GUILHERME MAZUI | BRASÍLIA
NO AR. A vitória é dos Caças suecos
Após quase duas décadas de estudos, interrupções e retomadas do programa de aquisição de caças supersônicos, o Brasil, enfim, definiu o modelo das novas aeronaves. A partir de 2018, as primeiras das 36 unidades do caça sueco Gripen NG devem cruzar o espaço aéreo do país.
A Força Aérea Brasileira (FAB) terá reforço da Suécia. Após a novela que se arrastou desde a década de 1990 e passou por três presidentes diferentes, o Brasil confirmou a compra de 36 unidades do caça militar supersônico Gripen NG, fabricado pela sueca Saab. O governo investirá US$ 4,5 bilhões (cerca de R$ 10,4 bilhões) na aquisição, pagos até 2023.
O Gripen superou a concorrência do americano Boeing F-18 e do francês Dassault Rafale. O anúncio do modelo vencedor foi feito ontem, em Brasília, pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, e pelo comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. Com a escolha, abre o prazo de negociação do contrato, que pode levar 12 meses. A entrega das primeiras aeronaves será 48 meses após a assinatura do termo, o que projeta para 2018 a chegada dos primeiros caças.
– A escolha levou em conta performance, transferência efetiva de tecnologia e custo, não só de aquisição, mas de manutenção. A opção baseou-se no melhor equilíbrio desses três fatores – explicou Amorim.
Batizada de Projeto F-X2, a compra dos novos aviões deverá atender por 30 anos as necessidades do país. Os atuais Mirage usados pela FAB serão aposentados. Até a chegada do Gripen NG, a defesa aérea ficará sob responsabilidade dos caças F5-M.
Capaz de voar duas vezes a velocidade do som, o Gripen pode realizar múltiplas missões, como controle, defesa e reconhecimento aéreo, além de ataques no ar, terra ou mar. Com carga plena de armas e combustível, conseguirá interceptar e destruir alvos em qualquer ponto do território nacional.
O modelo escolhido sofreu críticas por ter tamanho inferior aos dos concorrentes e por ainda não ter sido testado em combate real. Além disso, o NG só dispõe de um protótipo em fase de testes. Outros modelos do Gripen são usados por países como República Tcheca, África do Sul e Suécia.
– Um avião que opera no momento tem uma base tecnológica mais antiga em relação ao modelo que teremos – argumentou Amorim.
A transferência de tecnologia será feita diretamente da Saab para a Embraer, que terá participação na montagem dos caças. Outras empresas brasileiras também poderão ter envolvimento na produção. A Saab repassará ao Brasil o código-fonte de armas da aeronave, o que permitirá o uso de armamento nacional no Gripen.
– Quando terminar o desenvolvimento, teremos a propriedade intelectual do avião – destacou Saito.
Por enquanto, não há previsão de origem dos US$ 4,5 bilhões para compra dos caças – quadro que preocupa diante da dificuldade financeira das Forças Armadas. O período de discussão do contrato dá tempo à Aeronáutica para buscar a verba capaz de financiar a aquisição. Após o anúncio de ontem, a Boeing e a Dassault lamentaram a decisão brasileira.
NOVELA ARRASTADA - As idas e vindas de um negócio marcado por uma disputa acirrada
1994 - O Brasil começa a procurar interessados em oferecer um novo caça para substituir os Mirage e os F-5. No ano seguinte, FH lança o programa F-X.
2001 (jul) - FH anuncia programa de modernização da FAB, de US$ 3,5 bilhões em sete anos. O F-X é a prioridade, com US$ 700 milhões.
2001 (ago) - O edital é lançado, e o Brasil recebe ofertas de aviões Sukhoi, Mirage, F/A-18, F-16, MiG-29, Eurofighter e Gripen.
2002 (nov) - FH deixa decisão para o sucessor.
2003 (jan) - Com a posse de Lula na Presidência, o projeto é adiado pelo Planalto sob alegação de que combate à fome é prioritário.
2003 (out) - O processo é reaberto e fabricantes refazem propostas.
2005 (fev) - Os concorrentes recebem carta anunciando o fim do F-X.
2005 (abr) - Russos, suecos, americanos e franceses refazem propostas alternativas de compra ou aluguel.
2006 - A FAB começa a receber novas propostas para os caças, e o programa ganha o nome de F-X2.
2009 (set) - Lula anuncia a compra do Rafale, mas recua em seguida.
2009 (dez) - A FAB faz novo relatório, ajustado para aprovar todos os aviões, mas mantém preferência pelo Gripen.
2011 (jan) - Dilma assume a Presidência e adia a decisão sobre a compra.
2013 (mai) - A Boeing assina acordo com a Embraer para vender avião militar brasileiro, virando favorita ao negócio.
2013 (jul) - As revelações da espionagem americana derrubam politicamente as chances da Boeing.
O QUE PESOU NA DECISÃO
PRÓS - O Gripen tem a melhor relação peso/carga bélica entre os concorrentes. Baixo custo de operação. A compra possibilita acesso ao conhecimento da construção, que usa componentes de vários países. A Suécia é um país fora do eixo do Conselho de Segurança da ONU, portanto mais independente, e tem tradição de confiabilidade nas parcerias.
CONTRAS - O monomotor ainda causa dúvida em pilotos, que preferem bimotores. Não foi testado em combate real: fez missões de reconhecimento na Líbia, em 2011. Já o Rafale é usado em conflitos desde a Guerra do Golfo (1991). Há temor com prazos e fornecedores e dependência de outros países. A compra pode desencadear retaliações dos americanos e dos franceses.
NO AR. A vitória é dos Caças suecos
Após quase duas décadas de estudos, interrupções e retomadas do programa de aquisição de caças supersônicos, o Brasil, enfim, definiu o modelo das novas aeronaves. A partir de 2018, as primeiras das 36 unidades do caça sueco Gripen NG devem cruzar o espaço aéreo do país.
A Força Aérea Brasileira (FAB) terá reforço da Suécia. Após a novela que se arrastou desde a década de 1990 e passou por três presidentes diferentes, o Brasil confirmou a compra de 36 unidades do caça militar supersônico Gripen NG, fabricado pela sueca Saab. O governo investirá US$ 4,5 bilhões (cerca de R$ 10,4 bilhões) na aquisição, pagos até 2023.
O Gripen superou a concorrência do americano Boeing F-18 e do francês Dassault Rafale. O anúncio do modelo vencedor foi feito ontem, em Brasília, pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, e pelo comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. Com a escolha, abre o prazo de negociação do contrato, que pode levar 12 meses. A entrega das primeiras aeronaves será 48 meses após a assinatura do termo, o que projeta para 2018 a chegada dos primeiros caças.
– A escolha levou em conta performance, transferência efetiva de tecnologia e custo, não só de aquisição, mas de manutenção. A opção baseou-se no melhor equilíbrio desses três fatores – explicou Amorim.
Batizada de Projeto F-X2, a compra dos novos aviões deverá atender por 30 anos as necessidades do país. Os atuais Mirage usados pela FAB serão aposentados. Até a chegada do Gripen NG, a defesa aérea ficará sob responsabilidade dos caças F5-M.
Capaz de voar duas vezes a velocidade do som, o Gripen pode realizar múltiplas missões, como controle, defesa e reconhecimento aéreo, além de ataques no ar, terra ou mar. Com carga plena de armas e combustível, conseguirá interceptar e destruir alvos em qualquer ponto do território nacional.
O modelo escolhido sofreu críticas por ter tamanho inferior aos dos concorrentes e por ainda não ter sido testado em combate real. Além disso, o NG só dispõe de um protótipo em fase de testes. Outros modelos do Gripen são usados por países como República Tcheca, África do Sul e Suécia.
– Um avião que opera no momento tem uma base tecnológica mais antiga em relação ao modelo que teremos – argumentou Amorim.
A transferência de tecnologia será feita diretamente da Saab para a Embraer, que terá participação na montagem dos caças. Outras empresas brasileiras também poderão ter envolvimento na produção. A Saab repassará ao Brasil o código-fonte de armas da aeronave, o que permitirá o uso de armamento nacional no Gripen.
– Quando terminar o desenvolvimento, teremos a propriedade intelectual do avião – destacou Saito.
Por enquanto, não há previsão de origem dos US$ 4,5 bilhões para compra dos caças – quadro que preocupa diante da dificuldade financeira das Forças Armadas. O período de discussão do contrato dá tempo à Aeronáutica para buscar a verba capaz de financiar a aquisição. Após o anúncio de ontem, a Boeing e a Dassault lamentaram a decisão brasileira.
NOVELA ARRASTADA - As idas e vindas de um negócio marcado por uma disputa acirrada
1994 - O Brasil começa a procurar interessados em oferecer um novo caça para substituir os Mirage e os F-5. No ano seguinte, FH lança o programa F-X.
2001 (jul) - FH anuncia programa de modernização da FAB, de US$ 3,5 bilhões em sete anos. O F-X é a prioridade, com US$ 700 milhões.
2001 (ago) - O edital é lançado, e o Brasil recebe ofertas de aviões Sukhoi, Mirage, F/A-18, F-16, MiG-29, Eurofighter e Gripen.
2002 (nov) - FH deixa decisão para o sucessor.
2003 (jan) - Com a posse de Lula na Presidência, o projeto é adiado pelo Planalto sob alegação de que combate à fome é prioritário.
2003 (out) - O processo é reaberto e fabricantes refazem propostas.
2005 (fev) - Os concorrentes recebem carta anunciando o fim do F-X.
2005 (abr) - Russos, suecos, americanos e franceses refazem propostas alternativas de compra ou aluguel.
2006 - A FAB começa a receber novas propostas para os caças, e o programa ganha o nome de F-X2.
2008 (out) - A FAB mantém na disputa o Gripen, o F/A-18 e o Rafale.
2009 (jan) - Em relatório obtido pela imprensa, FAB dá preferência ao pacote do Gripen, fato que gera mal-estar.
2009 (set) - Lula anuncia a compra do Rafale, mas recua em seguida.
2009 (dez) - A FAB faz novo relatório, ajustado para aprovar todos os aviões, mas mantém preferência pelo Gripen.
2011 (jan) - Dilma assume a Presidência e adia a decisão sobre a compra.
2013 (mai) - A Boeing assina acordo com a Embraer para vender avião militar brasileiro, virando favorita ao negócio.
2013 (jul) - As revelações da espionagem americana derrubam politicamente as chances da Boeing.
O QUE PESOU NA DECISÃO
Brasil optou por acesso à tecnologia e baixo custo, mas há restrições
PRÓS - O Gripen tem a melhor relação peso/carga bélica entre os concorrentes. Baixo custo de operação. A compra possibilita acesso ao conhecimento da construção, que usa componentes de vários países. A Suécia é um país fora do eixo do Conselho de Segurança da ONU, portanto mais independente, e tem tradição de confiabilidade nas parcerias.
CONTRAS - O monomotor ainda causa dúvida em pilotos, que preferem bimotores. Não foi testado em combate real: fez missões de reconhecimento na Líbia, em 2011. Já o Rafale é usado em conflitos desde a Guerra do Golfo (1991). Há temor com prazos e fornecedores e dependência de outros países. A compra pode desencadear retaliações dos americanos e dos franceses.
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