de durão?, critica um oficial indiano. Já Santos Cruz tem uma explicação mais singela. ?Eu poderia dizer que vou ao front por questões estratégicas, para incentivar meus homens ou mesmo para dar a impressão à população local de que a ONU se importa com ela?, disse o general pouco antes de embarcar em um helicóptero Orix a caminho de uma vila atacada em meados de abril por um grupo rebelde. ?Tudo isso é verdade, mas o que me leva mesmo ao front é o fato de que eu gosto muito de estar lá, de estar perto dos soldados. Eles me dão coragem e me rejuvenescem.?

A batalha de Goma durou sete dias e forçou o M23 a recuar. A cidade estava liberada e em dois meses o grupo rebelde financiado por Uganda, um dos mais bem armados da região, foi derrotado. ?Santos Cruz chegou ao Congo com uma atitude absolutamente distinta da de todos os outros comandantes que estiveram por lá na última década, uma atitude muito proativa. É claro que essa não é a solução para todos os problemas, mas, sem dúvida, trouxe mudanças?, diz Jason Stearns, autor do aclamado ?Dancing in the Glory of Monsters: The Collapse of the Congo and the Great War of Africa? (Dançando pelos Monstros: o Colapso do Congo e a Grande Guerra da África), ainda não publicado no Brasil.



A guerra do Congo é um conflito complexo, com muitos atores e interesses econômicos e geopolíticos variados. Seu início tem raízes no genocídio perpetrado pela etnia hutu contra os tutsis, em Ruanda, há 20 anos. A matança desestabilizou toda a região dos Grandes Lagos Africanos, no centro do continente, e dragou para a guerra seis países ? Ruanda e Uganda, de um lado, e Congo, Tanzânia, Zimbábue e Angola, do outro. O Congo foi o palco de todas as batalhas do que ficou conhecido como a Grande Guerra Africana.

Oficialmente, o conflito terminou com um acordo de paz em 2002. Com o país destruído, com a absoluta ausência do Estado e uma diversidade de riquezas em uma vasta área sem controle e lei, dezenas de grupos armados passaram a dominar regiões inteiras do país. Desde então, o leste do Congo vive uma guerra sem-fim, com milícias lutando entre si, contra o próprio Exército congolês e contra exércitos estrangeiros, como as Forças Armadas de Ruanda, que ainda caçam os hutus responsáveis pelo genocídio de 20 anos atrás. Os civis são as maiores vítimas. Estima-se que até hoje entre 5,5 milhões e seis milhões de pessoas tenham morrido. Outros três milhões vivem em campos de refugiados. Dezenas de milhares de mulheres foram vítimas de estupros coletivos, que se tornaram uma arma de guerra.

Diante de um cenário tão complexo, Santos Cruz sabe que não será por meio de armas, tanques e helicópteros que a situação será resolvida. ?A saída sempre é política e passa pelo fortalecimento do Estado?, disse ele. ?Minha missão aqui é proteger os civis e desarmar os grupos rebeldes, que, na verdade, são apenas criminosos que se aproveitam da ausência do Estado. O problema não é étnico ou ideológico, como pode ter sido no início, há duas décadas. Hoje a razão desse conflito é econômica, porque esse é um dos países mais ricos do mundo.?

O Congo possui vastas reservas minerais. Estima-se que em seu subsolo esteja guardado algo como US$ 24 trilhões em ouro, cobalto, cobre, diamante e coltan, um mineral amplamente utilizado na produção de notebooks e celulares e do qual o país é o dono da maior reserva do mundo. Quase todos os grupos rebeldes que atuam no leste do país exploram essas riquezas e usam nações vizinhas para exportá-las para os Estados Unidos, Europa e Ásia. ?Não resta muito a Santos Cruz além de ser o homem corajoso desse show?, observou Fidel Bafilemba, um dos coordenadores da organização Enought Project, que acompanha de perto a crise congolesa há vários anos. ?Não há muito o que ele possa fazer sem que a comunidade internacional tome a decisão de parar de importar as riquezas minerais do Congo a preços baixíssimos, como ocorre hoje.?



A posição de Fidel não é muito diferente da de outros integrantes de entidades que atuam no país. A organização Médicos Sem Fronteiras, que mantém no Congo sua maior operação no mundo, também é bastante crítica ao novo papel que a ONU vem tendo no conflito. ?A decisão de abandonar o papel de neutralidade está comprometendo todo o serviço humanitário que tem sido desenvolvido aqui nos últimos anos?, diz Bertrand Perrochet, chefe da missão belga da Médicos Sem Fronteiras no Congo. ?A população não sabe mais se um helicóptero branco da ONU vai distribuir medicamentos ou balas.?

No início da tarde do sábado 19 de abril, o general Santos Cruz embarcou na caminhonete Land Cruiser blindada que tem à sua disposição para saborear um típico churrasco gaúcho no batalhão do Uruguai, o Urubatt. O quartel-general do contingente de mais de 700 soldados uruguaios fica nas proximidades do aeroporto de Goma e é uma espécie de segunda casa para o general e para os seis brasileiros que atuam diretamente como seus motoristas, auxiliares administrativos e seguranças. Nos 15 dias em que a reportagem de ISTOÉ acompanhou a rotina do militar brasileiro, Santos Cruz só foi capaz de soltar uma gargalhada nas duas vezes em que esteve no Urubatt. Ali parece ser o único lugar em que ele consegue relaxar. ?Eu respeito muito as ONGs, mas acho que muito mais poderia ser feito. Milhões e milhões são gastos aqui, mas não há coordenação, não se vê esse dinheiro sendo aplicado diretamente na melhoria do país.? Ele trata as críticas que recebe como meras especulações. ?Ainda não houve um caso concreto de problemas pela cor dos veículos ou helicópteros.?



Santos Cruz é presença constante nas festas mensais promovidas pelo batalhão do Uruguai e que atraem tanto militares quanto civis a serviço da ONU. Batizadas de Tango Bar, as noitadas são agitadas e a pista de dança, quase sempre animada com música latina, é incrementada pela sirene vermelha de um caminhão estacionado ao lado do bar montado para atender a clientela sedenta por momentos de descontração. Na última festa, organizada no dia 12 de abril, Santos Cruz vestia calça jeans, uma camisa social branca e um colete de lã vermelho. Aproveitou a pista de dança para descontrair.

Nas próximas semanas, Santos Cruz será oficializado pelo Conselho de Segurança da ONU como o escolhido para liderar a missão no Congo por mais um ano. Apesar de não confirmar, ele já foi consultado por Nova York se aceitaria ficar mais 12 meses à frente da Monusco ? e aceitou. ?Quando voltar para o Brasil, vou andar a cavalo?, conta ele, um praticante do Concurso Completo de Equitação, espécie de triatlo hípico responsável por matar quase uma dezena de cavaleiros no mundo todos os anos. ?O concurso completo é o esporte que mais se aproxima de uma batalha militar, você corre riscos o tempo todo e eu preciso disso para viver.?