domingo, 14 de julho de 2013

UM GENERAL BRASILEIRO NO COMANDO DE 20 MIL MILITARES DA ONU

ZERO HORA 14 de julho de 2013 | N° 17491

ZONA DE COMBATE

Verde-amarelo na África. A rotina de Carlos Alberto Santos Cruz, o general brasileiro que encabeça 20 mil militares da ONU na República Democrática do Congo

HUMBERTO TREZZI

Sem chimarrão, sem outros militares brasileiros para bater papo, com saudades de casa, mas com muita vontade de aprender – e de ensinar. Essa é a nova rotina do general Carlos Alberto dos Santos Cruz na República Democrática do Congo (RDC), onde é o novo Comandante da Força Militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização (Monusco).

Na reserva desde novembro, o general de divisão Santos Cruz desfrutava de um breve descanso quando, em abril, foi escolhido pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, para chefiar a mais espinhosa missão de paz da entidade. Ele substituiu em 17 de maio o general de divisão indiano Chander Prakash Wadhwa. Após um breve estágio em Nova York, o militar nascido em Rio Grande desembarcou na África e tem percorrido algumas das áreas de atuação das tropas, a fim de se familiarizar com a situação no terreno. Sempre cercado de seguranças, claro. Desde então, não retornou ao Brasil. Em conversa informal, comenta da saudade que sente do futebol, do frio e do churrasco.

– É como se fosse um outro planeta – resume ele, que não é novato em tarefas espinhosas.

Santos Cruz foi o comandante das forças da ONU no Haiti entre 2006 e 2009, chefiando mais de 12 mil homens – o general brasileiro que mais tempo ficou no posto.

A diferença é que, no Haiti, ele atuou num país quase pacificado. Já o RDC (ex-Zaire), nação de 75 milhões de habitantes, está em guerra civil há mais de 15 anos, tempo de existência da missão. O objetivo das forças da ONU é proteger a população civil, que sofre com a ação de grupos rebeldes e milícias étnicas da região da África Central. A missão do Congo também tem uma particularidade: pode intervir no conflito. Ao contrário das demais, nesta os soldados podem realizar operações para prender rebeldes. É o maior contingente de capacetes azuis no momento: envolve cerca de 20 mil pessoas, incluindo aí 1,4 mil policiais e outros 4,5 mil civis.

Dez anos e mais de 4 milhões de pessoas mortas

Está longe de ser uma moleza, descreve. O Conselho de Segurança da ONU criou uma Brigada de Intervenção dentro da Monusco com o objetivo de combater os grupos armados. Ela atua em Goma, no leste, cidade de clima ameno, pouco mais quente que o do Rio Grande do Sul. Ali fica concentrado 95% do efetivo, com tropas também espalhadas em Burnia e Bukavu. A missão deles é impedir a ação de mais de 50 grupos rebeldes, “que cometem crimes absurdos contra a população”, descreve Santos Cruz. No país, nos últimos 10 anos, estima-se que morreram, em consequência de conflitos, de 4 a 5 milhões de pessoas. Isso é mais que as perdas de vidas em todos os outros conflitos do mundo, somados, no mesmo período.

Esse local é o novo lar do general gaúcho, por tempo indeterminado. Mediar as forças em conflito é sua tarefa. São reuniões, dias a fio. Num intervalo de andanças por aquele país, Santos Cruz arranjou tempo de conceder entrevista a Zero Hora, por e-mail.


A PRINCIPAL GUERRILHA

- M23 (Março 23) nasceu em abril de 2012 e é o principal grupo rebelde, formado por soldados regulares do exército que se rebelaram contra o presidente Joseph Kabila, ex-rebelde.

- A guerrilha está armada, inclusive, com canhões leves, armas antitanques e bazucas.

- Em novembro, tomou porções do país e sitiou Goma. Mais de 2 mil soldados e 700 policiais desertaram e se uniram ao M23.

- Os guerrilheiros se retiraram no final do ano, mas a luta continuou.

- Em 20 de maio, 15 rebeldes e quatro militares morreram em confronto.

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